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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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O peso das palavras

As eleições perdem-se por várias razões, incluindo por causa de frases ou expressões infelizes, que mostrem pouco consideração pelas pessoas. Muita gente votou ontem contra o partido do primeiro-ministro como reacção a coisas que Passos Coelho disse e que ficaram na cabeça das pessoas, como uma ofensa ou um desafio. Uma delas foi a célebre “que se lixem as eleições!”. Sei de cidadãos que votaram contra, vendo no seu voto um desafio a essa frase que nunca deveria ter sido dita.

 

Claro que essa não será a explicação do desaire eleitoral do PSD. Mas adicionou votos ao total dos votos contra.

 

Em diplomacia passa-se o mesmo. Uma expressão dita com arrogância pode arruinar muitos esforços de entendimento. As palavras contam e as feridas e os reptos não se esquecem facilmente.

 

Por outro lado, quem sabe medir as palavras tem mais hipóteses. 

Eleições limpas

Creio que a última vez que votei, em Portugal, foi em 1976. Depois, começou uma longa peregrinação por terras estrangeiras. E nunca aconteceu ter estado no país num dia eleitoral. Quando havia embaixada, inscrevia-me e acabava por votar lá. Noutros casos, nem isso foi possível.

 

Hoje, estava em Lisboa. Regressara ontem ao fim do dia, depois de umas semanas na Letónia. De manhã, não deu para ir às urnas. À tarde, o tempo complicou-se e choveu a sério. Mas não podia deixar de ir. Chamo a isso o peso do dever. Nestas coisas, há sempre que ter presente que, em muitas partes do mundo, há quem não possa votar ou quem veja o seu voto ser roubado, pelas trafulhas eleitorais que estão no poder. Assim se dá mais valor a eleições limpas, como as nossas. 

Eleições

Em vésperas de eleições autárquicas, o meu receio é que os resultados venham mostrar um novo recorde de desilusão. Taxas de abstenção mais elevadas que de costume serão o indicador. Por outro lado, a votação em elementos independentes e em movimentos de cidadãos deverá ser vista como um bom sinal de participação democrática.

 

Sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (MDGs)

O Instituto Marquês de Valle Flor perguntou-me:


1) Que balanço faz dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio?


2) Na sua opinião, o que seria essencial incluir na nova agenda para o desenvolvimento global pós-2015? Se pudesse indicar um novo objetivo de desenvolvimento, qual seria?


3) Numa época de crise, qual acha que pode ser o contributo de Portugal e da Europa para este desenvolvimento global?

 

E eu respondi:

 

VICTOR ÂNGELO - Vogal do Conselho de Administração da Fundação PeaceNexus, Suíça, e Antigo Secretário-Geral Adjunto e Representante Especial das Nações Unidas

 

1) Apesar dos atrasos e dos recursos insuficientes, o balanço é positivo. E há razões para manter vivo um certo optimismo e continuar a insistir. Os ODM passaram a ser o quadro de referência obrigatório para quem discorre ou intervém na área do desenvolvimento. Pela primeira vez, os mais diversos actores internacionais – governos, instituições multilaterais, organizações não-governamentais, investigadores, media e outros – passaram a ter um prisma comum, credível e capaz de concentrar as atenções. Isto permitiu uma melhor conjugação de esforços, uma advocacia mais focalizada bem como manter a ajuda ao desenvolvimento na lista das preocupações internacionais, numa altura em que a cooperação internacional para o desenvolvimento estava em risco de se transformar numa preocupação marginal e de perder fundos e meios. Os ODM vieram provar que vale a pena adoptar um “realismo ambicioso”. Demonstraram, igualmente, que existe um entendimento que a pobreza e as questões complementares que lhe estão associadas são problemas globais que exigem o empenho de todas as nações.

