O último Conselho Europeu deste ano começou ontem e termina hoje. Como de costume, um vasto perímetro de Bruxelas, em torno das instituições europeias, está sob um controlo apertado da polícia federal belga. Os meios mobilizados são imensos, sobretudo por ter havido uma manifestação de agricultores europeus. Quando estes vêm para a rua, com as suas máquinas agrícolas e produtos do campo, a confusão nas ruas da cidade à volta do Berlaymont é grande.
Onde não houve confusão foi à mesa da cimeira. Os líderes que mais contam, que não têm medo de falar abertamente, mostraram claramente o que querem, no que respeita às próximas etapas da integração europeia. Querem uma pausa. A integração, no seu entender, deve ser feita com base no que já existe. Para eles, este não é o momento para novas frentes.
Mostraram também que não tencionam alargar ou aprofundar os poderes da Comissão Europeia. A aposta, para eles, continua a ser na soberania nacional e nos acordos entre estados.
Não será muito, em termos da construção da União. É o que eu já esperava e que havia escrito em textos recentes que publiquei na Visão. Não haverá grandes mudanças enquanto não se entrar num novo ciclo, com um novo Presidente à frente da Comissão. O que só deverá acontecer perto do início do último trimestre de 2014.
O ano novo vai ser, por isso, um compasso de espera na construção europeia. Mas é assim que se faz a história.
Em política, ninguém tem razão contra todos. Pode ser, quando muito, um ditador. Mas em democracia não há ditadores. Há gente eleita, que só pode aguentar-se no poder se conseguir manter uma franja importante da opinião pública a seu favor. A legitimidade política conquista-se nas eleições e, depois, no quotidiano da relação entre quem governa e os cidadãos.
A democracia faz-se com partidos políticos e com movimentos e associações da sociedade civil. Mas a democracia tem que começar no interior dos partidos. A vida partidária precisa de dinamismo e flexibilidade, de modo a dar oportunidade aos melhores e às ideias novas.
Quando isso não acontece, cada grupo de cidadãos tenta criar o seu próprio partido ou movimento político.
É isso que está a acontecer em Portugal. Estão a surgir novos embriões de partidos. Não terão um futuro muito próspero, por o terreno ideológico estar bem demarcado e muito ligado aos partidos que ao longo de décadas se foram impondo. Não passarão, por isso, de meras manifestações de personalidades, descontentes com as lideranças actuais dos principais partidos e com a falta de espaço interno, que não lhes permite ganhar proeminência dentro de cada partido. Vão desaparecer como apareceram, de repente, sem que se dê por tal.
Curiosamente, essas tentativas de furar a realidade partidária têm sobretudo lugar à esquerda. É a multiplicação das boas intenções e das ingenuidades.
Dizem-me que Paulo Portas colocou na sede do seu partido, o CDS, um relógio especial. Tem como função contar as horas, os minutos e os segundos que faltam para que termine o programa financeiro que Portugal assinou com a chamada “Troika”.
Esta é mais uma criancice de Portas. É Portas igual a ele próprio.
Vinda do Vice-primeiro-ministro, trata-se, igualmente, de uma manifestação de hostilidade bacoca em relação a quem aceitou, mal ou bem, com muita ou pouca sagacidade, ajudar Portugal, numa altura em que as finanças públicas estavam de rastos.
Nunca entendi como é que gente com algum valor e com juízo na cabeça tem aceitado, ao longo dos anos, ter como chefe do seu partido um imaturo autoconvencido como Portas. O oportunismo político não pode explicar a coisa, pois os proventos em termos de cargos e de acesso que o CDS permite são raros e sem grande valor. Terá que haver uma outra explicação.
E essa explicação não pode estar baseada no valor de Portas. Não o tem. Terá que ver com a sua habilidade em controlar a máquina do partido, enquanto chico esperto que nunca deixou de ser.
De facto, a vida partidária portuguesa é feita de mistérios insondáveis.
