A farsa nacional
É óbvio que Rui Machete deixou de ter condições para ser ministro. Dizer o contrário do que é verdade – na maneira de falar dos simples mortais que o leitor e eu somos o verbo que se aplica é “mentir” – a uma Comissão de Inquérito Parlamentar constitui um crime. Foi o que obviamente praticou. Por escrito, pausadamente, intencionalmente, não num momento de sobressalto e de distracção.
Numa democracia de políticos responsáveis, Machete teria já concluído que a única saída possível seria a da porta lateral, a que dá acesso ao corredor do esquecimento. Que estas coisas e este tipo de políticos são mesmo para esquecer.
E o primeiro-ministro já teria falado com ele, para que a saída pudesse parecer como uma decisão do próprio e não como um empurrão ou um pontapé no traseiro.
Mas isto seria noutro país. Em Portugal, o homem vai tentar ficar.
E a senhora que chefia a Assembleia da Republica vai escudar-se por detrás da necessidade de um voto na Assembleia, que aprove o envio do caso de suposto crime para investigação pela Procuradoria-Geral da República. E os deputados da maioria irão votar e vetar, obedientemente, impedir que tal possa acontecer.
Depois, num Domingo à noite, o professor mestre em piruetas irá passar pela rama de tudo isto, uma vez mais a fingir que o seu amigo ministro não fez nada de muito grave. O habitual, a exímia ginástica do desviar as atenções para outros assuntos, arte em que o mestre é perito.
No dia seguinte, lá aparecerão uns jornalistas obsequiosos e atentos ao que o futuro lhes possa reservar, que terão a amabilidade de dar ênfase às palavras sábias do professor “enrola tolos” e achar-lhe piada.
Terão razão, de certa maneira. Este é um país que faz rir. Uma farsa. Para rir até chorar.