 

2) Antes de se falar de novos objectivos, haverá sempre que lembrar os que foram definidos em 2000, tendo a meta de 2015 em mente, e que ainda estarão por atingir, quando entrarmos nesse ano. A segurança alimentar e o acesso à água potável continuarão a ser uma necessidade premente para muitos, em África e noutras partes do globo. Convém sublinhar isso com um traço muito forte, porque nos estamos a referir a prioridades absolutas. Os direitos cívicos, a participação política em democracia, o reforço do poder dos cidadãos em relação ao Estado, formam um conjunto de questões que deverão, na próxima geração dos objectivos, merecer uma atenção mais apurada. Sem cidadania activa e livre não há desenvolvimento sustentável e equitável.

 

3) A Europa e, por conseguinte, Portugal, tem de abrir os seus mercados aos produtos dos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo que deverá manter um nível de financiamento da cooperação que se aproxime dos 0,7% do PIB. Deverá ainda saber combinar a cooperação institucional com o apoio ao investimento privado, nomeadamente na área das energias e na transformação radical da agricultura dos países em desenvolvimento, respeitando, no entanto, os princípios da boa gestão dos solos, da utilização racional da água e dos outros recursos naturais e respeitando o meio ambiente e a biodiversidade. A Europa deve ainda estabelecer parcerias de apoio ao desenvolvimento que permitam uma maior integração da sua ajuda com os esforços e as prioridades dos países em desenvolvimento. Finalmente, a avaliação independente dos programas de desenvolvimento deve fazer parte do cerne da cultura de cooperação.

A farsa nacional

É óbvio que Rui Machete deixou de ter condições para ser ministro. Dizer o contrário do que é verdade – na maneira de falar dos simples mortais que o leitor e eu somos o verbo que se aplica é “mentir” – a uma Comissão de Inquérito Parlamentar constitui um crime. Foi o que obviamente praticou. Por escrito, pausadamente, intencionalmente, não num momento de sobressalto e de distracção.

 

Numa democracia de políticos responsáveis, Machete teria já concluído que a única saída possível seria a da porta lateral, a que dá acesso ao corredor do esquecimento. Que estas coisas e este tipo de políticos são mesmo para esquecer.

 

E o primeiro-ministro já teria falado com ele, para que a saída pudesse parecer como uma decisão do próprio e não como um empurrão ou um pontapé no traseiro.

 

Mas isto seria noutro país. Em Portugal, o homem vai tentar ficar.

 

E a senhora que chefia a Assembleia da Republica vai escudar-se por detrás da necessidade de um voto na Assembleia, que aprove o envio do caso de suposto crime para investigação pela Procuradoria-Geral da República. E os deputados da maioria irão votar e  vetar,  obedientemente, impedir que tal possa acontecer.

 

Depois, num Domingo à noite, o professor mestre em piruetas irá passar pela rama de tudo isto, uma vez mais a fingir que o seu amigo ministro não fez nada de muito grave. O habitual, a exímia ginástica do desviar as atenções para outros assuntos, arte em que o mestre é perito.

 

No dia seguinte, lá aparecerão uns jornalistas obsequiosos e atentos ao que o futuro lhes possa reservar, que terão a amabilidade de dar ênfase às palavras sábias do professor “enrola tolos” e achar-lhe piada.

 

Terão razão, de certa maneira. Este é um país que faz rir. Uma farsa. Para rir até chorar.

 

 

O Diário de Notícias em plano inclinado

As duas páginas de opinião do Diário de Notícias de hoje são lixo. A da esquerda publica um artigo intragável, confuso e superficial da autoria de Adriano Moreira. A da direita tem um texto “revoltado”, que tudo trata pela rama e sem conhecimento adequado, escrito por um maestro que recentemente teve um problema relacionado com abuso de confiança, pelo modo como parece ter gerido uma instituição em proveito próprio. Agora, diz-nos que já basta de malfeitorias políticas.

 

Faz dó ver o DN assim. 

