A CGTP-Intersindical é hoje dirigida por um aventureiro que, talvez bem intencionado, acredita que, na Europa de 2012, a revolução está na rua. Este é mais um drama da nossa situação actual. Mais uma complicação, numa altura de grande complexidade e de grandes riscos para todos. Mas assim é, e há que saber lidar com este tipo de realidades.
Na rua está o desespero das pessoas, que durante dezenas de anos viveram numa economia frágil e ilusória, uma economia que hoje está perante a hora da verdade. Na rua está a falência de várias décadas de políticas do deixa-andar.
O que o país precisa, nestas circunstâncias, é de líderes limpos e com bom senso, que olhem para a frente, compreendam o mundo de agora, não o de 1950 ou 60, e tenham a coragem e a credibilidade que é necessária para dar confiança ao país.
O extremismo não é solução. O radicalismo leva apenas ao caos e à miséria.
A atribuição à União Europeia do Prémio Nobel da Paz 2012 pode ser discutida sob vários ângulos. Aprovada ou reprovada, objecto de escárnio ou de celebrações. Mas, para mim, depois de ler as razões da decisão, e de interpretar as entrelinhas, a mensagem é simples e clara: o Comité do Nobel está preocupado com as divisões, as fracturas, que hoje existem na UE e que ameaçam o seu futuro. Por isso, lembra aos líderes e povos europeus que a União é fundamental para a paz e a estabilidade na Europa, numa altura em que os riscos de implosão do projecto comum são reais e próximos.
Depois de uma longa viagem por terras onde a internet era "rural", o meu blog volta à vida amanhã. Entretanto, estive na Normandia, onde todas as aldeias têm um Cristo bem crucifixado à entrada da terra. Pensei que, noutros tempos, o medo de Deus servia para abafar todos os outros medos. Só que hoje, esses medos já não fazem sentido. Hoje, o que conta é não ter medo do dia de amanhã. Ora, a verdade é que cada vez mais assim acontece. Há muitos temores sobre o futuro. Sobretudo em alturas de grandes incertezas, quando é o próprio governo a aumentar as angústias e a contribuir para a imprevisibilidade. Um governo que se esquece que as pessoas precisam de um mínimo de garantias e de segurança é um governo condenado.
O meu Verão terminou hoje. Amanhã volto a ser uma espécie de emigrante, um lusitano a viver no exterior. Uma condição que é, aliás, muito portuguesa. Todos os dias saem novos emigrantes. No Sábado, por exemplo, saiu um grupo de Évora, incluindo um primo afastado, com destino a Paris, para a construção civil e misteres afins. Apesar de ser um especialista em condicionamento de ar, estava parado há muitos e largos meses, depois de ter tentado uma experiência sem sucesso em África, por pouco tempo.
Entretanto, o primeiro-ministro esteve no Porto, para falar sobre a emigração. Não sei o que disse, nem que lhe escreveu o texto. Espero que tenha dito coisas mais acertadas que no passado. Que sair para fora de casa não é, na maioria dos casos, uma opção voluntária. É a vida que nos empurra. Agora, de novo em grandes números, como nos anos sessenta e setenta. A diferença é que quem sai hoje tem boas qualificações profissionais e académicas.
Aprecio a decisão de António Costa, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que decidiu assumir a responsabilidade com o incidente da bandeira nacional. E voltei a ver as imagens do momento em que a bandeira foi içada. É bem claro que Costa introduziu, na altura, alguma confusão quanto ao sentido a seguir para subir a bandeira. Viu-se, sem dúvida, que não havia ensaiado esse momento importante da cerimónia. Ora, estas coisas exigem ser praticadas antes do acto oficial.
Foi negligência e à vontade a mais.
Quem pensa que houve uma outra qualquer intenção, vê conspirações onde elas não existem.
O episódio da bandeira de pernas para o ar, no dia da República, mostra a maneira negligente como muitos encaram as suas obrigações. Foi mais um erro, também, num dia cheio deles.
Como compreender que num Estado de Direito os governantes não possam aparecer em público sem ser enxovalhados? Que se tenha chegado ao ponto, como acontecerá amanhã, que uma cerimónia nacional e popular tenha que ter lugar num recinto fechado, por causa de dúzia e meia de pessoas que acham que a democracia, neste canto do mundo, dá direito a berros e assobios em cerimónias oficiais e à falta de respeito pelas manifestações formais da representação do Estado?
Uma coisa é não estar de acordo com as decisões políticas. Outra, é tratar os titulares do Estado, com os quais se pode estar em total desacordo, com comportamentos incivis.
O Estado de Direito exige que se respeite cada cidadão, que se reconheça o simbolismo formal das instituições, e que se proceda ao debate politico segundo as regras da representatividade, da participação popular dentro da lei, da ordem pública e do civismo.
Não se pense que o que está a acontecer é porque estamos numa situação pré-revolucionária. Não estamos. O que nos espera, se continuarmos assim, é o caos cívico e o que vem em seguida.
Quem percebe destas coisas entende que o roubo dos documentos sobre o contrato dos submarinos, "cirurgicamente efectuado", revela que estamos mais entregues à máfia do que aquilo que se poderia imaginar. Uma máfia nacional, politicamente presente e com ramificações entre profissionais do golpe "limpo", tipo "secretas".
Isto está, não há dúvidas, pior do que se pensa.
Tem razão quem anda muito preocupado com a honestidade de uma certa classe dirigente.