Compromissos para sair da crise
Transcrevo aqui o meu texto no Diário de Notícias de hoje:
A crise e os acordos necessários
Victor Ângelo
Na política, como na vida, o compromisso é, muitas vezes, a melhor solução. Reflete um equilíbrio relativo dos interesses em jogo, numa sociedade multifacetada. As maneiras de ver e as preocupações dos cidadãos são um mosaico policrómico. A abertura de espírito, a capacidade de diálogo e a tolerância são a resposta adequada. A política a preto e branco, sem matizes, só existe nas tomadas de posição dos extremistas, nas mentes redutoras e totalitárias. Deve ter um peso marginal numa democracia avançada.
Numa crise nacional profunda, que é a situação em que nos encontramos, só os acordos políticos de grande amplitude permitirão a saída do buraco. É evidente que cada partido deve ter como objetivo eleitoral a conquista de uma maioria absoluta. Assim deverá ser em relação às legislativas de 2015. No entanto, sejamos realistas: apenas o PS parece estar em condições de ter uma ambição dessas. Acho normal que António Costa diga que esse é o alvo que procurará atingir, se estiver à cabeça do seu partido.
Mas não tenhamos ilusões. Mesmo que a maioria absoluta venha a acontecer, os desafios que um governo do PS terá que enfrentar serão de tal modo complexos que exigirão, necessariamente, uma frente política mais ampla.
Há quem pense que essa plataforma alargada se poderá construir à esquerda dos socialistas.
Essa opção seria um erro. Os acordos políticos de fundo, capazes de nos puxar para a frente, terão que ser feitos à volta do papel futuro e da subsequente reforma do Estado, de decisões sobre os investimentos prioritários, da nossa agenda europeia, da segurança internacional de Portugal, no quadro da NATO, e do nosso relacionamento estratégico com Angola, o Brasil e outros. Tudo isto são matérias com linhas de fratura intransponíveis, que excluem qualquer movimento radical de um acordo de regime.