Dizia-me esta tarde um observador atento e objectivo da realidade intelectual portuguesa, um dos poucos que olha para nós, os portugueses, sem lirismos nem saudosismos:
"... A intelectualidade indígena sempre teve demasiadas certezas sobre tudo e pouquíssimas dúvidas sobre o que quer que seja – além de estar sempre pronta a fazer grandes diagnósticos globais e a responsabilizar terceiros…"
Na Visão de hoje, António Mega Ferreira, que é considerado um grande pensador contemporâneo, ilustra a barbaridade do simplismo intelectual português de hoje. À pergunta sobre a Europa, "onde certas elites falam nos "preguiçosos do Sul" face "aos competentes do Norte", questão sugerida pelo jornalista, o brilhante responde assim, com este tipo de absurdidades:
"A raiz histórica está mais atrás, no luteranismo. O ódio do Norte ao Sul vem da inveja. Eles não suportam o nosso sol, a boa comida, certa moderação nos costumes, na maneira de viver e de trabalhar. Os povos do Norte foram sempre organizados, como queria Lutero - um bandido do pior. "
E vai por aí fora.
Com um nível de reflexão deste género e desta "profundidade", um país como o nosso não precisa de inimigos exteriores. Basta-lhe as "elites" nacionais que por aí andam a definir a linha de pensar.