Segurança e defesa
Continua a não haver debate público sobre as questões de segurança nacional. E continua a confundir-se defesa com segurança nacional, quando a defesa é apenas um elemento da questão. E continua a falar-se de reforma da defesa e dos militares, sem se saber bem quais são as ameaças a que os militares devem responder e qual é o seu papel na projecção externa de Portugal. Ou seja, andamos a cavalgar a montada sem saber exactamente para que serve o cavalo e para onde deve ir.
Hoje, um senhor antigo militar escreve no Diário de Notícias que a defesa nacional é a primeira razão de ser do Estado. E cita o velho General de Gaulle, que em 1952 terá dito isso, sem pestanejar. Pode ser verdade que o tenha dito, mas creio que também é muito possível que de imediato lhe tenham respondido que não é bem assim. Se existisse uma razão primeira para o aparecimento do Estado, essa razão seria a da legitimação do poder de alguns sobre todos os outros. O Estado foi uma criação da elite para fazer aceitar o seu domínio sobre os outros. Para que isso fosse mais facilmente aceite, oferecia em troca segurança, paz interna e justiça, primeiro, e depois, protecção contra o exterior.
Hoje, as questões da segurança e da paz, da justiça e da equidade são, na verdade, os pilares mais importantes de um Estado. A defesa, repito, é apenas uma componente da segurança.