Telefonaram-me de Bangui, o que deu para recordar os anos que vivi nessa cidade, de 1985 a 1989, bem como as responsabilidades mais recentes, em matérias de segurança e protecção humanitária, que me faziam estar no país uns dias em cada mês, entre 2008 e 2010. Conheço bem a terra e as gentes.
A República Centro-Africana é um dos países "esquecidos" pela opinião pública internacional. A ONU continua,no entanto, a manter uma presença importante e a contribuir para a estabilização política e a democracia.
Ainda existem, por outro lado, algumas famílias portuguesas, o que resta das muitas que haviam nessas paragens.
A Síria continua no topo da ordem do dia. Os combates em Alepo estão a criar uma situação humanitária grave. E os observadores da ONU foram ontem alvos de tiros, em Damasco, disparados pelas forças regulares.
A Comunidade de Santo Egídio lançou, entretanto, um apelo em Roma para uma solução negociada da crise. Uma saída política. Ainda não tive a oportunidade de estudar o comunicado final com algum pormenor. Mas, vale a pena vê-lo com atenção. Santo Egídio é uma instituição que tem muita influência e experiência em matéria de guerras civis.
Por outro lado, o meu texto na Visão continua a atrair um certo número de comentários. É bom sinal. O debate faz parte da procura de soluções, mesmo quando as opiniões parecem muito fora de jogo.
A abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Londres foi um espectáculo invulgar, com momentos geniais, particularmente em termos da encenação. Feito para deslumbrar o mundo e voltar a sublinhar que Londres tem aspirações universais - quer aparecer como uma cidade capital global -, foi um verdadeiro sucesso. Apenas a rainha destoou um pouco, pois parecia exausta e pouco animada perante uma festa de proporçõesúnicas e de importância vital para o seu país. É, de facto, a altura de ver Elizabeth II passar o facho...simbólico... que detém há 60 anos. De qualquer modo, um reino tão longo já merece uma medalha de ouro...
Perante o investimento feito pela Grã-Bretanha, fica-se com a impressão que organizar os jogos vai custar cada vez mais caro. Compreende-se. É a corrida pelo prestígio. É uma manifestação de poder e o poder não fica barato.
A Síria participa nos Jogos Olímpicos que hoje se iniciam. O espírito olímpico é assim. Mas, a verdade é que não há tréguas no país. O governo continua a seguir a politica cega de atirar a matar sobre as populações civis. Tem que se dizer de modo inequívoco que isto é um crime de guerra.
O texto que hoje escrevo na Visão (edição impressa) contém um número de propostas relativas ao posicionamento da União Europeia (UE) em relação à Síria.
O texto ainda não esta disponível na net. Mas ao lê-lo esta noite, com letra de forma, pensei mais uma vez que quem emite opiniões, quer na imprensa escrita quer na audiovisual, tem a responsabilidade de abrir perspectivas e elevar o debate. Não deve cair no populismo. Não pode limitar-se a cavalgar a opinião pública e a repetir o que diz o motorista de táxi ou o bloguista primário.
Ora, infelizmente, é isso o que mais acontece. Até com gente que deveria sentir-se à vontade para dizer o que pensa. Tive oportunidade de o ver, com mágoa, no domingo passado, na intervenção semanal de Marcelo Rebelo de Sousa. Interrogado sobre a possibilidade do FMI não aprovar a próxima tranche de financiamento do programa grego, Marcelo lançou-se numa longa dissertação demagógica sobre a falta de solidariedade europeia. Um resposta que nada tinha que ver nem com os procedimentos do Fundo - que deveriam ter sido esclarecidos - nem com a verdade do facto do governo grego ser incapaz de levar avante o programa que aceitou.
Assim, não vamos longe. Continuaremos a confundir raivas com realidades, a pensar ao nível do penico.
Há cerca de quatro semanas, a administração eleitoral da minha zona de residência, em Bruxelas, escreveu-me para me lembrar que, enquanto cidadão da UE, tenho o direito de me inscrever na lista de eleitores e para me convidar a fazer o registo. Dizia-me, ainda, que as próximas eleições autárquicas terão lugar a 14 de Outubro e que, se me inscrever como eleitor, terei a obrigação de votar. Quem está inscrito não pode faltar, no dia do escrutínio.
Acabei por me inscrever. Hoje. Antes, havia visto que apenas cerca de 17% dos europeus residentes na Bélgica se inscrevem como eleitores. É uma percentagem muito baixa. Não corresponde ao espírito que deveria animar a construção europeia. Põe, além disso, em causa, um direito político: os direitos que não são utilizados acabam por se tornar vulneráveis. Por isso tomei a decisão que tomei. Irei votar.
Hoje volto a terminar o dia falando de África. Uma amiga minha, antiga pupila do velho tutor, acaba de ser nomeada directora da cooperação com as organizações regionais africanas, no Ministério (Norueguês) dos Negócios Estrangeiros. Telefonou agora a agradecer a preparação que fiz com ela, antes da entrevista de selecção por que teve passar. A preparação foi boa e a entrevista foi decisiva. Ainda bem.
A Noruega é dos países que mais coopera com África, a título bilateral. Quer agora desenvolver a sua cooperação com a União Africana, e com as outras organizações sub-regionais, como a CEDEAO, na África Ocidental, a SADC, na África Austral, e a East African Community, à volta do Quénia e da Tanzânia. Ainda bem.
Talvez fosse altura de mandar o nosso Secretário de Estado da Cooperação dar uma volta por Oslo...Seria útil.
Começara com uma escrita sobre a Síria, um conjunto de propostas para um xadrez bem complicado. Mas as coisas estão em fase de aceleração e, por isso, é preciso pensar na transição e no papel que a UE possa vir a desempenhar. Assad pode cair a qualquer momento. Como também podemos assistir a uma perda total do controlo da situação, a um resvalar para o abismo.
Terminou com uma longa discussão sobre as possibilidades de investimento das empresas portuguesas em África. Parecendo que não, há muitas hipóteses. Precisam de ser acompanhadas pelas embaixadas portuguesas. E de beneficiar dos conselhos de quem conhece bem as diferentes realidades do Continente.
Pelo meio, surgiram outros desafios.
O que foi de facto inesperado foi o primeiro-ministro dizer "que se lixem...as eleições, que o que conta é Portugal". Foi mais um erro de comunicação. Portugal não é mais do que a expressão democrática da vontade dos seus cidadãos. Ninguém pode pensar, em política, que tem mais razão que a razão que lhe é dada pelos resultados de eleições livres. Mais ainda. Um primeiro-ministro não pode falar com a língua solta.