Por onde ando, fora de Portugal, é raro aparecer alguém, nas discussões públicas ou privadas, que fale da direita ou da esquerda. São expressões que não fazem parte do quotidiano da esmagadora maioria dos Europeus. Quando lhes digo que em Portugal essas palavras aparecem frase sim frase não, nas conversas dos intelectuais, dos meio-intelectuais e dos que estão sempre a falar ou a escrever sobre política, ficam a olhar para mim com aqueles olhos que dizem não ser possível.
Mas é. Aqui, na nossa terra, somos os campeões da catalogação política. E somos, igualmente, uns doidos pela política.
Só não se percebe, contudo, a razão para taxas de abstenção tão altas, quando chega a altura de ir às urnas.
E, dentro de dias, a ver como param as modas, vamos ter um novo recorde de abstenção.
Um dos agentes que se ocupava da minha segurança pessoal na Serra Leoa, um funcionário local ao serviço da missão das Nações Unidas, B. V. são as iniciais do seu nome, escreveu-me hoje. Para informar que acabara de ser transferido para a Líbia, para integrar a secção de segurança da missão onusiana nesse país. Anteriormente, havia estado comigo no Chade, depois de Freetown, e nos últimos anos tem feito parte do grupo de segurança pessoal da Representante Especial do Secretário-geral em Abidjan.
A mensagem que dele recebi lembrou-me de várias coisas.
Da lealdade que este antigo e simples funcionário local sempre demonstrou para comigo. Na Serra Leoa, a minha intervenção fez com que o candidato presidencial do regime não tivesse a oportunidade de roubar as eleições. Ora, B. V. era apoiante desse candidato e da mesma origem tribal. Mas sempre acreditou que eu sabia o que estava a fazer e nunca me atraiçoou.
Da africanização das missões de paz da ONU. Hoje essas missões têm um elevado número de funcionários de origem africana. B.V. é um exemplo. Um bom exemplo. E ainda bem que assim acontece.
Do peso que as questões de segurança passaram a ter. A segurança é a preocupação absoluta numa missão. Depois vem o resto, a política, o humanitário, o desenvolvimento.
Do facto que existem actualmente vários portugueses, normalmente originários da PSP, em funções de segurança na ONU. No Mali, em Bissau, no Haiti, até mesmo em Genebra. E que há muita gente na PSP e na GNR que gostaria de partir e juntar-se aos que já foram recrutados.
As coisas da manutenção da paz são, na verdade, um mundo novo.
A luta política em Portugal é feita aos berros e com chavões. E o comentário político na comunicação social segue o mesmo modelo. Ora, esse é um modelo de intervenção que tem que mudar.
A minha caminhada de hoje, pela manhã, passou por estes tons de verde. Assim acontece todas as manhãs, quando estou por aqui.
E agora os coelhos estão de volta. Não são numerosos, este ano, pois tem havido muita agitação no parque, corvos, cães e pessoas, e os coelhos não se sentem bem com tanta azáfama.
Há também um bando de papagaios de um verde intenso, que, apesar de exóticos, conseguiram um visto dourado e vieram viver para este lado do mundo. Até nos tempos de inverno se avistam.
Neste dia em que formalmente termina o programa financeiro assinado entre Portugal e a Troika, parece-me absurdo andar a discutir quem teve a culpa de levar o país a assinar esse acordo. Olhando para os factos, e sem entrar nas raízes da crise, a verdade é que o governo socialista deixara de ter, em 2011, as condições políticas para conseguir algum tipo de apoio por parte dos outros partidos com representação parlamentar. Por isso, como acontece em democracia, caiu, foi votado contra pelos outros. E daí fomos a eleições, e o eleitorado escolheu. Bem ou mal, foi a decisão da altura.
O que precisamos é de gente – sobretudo de uma oposição – que olhe para a frente. Precisamos de construir o futuro. Preferimos, no entanto, passar o tempo a reconstruir o passado.
A pouco mais de uma semana do dia das eleições europeias, a leveza do debate político entre os cabeças de lista é simplesmente confrangedora. E no que respeita ao resto dos candidatos, vive-se no silêncio completo.
Com um panorama assim, qual é o eleitor que se sente motivado para ir votar?
Com excepção, claro, dos carolas que seguem acriticamente tudo o que o seu partido lhes diz.
Estão, na verdade, a transformar esta eleição numa burrice pegada.
Estes são os links para o meu texto de hoje na Visão.
Escrevo sobre a União Europeia, as próximas eleições e sobre as fragilidades actuais. Sublinho que o único caminho inteligente é o que passa pelo aprofundamento, à medida do possível, da união política.
O problema é, no entanto, outro: poucos são os políticos com coragem de dizer o que deve ser tido. A grande maioria, a ver como estão as coisas, vai optar pela negativa, pelo populismo bacoco.
Para facilitar a leitura do texto transcrevo-o aqui também.
Boa leitura.
Tempestades europeias
Victor Ângelo
A dois passos das eleições para o Parlamento Europeu, é importante falar da Europa de modo positivo e reafirmar a relevância do projecto comum. A opinião pública é um pilar indispensável da construção europeia. Sobretudo numa altura de grande fragilidade, em que a UE é alvo de ataques internos e externos muito sérios, capazes de causar divisões e pôr em causa o futuro.