O mercado como catedral

Tornou-se um ritual. No segundo Sábado de cada uma das minhas estadas em Riga deambulo pelo mercado central da cidade. É um prazer. Tudo limpo e arrumado, e ao mesmo tempo diferente do que é hábito na Europa em que vivo o resto do ano. Para além de uma enorme variedade de bagas, colhidas nas florestas bálticas e próprias do Norte da Europa, muita da fruta vem da Turquia e do Uzbequistão, alguma da Geórgia ou do Azerbaijão – sobretudo as melancias. Há toda uma área que só vende flores, que oferecer flores faz parte da cultura quotidiana das pessoas daqui. A zona dos talhos está num hangar numa das pontas do mercado. Na ponta oposta, estão as bancas de venda de peixe. A carne é barata, raramente as melhores partes indo além dos 12 euros por quilograma. O peixe ainda é mais em conta e a variedade é muito diferente da que vemos em Portugal. Há muita lampreia, esturjão, enguias e outros peixes de rio, todos com um ar que mete medo, para além do inevitável salmão de cultura. Muito do peixe é vendido fumado. Fumar o peixe é uma tradição que vem dos tempos de outrora e que continua a fazer parte dos gostos de agora.

 

Tudo é uma curiosidade que vale a pena explorar. E tudo se passa num ambiente quase sem ruído. Ir ao mercado em Riga é, por isso, no silêncio das cores e na beleza das pessoas, uma espécie de viagem espiritual. 

Em concorrência com as galinhas

Um dos exercícios em que estou empenhado terminou hoje. Depois de passar uma semana num cenário imaginário de crise, numa região de um outro continente em que estas coisas acontecem, voltei hoje, ao fim do dia, a poder passear nas ruas de Riga como um turista.

 

Vai ser Sol de pouca dura, pois no Domingo será iniciado um outro exercício, também à volta de uma crise nacional profunda agravada pela interferência dos países vizinhos. Tudo num cenário fictício mas construído peça a peça, um investimento enorme, de modo a fazer com que a ficção fique o mais próximo possível da realidade que existe nalguns cantos do mundo.

 

Estes exercícios são muito exigentes, em termos da sua execução. E o da próxima semana vai ter como participantes algumas das melhores cabeças que por aí andam, neste tipo de matérias. O que torna o desafio ainda mais interessante.

 

Entretanto, amanhã e Domingo vão ser os únicos dias em que não vai ser preciso acordar muito antes das galinhas.

 

 

Berlim, Lisboa e Bruxelas

Eis o link para o meu texto de hoje na Visão:#


 

Também reproduzo o texto de seguida:

 

 

De Berlim à Europa, via Lisboa

Victor Ângelo

 

 

Com eleições para o Parlamento Federal já neste domingo, seria estranho não escrever sobre a Alemanha. Até porque discorrer sobre esse país permite reflectir sobre a UE. Quer se goste quer não, a Alemanha é hoje o Estado que determina a agenda europeia. E, sejamos pragmáticos, no horizonte que é visível vai continuar a ser assim. Por isso, é bom que olhemos para Berlim com os olhos bem abertos e de modo desapaixonado, para além da paixão de consolidar uma Europa próspera e em paz consigo própria.

 

 A vitória de Angela Merkel parece um dado adquirido. Não irá, no entanto, conseguir governar sozinha. O parceiro da coligação actual, o Partido Democrático Liberal (FDP), não deverá ter votos suficientes para poder manter representação no parlamento. Nesse caso, a solução terá que passar por um acordo do centro-direita, a família política da Chanceler, com o Partido Social-Democrata (SPD), sob a forma de uma “grande coligação”. Será, no entanto, uma aliança coxa, que só poderá funcionar em serviços mínimos, quer do ponto de vista da política interna quer no que respeita à Europa. Merkel, como Chanceler, e Peer Steinbrueck, o cabeça de lista do SPD, como número dois do novo governo, é um casamento político de pura conveniência. Fará pensar naqueles casais que vivem debaixo do mesmo tecto por não terem outra alternativa. E que decidem que a melhor solução é deixar correr o tempo, sem fazer ondas.

