No dia em que muitos dos bloques portugueses escrevem sobre a PSP, o Benfica e a violência que ocorreu a pretexto das celebrações de adeptos na zona do Marquês de Pombal, em Lisboa, vou escrever sobre uma cadeira, na Noruega.
A historieta é muito simples.
Voltei hoje, três semanas passadas, ao mesmo hotel onde havia ficado da última vez, durante a estada de Abril. O hotel está no centro da cidade de Stavanger, na parte sul da costa ocidental norueguesa. É um estabelecimento recomendado por quem sabe destas coisas. Por coincidência foi-me atribuído o mesmo quarto onde ficara no mês passado. Só que nessa altura a reserva tinha a designação pomposa de “business room”. Agora, é apenas um simples quarto duplo. O resto não mudou. Nada mesmo. Nem mesmo a cadeira que está frente à escrivaninha. Durante a minha visita de Abril o braço esquerdo da cadeira ficou desatarraxado e caiu, ficando preso apenas num ponto, pendurado no vazio. A reparação consistiria em pegar numa chave inglesa e apertar a coisa. Um trabalho que demoraria um minuto a fazer. Para minha grande surpresa, o arranjo ainda não foi feito.
Deve ser por isso que a classificação do quarto baixou. Mas o preço continua a ser o mesmo, que aqui é tudo caro. E eficaz, dizem os nativos…
Vale a pena ver com atenção a sondagem que o Correio da Manhã divulga na sua edição deste domingo e que compara a imagem pública de Passos Coelho com a de António Costa. Como é sabido, nestas coisas da liderança política e do combate eleitoral, a imagem projectada pelos líderes tem muito peso junto do eleitorado.
A comparação é, no seu todo, francamente vantajosa para o líder do Partido Socialista. Há, no entanto, um ou outro aspecto que António Costa terá que ter em consideração. Penso, sobretudo, na questão da indecisão. Esta percepção negativa pode muito facilmente ser explorada pelos seus oponentes.
Quanto a Passos Coelho, os resultados mostram que existe um grande risco de rejeição por desgaste de imagem após quatro anos de governação em clima de crise. Para além das políticas adoptadas, fica a certeza que a máquina de informação e propaganda do seu partido e da sua governação não funcionou bem. Fica ainda uma certeza maior que diz respeito à falta de sensibilidade do Primeiro-Ministro em relação a certos aspectos marcantes da opinião pública portuguesa – a recente menção ambígua de Dias Loureiro é apenas um exemplo ainda fresco. Não se pode tratar o eleitorado com opiniões ligeiras e superficialidade. Uma das principais funções de um líder político é a de manter o contacto e a sintonia com os cidadãos.
O líder deve passar uma boa parte do seu tempo a cultivar a ligação com as pessoas. Essa é, para além de dar direcção à acção política, a principal tarefa de um bom líder. É assim que se deve exercer a liderança no mundo de agora. Curiosamente, esta verdade tão óbvia não entra na cabeça dos nossos dirigentes.
A conferência organizada pelo Presidente da República sobre “Portugal e os Jovens” permitiu uma reflexão importante.
O estudo que encomendou ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa sobre “EMPREGO, MOBILIDADE, POLÍTICA e LAZER: SITUAÇÕES E ATITUDES DOS JOVENS PORTUGUESES NUMA PERSPECTIVA COMPARADA” é particularmente elucidativo. Mostra, acima de tudo, uma juventude afastada da prática de cidadania, confusa e com pouca esperança, pronta, em grande medida, a emigrar e a procurar futuro noutros cantos da Europa.
A interrogação que fica, no final de acontecimentos deste género, é sempre a mesma: e agora?
Dito de outra maneira, que acções ou medidas vão ser tomadas? Quem toma a liderança? Quem deve ser responsabilizado para que as coisas comecem a mudar?
E, como noutros casos, a resposta é tristemente simples: as palavras esquecem-se, os diagnósticos não têm tradução prática, ninguém altera uma vírgula às políticas existentes, ninguém pega na bandeira.
Infelizmente, tenho que voltar a escrever sobre o bullying nos meios escolares. Não apenas por causa do novo caso que chegou à comunicação social – os maus tratos inaceitáveis contra um rapaz de 12 anos, no autocarro do colégio, em Leiria. Nem mesmo porque o condutor do autocarro fingiu que não era nada com ele e por a directora do colégio ter tentado esconder o incidente. Volto ao assunto porque um imbecil de um comentador numa rádio de prestígio veio dizer que o bullying sempre existiu, dando a entender que não há razão para tanto alarido. Ou seja, procurou fazer em público o que muitos fazem pela calada: banalizar a coisa, achar normal que jovens abusem física e psicologicamente de outros jovens.
É contra este tipo de cretinismo opinativo que me bato. É a razão de ser deste blog. E faço-o por saber que estas barbaridades de opinião são moeda corrente, aqui por este país. Noutros países, que conheço e frequento assiduamente, a tolerância em relação aos comportamentos violentos nas escolas é zero. Não se aceita. Responde-se a cada caso de violência com firmeza e celeridade. E fazem-se repetidas campanhas de esclarecimento sobre o respeito pelos outros, os direitos de cada um e os valores da cordialidade e da compreensão em relação aos que são diferentes. A verdade é que essa maneira de tratar o problema dá resultado.
Portugal precisa de levar uma grande volta. Incluindo nesta área e no domínio mais vasto da educação. A permissividade e a passividade actuais estão a dar espaço e a criar os primários de amanhã, os portugueses do subdesenvolvimento, que pouco mais saberão fazer na vida do que dar bofetadas, dizer palavrões, protestar a torto e a direito, e votar pelos partidos radicais, na vã esperança que a sociedade assuma o encargo de tomar conta deles, das suas frustrações e das suas incapacidades.