Vi há pouco o vídeo do programa que a SIC, uma cadeia de televisão privada portuguesa, transmitiu creio que na sexta-feira, para marcar o regresso dos “Gatos Fedorentos” aos seus ecrãs. Foi apresentado sob o título “A Solução”. E foi uma desgraça, um atentado à inteligência dos portugueses, uma vergonha para quem sabe fazer humor a sério, uma armadilha em que fizeram cair um jornalista honesto como o é Rodrigo Guedes de Carvalho, uma bacorada primária que apenas serve para diminuir intelectualmente quem vê televisão.
Por cima de tudo isto, dez minutos de apelo à violência contra gente com responsabilidades máximas na governação do país, personalidades que podem ter cometido muitos erros e com as quais somos livres de estar em oposição, mas que têm direito ao respeito democrático.
Nunca achei os “Fedorentos” particularmente graciosos, nem nunca os vi capazes de ir além de uma graça rasca e de acentuado mau gosto. O seu regresso promete mais do mesmo. É um excelente contributo para o processo de abrutamento que temos estado a viver.
Estive em Braga nos últimos dois dias. O motivo que me levou a essa cidade foi a realização de um seminário internacional sobre as ameaças à segurança de África e da Europa que resultam da situação de instabilidade e de má governação no Sahel.
Tive a oportunidade de partilhar a minha análise desta problemática com os outros participantes e também com um grupo de alunos de relações internacionais da Universidade do Minho. É verdade que cada país do Sahel é um caso, mas existem vários pontos comuns. Um deles, passa pelo cruzamento de um meio ambiente cada vez menos favorável à produção de alimentos, em virtude da desertificação crescente – o Deserto do Sahara avança em direção ao Sul cerca de 48 quilómetros por ano – com um crescimento muito elevado da população da região. Dois em cada três habitantes do Sahel têm menos de 25 anos de idade, o que irá contribuir, por vários anos, para que a população continue a crescer de modo acelerado.
Como não há meios de vida, muitos desses jovens são, pura e simplesmente, candidatos à emigração. E uma pequena franja, mas significativa, será apanhada pelas redes radicais e pelo crime internacional organizado.
No Reino Unido existem cerca de 165 000 comités de segurança de bairro, criados pelos residentes. São os chamados Neighbourhood Watch, ou seja, grupos de voluntários que vigiam o bairro em que vivem, em estreita ligação com a esquadra de polícia da zona. A polícia encoraja a criação desses grupos e dá-lhes o apoio necessário para que funcionem com eficácia.
Deste modo, o Reino Unido é, de longe, o país europeu em que a ligação da comunidade à polícia é a mais forte. É, também, o país com o maior número de câmaras de videovigilância instaladas em locais públicos. Incluindo câmaras par controlo do trânsito.
Tudo isto dá um sentimento de segurança aos cidadãos. Nos outros estados membros da UE a experiência não tem o mesmo tipo de sucesso. Na Bélgica, por exemplo, tem alguma expansão na parte flamenga do país, mas não na capital nem na zona francófona. Muitos dos chefes locais de polícia têm-se oposto à ideia.
Rui Rio tem sido mencionado na comunicação social e em iniciativas de amigos como um possível substituto de Passos Coelho à cabeça do PSD.
Hoje, veio dizer que não é candidato. Que acha que não é altura de pôr em causa a liderança actual do seu partido. Que isso iria destabilizar a governação, a execução das reformas em curso.
Fez-me pensar em António Costa. Também ele era dado como candidato à substituição de António José Seguro, no PS. Respondeu que esta não seria a altura de abrir uma rivalidade.
Ou seja, vamos continuar com Passos Coelho e Seguro, por um lado, e com rivais, por outro, que continuarão a personificar as respectivas oposições internas, mas sem dar o passo em decisivo, para já. Assim destabilizam de modo continuado por não quererem destabilizar num só dado momento, agora.
Com líderes assim, o PSD e o PS andam de facto com os nervos à flor da pele, sem que nada se clarifique de vez.