 

A política externa será igualmente morna, na melhor das hipóteses. Como, aliás, já acontece há vários anos. Em relação ao exterior, Merkel só joga com duas cartas: abstenção ou obstrução. É uma opção deliberada, que não vai mudar. Não é falta de ambição. Baseia-se numa visão do mundo que considera a actual correlação de forças como sendo favorável à Alemanha e à sua presença nos mercados globais que contam: a Rússia, a Turquia e o Golfo Pérsico, mas acima tudo, o Extremo Oriente e a Ásia Central. A preferência por uma diplomacia da indiferença perante as causas que não ponham em jogo os interesses alemães traduzir-se-á, no que respeita à Europa, na preocupação em manter o status quo. É o aprofundamento da construção europeia quem vai pagar as favas. Para Merkel, o que conta é a livre circulação das mercadorias e a estabilidade do euro. Claro que resumir numa frase a política de Berlim é um pouco simplista. Mas permite chamar a atenção para o cerne da questão.

 

Uma Europa assim põe em causa vários projectos, nomeadamente a união bancária e um sistema comum de defesa. E, acima de tudo, o princípio da solidariedade entre os povos da União. Mas a verdade é que nunca houve a preocupação de fazer partilhar esse princípio com os cidadãos europeus, de lhe dar legitimidade popular. Ficou ao nível das elites. Na prática, transformou-se num monstro burocrático, criado para gerir os principais instrumentos da “solidariedade” – os fundos estruturais e de coesão, mais os destinados à agricultura e às pescas – e numa oportunidade para corrupção e obras de fachada. Não é de admirar, por isso, que a solidariedade esteja em crise.

 

No que nos respeita, a pergunta é evidente. Como deveremos agir, neste tipo de contexto? A resposta simplificada passa por ter voz e levantar o tom, nas instituições europeias. É altura de intervir com base numa posição nacional, que resulte de um consenso entre os portugueses. A nossa voz deve transmitir uma mensagem clara, fazer uma defesa inteligente dos ideais, valores e interesses comuns e defender ao mesmo tempo o que é justo para Portugal, sem subserviência nem ingenuidade.

 

O aprofundamento da nossa crise

Como já havia deixado explícito neste mesmo blogue, há uns dias, a credibilidade financeira de Portugal está a perder terreno, na arena internacional. Está a atingir um patamar a partir do qual qualquer saída do buraco é extremamente penosa. Quem decide sobre estas coisas de emprestar dinheiro aos Estados pensa que a deriva política nacional, quer do lado do governo quer da oposição, vai levar ao agravamento da nossa situação de desequilíbrio orçamental. Irá mesmo provocar uma ruptura de pagamentos e do reembolso da dívida e dos juros.   

 

O momento exige uma liderança clara, inteligente e determinada. Infelizmente, do lado do governo, Paulo Portas e Maria Albuquerque não têm condições nem experiência para lidar com estas coisas. Não estão, de modo algum, à altura. Portas é um político especializado na politiquice e na intriga que definem a política nacional. Albuquerque é uma técnica sem perfil internacional. Não tem o calo necessário para estas coisas. Do lado da oposição, para além da algazarra dos extremistas, de vários bordos, mas unidos pelas mesmas ilusões e ideias irrealistas, temos um Partido Socialista que não percebe em que mundo nos encontramos e passa o tempo a falar do IVA da restauração e de uma Europa que virá por aí abaixo, cheia de solidariedade e de flexibilidade, pronta para nos salvar. É um partido dirigido por escriturários e advogados de província.

 

Que nos resta? Mobilizar os melhores, reinventar a política e tratar do país a sério. Com os pés assentes na terra, e os olhos virados para um mundo que é o de hoje e de amanhã, e não o Portugal do passado.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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