As revelações de espionagem sistemática praticada pelos Estados Unidos contra instituições da União Europeia – sobretudo contra a sede da Comissão em Bruxelas – estão a deixar muita gente perplexa e indignada. O que é difícil de entender, digo eu. Será que os responsáveis do Berlaymont ou o Presidente do Parlamento Europeu – uma das vozes que mais barulho tem feito sobre o assunto – são simples de espírito, incapazes de imaginar outra coisa, da parte americana? Ou mesmo, de outros serviços de informações europeus, que estão certamente muito “conectados” com o que se diz e passa no seio da Comissão e devem ter “ouvidos e olhos” em vários sítios, a começar pelo gabinete de Barroso.
Cabe à Comissão Europeia não ser ingénua e proteger-se. Ou então, fazer como eu sempre fiz na ONU e partir do princípio que nestas organizações internacionais não há segredos, tudo acaba por se saber, hoje ou amanhã.
Os velhos fantasmas nacionalistas estão de volta. Em Paris, em Londres, na Haia, por outros sítios e aqui também.
O nacionalismo doentio e cego trouxe muitas desgraças à Europa. E voltará a trazer, se o deixarem ganhar o poder.
Sabe, além disso, aproveitar os ressentimentos populares e criar uma dinâmica totalitária, que a todos esmaga, se porventura dele discordarem.
O nacionalismo é uma das consequências das crises. A actual é terreno fértil para os loucos que por aí andam, que vivem com os olhos fixos nas pretensas grandezas do passado e no ressuscitar de fantasias que já mostraram que acabam sempre em pesadelo.
Seria um erro não dizer estas coisas alto e bom som.
Depois de Pau, no sopé dos Pirenéus franceses, uma cidade que deve parte da sua história à beleza das montanhas que definem o horizonte, um facto que não passou despercebido aos turistas ingleses de há cem anos, e de Zamora, nos confins que separam Castela de León, uma localidade que respira ainda as paixões religiosas de outrora, eis-me a circular, esta tarde, na selva do IC19.
Fim de tarde no centro da cidade de Poitiers. Cidade com uma longa história, capital de uma região que foi abastada, Poitiers é hoje um centro urbano que vive ao ritmo da província. Bem arranjada, renovada na parte antiga, tem uns comércios com gosto mas com pouca animação. Aqui perto foi criado a partir do zero um parque de atracções virado para a ficção científica –o Futuroscope. É bastante vasto. Procura, pela sua originalidade, trazer visitantes a uma região que é cruzada pela importante auto-estrada de Paris a Bordéus e onde, normalmente, não se pára.
A migração em direcção ao Sul começa amanhã. Com calma, que pássaros velhos gostam de ir saboreando a paisagem. Cada etapa conta e tem que ser bem planeada. Além disso, nestas coisas, como em muitas outras, o importante é chegar bem.
De repente, fico a pensar por que razão isto não é entendido assim pelos políticos? Por que será que não prestam atenção às etapas? Como explicar que só pensem na chegada quando estão prestes a cruzar a linha do destino? Que depois cruzam de qualquer maneira, num improviso que as palavras ocas não conseguem esconder.
Haja esperança, esperança, esperança, diria aquele ministro patusco que agora fala em nome dos outros.
O Público de hoje informa-nos que apartamentos de luxo, novos, junto da Marina de Vilamoura e dos campos de golfe, foram ontem a leilão, a metade do preço e mesmo assim não encontraram comprador. O que teria custado 215 mil euros, no caso de um T2, esteve à venda por pouco mais de 100 mil e acabou por ser retirado do mercado.
Esta notícia terá passado despercebida a muitos. Para mim, enquadra-se bem no que escrevi ontem sobre as consequências que advêm de se falar repetida e estouvadamente da possível saída de Portugal do Euro.
Equacionar a saída do Euro é como dizer aos potenciais investidores estrangeiros, de que o país tanto precisa, e aos emigrantes portugueses, que não é prudente investir dinheiro em Portugal, neste momento. Apresentá-la como uma inevitabilidade, equivale a um tiro no pé. Dizer que traria a independência económica é esquecer a miséria que havia quando estávamos orgulhosamente sós.
A Sapo teve a gentileza de colocar o meu texto de ontem (“Política para gente inteligente”) na primeira página do seu site, como um artigo relevante de opinião. Foi uma boa surpresa.
No seguimento, muitos visitaram, ao longo do dia, o “Vistas Largas”. O que me deu alento, devo confessar. É que isto de escrever um texto todos os dias tem o seu custo, que é agravado pelo facto de muitas vezes me interrogar sobre a utilidade de tal esforço.
Quem escreve, como eu, sem estar ligado a um partido político, a um lóbi, a uma loja, a um grupo de loucos enraivecidos, ou de oportunistas, tem poucas chances de ser lido e de ter qualquer tipo de influência. É-se um mero pistoleiro no deserto, aos tiros contra os cactos que povoam o horizonte.
Uma boa parte dos nossos comentadores políticos acha que faria melhor do que Cavaco Silva, no caso de serem eles o Presidente da República.
Uma outra boa parte, pensa o mesmo, mas desta vez em relação ao desempenho do Primeiro-ministro. Fossem eles a chefiar o governo e veríamos como Portugal seria um mar de rosas. Até o Gaspar acertaria nas contas, embora longe de Lisboa.
Uma parte indeterminada crê-se melhor que Jesus. Tivessem eles a oportunidade de treinar o Benfica…
Concluindo, de modo sumário, como se gosta de fazer em Portugal: temos as pessoas erradas nos sítios certos. Andamos todos às avessas.