De vez em quando, nestes escritos que aqui vou deixando, chamo a atenção para a problemática do bullying nas escolas portuguesas, incluindo sob a forma de praxes académicas. É um problema sério, frequente e, tantas vezes, propositadamente ignorado. Ou seja, quem tem responsabilidades finge que não sabe, que não vê. E deixa andar.
O que se passou na Figueira da Foz – a agressão em grupo de um aluno, de modo prolongado e criminoso – é mais um triste e chocante exemplo da violência que existe nos meios escolares ou na proximidade. Neste caso, ninguém pode acreditar que não se tenha sabido do incidente durante um ano. Mas a verdade é que foi necessário que aparecesse um vídeo no Facebook para que se visse algum tipo de resposta por parte das autoridades, dos pais e das testemunhas do acontecimento.
Vamos agora estar atentos ao seguimento que o caso irá ter. Teremos a resposta que se impõe ou ficaremos, uma vez mais, no reino do indefinido e da irresponsabilidade?
Só num país de novela se pode imaginar uma situação em que vemos magistrados a escrever coisas estranhas, comentários mais ou menos inaceitáveis, nas suas páginas, nas redes sociais. Também terá que ser de um país de novela e fantasia a situação que permite que cidadãos se socorram do Facebook e outras redes para insultar juízes e altas personalidades do Estado.
Será que os eleitores europeus estão cada vez mais conservadores?
Agora foi a vez da Polónia. Na primeira volta das eleições presidenciais, que ontem tiveram lugar, os dois candidatos da Esquerda, Magdalena Ogórek, que concorreu em nome da Aliança Democrática de Esquerda – o antigo Partido Comunista polaco – e Janusz Palikot, que teve o apoio dos socialistas e sociais-democratas, conseguiram apenas uma mão cheia de votos. A primeira teve 2,4% e Palikot não passou de 1,6%.
Estes resultados fazem da Polónia o país mais à direita da UE. É, igualmente, um dos mais nacionalistas e, ao mesmo tempo, um aliado seguro dos Estados Unidos. Tudo isto é importante se tivermos em conta o peso relativo do país no conjunto das instituições europeias – não digo isto apenas porque o polaco Donald Tusk é o Presidente do Conselho Europeu – bem como a sua influência nas questões de defesa europeias, uma ascendência que é maior do que parece.
Estamos em pleno período pré-eleitoral. Mas as intervenções de quem está em evidência não saem para além de duas questões: as finanças públicas e os benefícios sociais. São ambas certamente importantes. Não devem, porém, fazer esquecer outras dimensões que me parecem fundamentais. Ou seja, para além das matérias orçamentais e das promessas de subsídios e coisas similares, há que ter em conta a economia, a educação, a segurança dos cidadãos e o reforço da disciplina cívica.
A economia levanta a questão dos investimentos e do clima de negócios. Sem novos investimentos não haverá emprego nem receitas públicas adicionais. Sem um clima institucional e legal favorável e estável não haverá crescimento dos investimentos. Sem esquecer que as promessas sociais têm que ser realistas para não espantar o investimento estrangeiro e nacional. Promessas aventureiras ou fantasiosas fecham as portas ao investimento.
A educação está, em boa parte, num caos. Neste momento, só serve para produzir os pobres e os revoltados de amanhã. Precisa de ser sacudida de alto a baixo. A autoridade dos professores, que tem várias dimensões e passa igualmente pelo respeito pela profissão, deve ser restabelecida.
A segurança interna é uma preocupação que tem vindo a ganhar peso. Os mais frágeis são os que mais sofrem com a insegurança e a falência do Estado de direito.
Quanto à disciplina cívica, basta lembrar que sem respeito pelo próximo, pelo vizinho, pelos outros cidadãos, pelas regras e pelos valores morais não há país que consiga sair da cepa torta. A nossa maneira de estar em sociedade requer uma reflexão e um novo compromisso social. Cabe aos líderes abrir o debate e mostrar o exemplo. O tempo dos “espertos e despachados”, do sem rei nem roque, já deu o que tinha a dar e não faz parte da cultura democrática. É um sinal de subdesenvolvimento.
Sobre a mediocridade patente da política portuguesa, não há nada melhor do que prestar atenção às palavras de quem conhece os podres da coisa por dentro. Assim, não resisto à tentação de mencionar o que Rui Rio afirmou ontem, em público, em Famalicão.
Passo a citar Rio: "Continua a haver muita gente de qualidade na política, mas a quantidade dos que não têm qualidade é cada vez maior. Os de fraca qualidade são cada vez mais e os de qualidade são cada vez menos"
As eleições britânicas vieram confirmar várias tendências, sobre as quais deverei escrever no próximo texto a publicar na Visão. Para já, quero apenas lembrar que a estratégia eleitoral dos Conservadores foi concebida e dirigida por um especialista australiano, Lynton Crosby, a quem o partido de David Cameron pagou uma fortuna. Crosby aproveita-se das divisões internas que possam existir no partido adversário. Explora-as de um modo muito hábil, acentua-as, de modo a fazer crer ao eleitorado que esse partido é um saco de gatos assanhados que não se entendem e em quem não se pode confiar, ou, pelo menos, um partido com uma liderança fraca, incapaz de se impor e que por isso não tem garras para dirigir o país. O objectivo último consiste em desgastar e descredibilizar a imagem do líder oposto. É uma táctica que é jogada, em simultâneo, de modo aberto e de maneira subtil, para aumentar a credibilidade dos ataques. Pressupõe a existência de uma equipa que, na sombra, só trata disso.