Uma discussão serena da reforma do Estado
Continuam os ânimos a estar muito exaltados. A escreverem-se barbaridades e a expressarem-se, nos mais diversos programas das televisões, as ideias mais farfalhudas. O relatório do FMI veio incendiar uma casa que já estava em brasa.
Como disse há dois dias, o documento tem que ser estudado com muito cuidado. Só é possível discutir com base em argumentos sólidos. Sabendo o que essas casas gastam, esse é o meu conselho, pois não pode haver dúvidas que quer Bruxelas quer outros centros de poder vão utilizar o documento do FMI como quadro de referência, nas suas relações com o Estado português. Sobretudo se tivermos que prolongar o programa de assistência financeira.
De qualquer modo, vai ser preciso tomar medidas drásticas, nas próximas semanas, para reduzir em 4 mil milhões as despesas do Estado. Qualquer medida que venha a ser proposta pelo governo vai ser comparada com as que o FMI sugeriu.
Essas medidas terão que ter em conta que, em vários sectores, temos uma administração pública ineficiente, enviesada e insustentável. Não querer debater estas questões, resumir tudo a slogans e palavreado de pugilista, é um erro. Não me sentiria bem se me dissessem que os líderes políticos do meu país não são capazes de ter uma discussão serena sobre a reforma do Estado. Sobretudo, numa altura de crise, e em que parte da crise tem que ver com uma arquitectura de governação e de administração que é, em vários casos, inadequada e, em certa maneira, profundamente injusta para os que têm menos poder.