O "relatório" do PS
O Partido Socialista divulgou hoje o que alguns dizem ser um “programa de governo” mas que é apresentado, mais modestamente, como sendo “um relatório”. “Uma década para Portugal. Relatório”. É este o título oficial.
Não se entende bem a razão da modéstia do título. Nestas coisas convém ser mais assertivo, mostrar que a liderança está 100% de acordo com as sugestões feitas, com as hipóteses de trabalho, os cenários e as políticas enunciadas. Não o fazer é sinal de fraqueza. É como que andar a apalpar o terreno, para ver quais são as reacções e decidir depois.
O documento, lido à pressa, tem muitas coisas que merecem atenção. É, certamente, uma boa base de trabalho para uma discussão política a sério com outros partidos e forças sociais. Uma discussão que é indispensável, tendo em conta as dificuldades profundas que o país atravessa.
Tem lacunas, no entanto, sobretudo no domínio das medidas de crescimento económico e de transformação da economia portuguesa, para além de estar construído à volta das questões orçamentais e não das questões de desenvolvimento. Mas contém igualmente propostas válidas e diferentes das políticas que estão em vigor.
Mais especificamente, pode ser acusado de optimismo, ingénuo ou não, no que respeita ao impacto fiscal positivo das projecções que faz do crescimento económico, projecções que assentam em expectativas demasiado cor-de-rosa, e que provavelmente não virão a acontecer, por faltarem as políticas de transformação do tecido produtivo português. Mas tudo isso deve ser analisado com mais atenção.
O documento tem a grande vantagem de clarificar, em grande medida, o que se poderá esperar de um governo socialista em Portugal, nos próximos anos. Alguns gostarão, outros menos e outros ainda, muito menos. Assim é a política.