Dizia-me esta tarde um observador atento e objectivo da realidade intelectual portuguesa, um dos poucos que olha para nós, os portugueses, sem lirismos nem saudosismos:
"... A intelectualidade indígena sempre teve demasiadas certezas sobre tudo e pouquíssimas dúvidas sobre o que quer que seja – além de estar sempre pronta a fazer grandes diagnósticos globais e a responsabilizar terceiros…"
Na Visão de hoje, António Mega Ferreira, que é considerado um grande pensador contemporâneo, ilustra a barbaridade do simplismo intelectual português de hoje. À pergunta sobre a Europa, "onde certas elites falam nos "preguiçosos do Sul" face "aos competentes do Norte", questão sugerida pelo jornalista, o brilhante responde assim, com este tipo de absurdidades:
"A raiz histórica está mais atrás, no luteranismo. O ódio do Norte ao Sul vem da inveja. Eles não suportam o nosso sol, a boa comida, certa moderação nos costumes, na maneira de viver e de trabalhar. Os povos do Norte foram sempre organizados, como queria Lutero - um bandido do pior. "
E vai por aí fora.
Com um nível de reflexão deste género e desta "profundidade", um país como o nosso não precisa de inimigos exteriores. Basta-lhe as "elites" nacionais que por aí andam a definir a linha de pensar.
Creio que já o escrevi nestas páginas, há muito tempo, que em matéria de liderança política, quando há uma competição entre dois contendores fortes, o que pestaneja e mostra uma ponta de hesitação perde a disputa. E pode mesmo perder a imagem que conta, que é a que revela se está à altura do embate e pronto para ganhar. Que nestas coisas, só se lá vai para ganhar. Quando se perde, e o prémio que estava em disputa era grande, perde-se de vez. Sim, porque mais tarde haverá sempre quem venha lembrar que esse candidato que pestanejou e teve medo de ir até ao fim não tem, lá bem no fundo, estofo de campeão. Sem esquecer que a oportunidade de hoje pode não se repetir amanhã, que isto do futuro é muito incerto.
O governo português lançou o programa “Living in Portugal”, com o objectivo de atrair estrangeiros ricos a comprar casa e a vir residir para o nosso país.
Estudei a página da net que foi oficialmente preparada para o efeito. Penso que é uma página pouco trabalhada, que precisa de mais fotos, de informação mais concreta e de maior participação do sector privado, não apenas de alguns bancos, de grandes resorts e de instituições parapúblicas. Deveria, por outro lado, dar mais atenção à emigração portuguesa, sobretudo à geração que está reformada e que poderia ter uma base em Portugal, se houvesse incentivos para isso.
Dentro de um ano seria importante fazer um balanço desta campanha de promoção do nosso país. Em particular, saber quantos estrangeiros aproveitaram o Golden Residence Permit, um visto especial de residência dado a quem vier de fora da UE.
Mas antes disso, terá sido feito algum estudo técnico, nestes últimos meses, que mostre de modo objectivo quais são os impedimentos e os incentivos para que uma família estrangeira se venha estabelecer em Portugal? É que sem isso, é difícil ter um programa a apontar na direcção certa.
Tive como companheiros de viagem um grupo de uns dez jovens, todos rapazes, na casa dos vinte anos. Falavam entre si em sueco, mas não tinham ar de nórdicos e, de vez em quando, misturavam na conversação palavras em espanhol, árabe ou russo, ou mesmo noutras línguas. Achei curioso. E acabei por me meter na conversa. Explicaram-me que tinham estado em Lisboa, que eram residentes no sul da Suécia, todos tinham a nacionalidade desse país, mas nenhum era etnicamente de origem sueca. Eram filhos de emigrantes e refugiados políticos, que de várias partes do mundo haviam emigrado para aquele canto da Escandinávia, ali tinham nascido ou sido educados. Entendiam-se na língua de adopção, mas iam introduzindo elementos culturais ligados às suas raízes, para tornar o convívio mais interessante.
E assim se faz uma Europa multicultural e aberta aos outros.
Voltando à questão da educação, queria recordar o que David Cameron disse há dias, no Fórum de Davos: um dos objectivos do seu governo é o de criar as condições necessárias para que as universidades britânicas possam estar entre as melhores do mundo.
Cameron pode ter a intenção de cortar várias regalias sociais. Mas o que ele não irá certamente cortar é o nível de investimento que o estado fará na área do ensino. O futuro exige capacidade em competir, formação de ponta e com o futuro de um país não se brinca.
No dia de uma nova manifestação de professores, lembrei-me que um lente da Universidade de Évora me disse, esta semana, que a maioria dos seus alunos escreve em português com erros atrás de erros e que, após ler umas linhas de um texto, é incapaz de explicar o que leu. Respondi que assim não se constrói futuro algum. O título universitário, uma vez obtido, corresponde a um diploma desvalorizado e incapaz de competir na praça global.
A única vantagem de produzir diplomados assim é a de aumentar o número dos que se opõem à globalização...
Hoje voltei ao Mosteiro dos Jerónimos, para me recolher por uns momentos perante os mausoléus de Luís Vaz de Camões e de Vasco Gama. Foi como ir à fonte e beber a água que nos dá ânimo e esperança num futuro mais grandioso que a mediocridade do presente.
Percorri a Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa, esta manhã, de alto a baixo, em ambos os sentidos. Foi um passeio do desalento. As poucas lojas de luxo ou de qualidade, uma aqui outra acolá, não chegam para fazer esquecer as muitas outras fechadas, menos ainda os vários refúgios de cartão e mantas dos sem-abrigo que agora se “domiciliaram” nalguns portais dos prédios da avenida.
Pensei nas zonas nobres de comércio de Londres, Paris, Roma ou Nova Iorque, comparei sem querer comparar e fiquei com a Liberdade triste.
Os notáveis do Partido Socialista, que foram ministros durante a governação de José Sócrates, passaram hoje a um novo patamar de ataque, na tentativa de substituir Seguro, o actual secretário-geral do partido, por um líder mais próximo dos seus interesses. O cavalo de batalha é a antecipação do congresso do partido, que esses antigos ministros gostariam que tivesse lugar tão cedo quanto possível. Por quê tanta pressa? Por acreditarem que o governo actual tem os dias contados e que irá cair num futuro cada vez mais chegado. E por estarem convencidos que Seguro perderia a liderança nesse congresso.
Temos assim, de um lado, um governo fragilizado e do outro, um líder de oposição cuja autoridade e imagem é minada pelos seus. É a política dos cacos partidos.