A nível interno, verifica-se uma convergência de investidas provenientes de vários quadrantes, nomeadamente de forças políticas radicais, extremistas de direita e de esquerda, ultranacionalistas e populistas. As linhas políticas com que se cosem são, aliás, praticamente as mesmas: a demonização do euro e do sistema financeiro; a culpabilização dos outros, do estrangeiro, e outras ficções identitárias que alimentam a xenofobia; o apoucamento dos dirigentes das instituições comuns e dos líderes políticos no poder; a idealização do passado, o mítico em vez do real; a ilusão do regresso às fronteiras nacionais bem como a rejeição de uma visão mais ampla da cidadania europeia. Cria-se assim uma Europa em risco de colapso graças a uma coligação informal de oportunistas, de retrógrados de vários calibres e de iluminados políticos. São gente que procura tirar partido das dificuldades e frustrações dos cidadãos erradamente deixados para trás, dos que não foram ajudados nem preparados para os desafios de uma Europa e de um mundo em mutação acelerada. Em tempos de crise e de incertezas, a política do bota-abaixo e do tribalismo nacional aproveita-se dos medos colectivos e dos desapontamentos sociais. Faz parte das artimanhas dos extremistas saber criar fantasmas e sentimentos de insegurança, para depois tirar os dividendos que daí possam advir. O populismo dá votos, como deu aos ditadores do passado europeu, na primeira metade do século XX. Mas convém lembrar que leva igualmente ao desastre, como a história nos mostra.
Ao nível externo, há os que pensam que uma Europa unida é uma ameaça para os seus interesses geoestratégicos e económicos. Não tenhamos ilusões nem sejamos ingénuos. Quem vê a UE assim, quem olha para nós a partir do prisma do antagonismo e da competição negativa, tudo fará para tirar vantagem das vulnerabilidades actuais e sapar a unidade europeia.
A verdade é que a batalha da opinião pública não está ganha. Há oposição e há indiferença. Por várias razões, a informação e o esclarecimento não chegam aos cidadãos, não atraem o interesse popular. Neste quadro, o texto que François Hollande publicou, a 8 de maio, no diário Le Monde, deve merecer atenção e ser divulgado. Trata-se de uma reflexão construtiva, bem argumentada, realista e equilibrada sobre o que está em jogo nas eleições de 25 de maio. O presidente francês reconhece que a UE está em perigo de desintegração. Lembra-nos que uma Europa fragmentada abriria o caminho a confrontações violentas entre os estados. Seria uma Europa a contracorrente da tendência actual, que visa criar grandes espaços políticos e económicos. Defende, por isso, o reforço político da UE bem como a ideia – controversa mas que merece ser debatida – que esse aprofundamento se possa fazer mais rapidamente entre os estados dispostos a integrar o pelotão da linha da frente.
Penso que o debate nos próximos tempos deve ter em conta esse texto de Hollande. Ao qual juntaria o livro de reflexões que Herman Van Rompuy acaba de publicar – “Europa na Tempestade”. Entre muitas coisas, o Presidente do Conselho Europeu diz-nos que a gestão da crise europeia tem sido inspirada pela determinação de manter a união. É essa vontade que precisa de ser partilhada pelo maior número possível de cidadãos.
Creio ser importante sublinhar que vista de fora, a banca comercial portuguesa é definida em duas linhas: primeiro, tem um peso financeiro insignificante, reflectindo assim a fraca dimensão do mercado bancário nacional; segundo, está tecnicamente às portas da falência.
Lembrei-me disto ao ver os resultados de hoje da Bolsa de Lisboa: os principais bancos perderam, ao longo do dia, cerca de 800 milhões de euros em termos de valor de mercado. O BCP perdeu 10,84%, o BES 8,2% e o BPI 5,89%.
Para poderem sobreviver, estes bancos precisam rapidamente de aumentar o seu capital. O que não será fácil. E será apenas um adiar do problema. A banca portuguesa precisa de uma reestruturação profunda. Viver de vapores e de ar quente não é solução. Temos que ter um sistema bancário privado que seja adequado ao tipo de economia que existe.
Tive hoje uma reunião com uma alemã, uma personalidade reconhecida nos círculos internacionais e que trabalhou directamente com Dmitri Medvedev em São Petersburgo na primeira metade dos anos 90. Fazia parte das suas funções, então, ter um encontro semanal com Vladimir Putine, na altura o responsável, na região de São Petersburgo, pelas relações com as instituições estrangeiras com projectos nessa parte da Rússia.
Achou, nesses tempos, e continua a achar, que ambos são encantadores, mas também profundamente estratégicos. São gente que sabe embalar as mensagens, mas sem perder de vista os objectivos que têm em vista. São líderes que sabem trabalhar a forma e manter uma visão clara sobre a substância. Ou seja, gente que há que tratar com muita atenção, sem amadorismos nem espontaneidades.
O Palito anda a monte desde 17 de Abril, dia em que matou duas mulheres da sua família e feriu outras duas. A zona em que se esconde é uma zona rural, relativamente montanhosa, no norte do distrito de Viseu.
A GNR mobilizou meios excepcionais, mas não o consegue encontrar. Nem vivo nem morto.
Para além dos custos financeiros elevados da operação, há aqui uma questão de credibilidade que está em jogo. Não deveria ser possível a um homem simples como o Palito, por muito bem que conheça o terreno em se move, conseguir fintar a polícia durante tanto tempo. Hoje em dia, há meios, técnicas e conhecimentos mais do que suficientes para impedir que uma situação destas se arraste.
Não é apenas o prestígio da polícia – incluindo da Polícia Judiciária, que está no terreno com a GNR – que fica afectado. É a autoridade do Estado, a começar por quem é responsável pelo Ministério da Administração Interna.
No país mais eficiente que eu gostava de ter isto seria tratado com outra prioridade e com a celeridade necessária.