Ébola e a crise dos Estados da África Ocidental
Critico quem tenta banalizar o impacto do Ébola nos países africanos da África Ocidental. Quem nos diz, com muito cinismo, que a OMS já declarou no passado outras crises pandémicas que afinal, com o tempo, se revelaram controláveis. Quem, com ligeireza, fala do Ébola como se tratasse de uma doença como o Sida, a malária ou a tuberculose. É verdade que estas doenças matam, cada dia mais gente que os que morrem por causa do Ébola. Mas o problema não reside aí. A epidemia está a destabilizar política e socialmente estados extremamente frágeis, que ainda não há muitos anos estavam mergulhados em profundas guerras civis. Há hoje um sentimento generalizado de pânico nesses países. Os governantes estão a perder o controlo da situação social. A unidade nacional, que estava pouco a pouco a ser reconstruída, encontra-se agora, de novo, ameaçada. O investimento político, económico e social que havia sido feito ao longo de anos de pós-crise nacional está em risco de se perder. Ou seja, estamos de novo perante uma crise estrutural na África Ocidental.