Precisamos de uma reflexão mais compreensiva
Voltando às questões de segurança, parece-me fundamental sublinhar que seria um erro pensar que, num país como o nosso, as respostas devem ser acima de tudo militares. A parte militar é uma componente da resposta. Tem que estar preparada, é verdade, para três dimensões fundamentais, que indico de modo resumido: a de soberania, que, no nosso caso, tem muito a ver com o mar e, também, em certa medida, com o espaço aéreo; a de protecção contra as ameaças de tipo militar, que devem ser claramente definidas; e a dimensão internacional, de projecção de Portugal no exterior. A reforma do sector da defesa deve ser feita nessas bases.
Por outro lado, existem as facetas não-militares da segurança nacional. No nosso caso, passam pela definição do papel e organização dos serviços de inteligência, pela coordenação e reorganização das polícias, pela articulação entre as polícias e os militares, bem como por uma definição clara das parcerias de segurança com os países estrangeiros do espaço político a que pertencemos. Sem esquecer, claro, que só estaremos verdadeiramente numa posição de força se a economia crescer, se modernizar e gerar as mais-valias necessárias. Com uma economia insuficiente e subdesenvolvida a nossa capacidade de financiar a segurança nacional, incluindo a defesa, ficará sempre aquém do que seria ideal. Chama-se a isso “fragilidade nacional”.
Ou seja, a problemática da nossa segurança é bem mais complexa do que parece. Não se compadece com simplificações nem com vistas unidimensionais. Preciso, isso sim, de uma reflexão diferente da que tem estado a ser efectuada. Mais compreensiva. E actual.