Um optimista acaba por escrever, com mais ou menos frequência, sobre causas perdidas.
Não sei se Portugal é uma causa perdida. Mas a verdade é que procuro escrever pouco e espaçado sobre o nosso país. Mas hoje, volto à carga, o que fará de mim, talvez, um optimista arreigado ou, no pior dos casos, palerma.
Assim, depois de ver o que passa no meu bairro, aqui junto ao estádio do Belenenses, e noutras partes da cidade de Lisboa, onde a incompetência e o desleixo do município nos entram pelos olhos dentro, fico a pensar no que irá acontecer ao pobre do país, quando as eleições forem ganhas, como parece que poderá ser o caso, por quem tem mostrado provas tão evidentes de desinteresse pelas coisas públicas e pouca capacidade para discernir o que devem ser as prioridades de uma população. Sem contar com o pouco jeito para fazer funcionar as coisas.
Fico, mais ainda, que gostamos de eleger quem por aí anda a vender ar quente. Como tantas vezes tem acontecido.
Ontem entrei em três lojas na baixa lisboeta. De cada vez, os empregados interpelaram-me, à partida, em inglês. Depois disso, fiquei com a impressão que deveria ser um dos raros portugueses que ainda vão às compras ao Rossio e ao Chiado.
Neste dia em que um camião foi atacado e levado para parte incerta por cinco homens armados na auto-estrada do Norte – a A1 – a poucos quilómetros do Porto, volto a dizer que a violência contra as pessoas e a propriedade são um problema muito sério, no Portugal de agora. Basta comparar as notícias diárias sobre incidentes graves de insegurança, espalhadas nos mais diversos órgãos de comunicação social, com as publicadas na Bélgica, um país com uma dimensão semelhante à nossa, para se ver que temos um problema bem significativo. E que se tem agravado nos últimos anos.
É, além disso, um problema que os políticos da governação procuram esconder. A narrativa que lhes interessa é a de um país seguro. Uma vez mais o discurso público tem como objectivo escamotear a falta de capacidade política para resolver um problema que afecta muitos, em particular os mais pobres, os mais idosos e as mulheres. E que poderia ser resolvido, se houvesse coragem política, competência e preocupação de verdade com o bem-estar dos cidadãos.
Os intelectuais de serviço, neste estranho país que é o nosso, continuam a primar pela superficialidade e a acreditar num mundo que já foi. São produtores de ideias reacionárias com sabor a radicalismo progressista.
Os directores dos jornais e das televisões, que pertencem o mesmo clube de aldeões iluminados, dão-lhes guarita e amparo.
E assim se forma uma opinião pública que nada tem que ver com a modernização da sociedade e a responsabilização de cada um de nós. Uma opinião que vê nos outros a culpa de todos os seus males.
No dia em que a GNR celebra os seus 104 anos de existência, é importante escrever a palavra reconhecimento. Na verdade, essa força de polícia merece uma apreciação positiva e um agradecimento, por parte de todos nós.
Também me parece importante voltar a afirmar que o poder político, à direita e à esquerda, continua sem ter a coragem necessária para pedir à GNR e à PSP que, em conjunto, apresentem uma proposta de reforma da maneira como se deve reorganizar, de modo mais eficaz e coordenado, a manutenção da ordem pública e a segurança dos cidadãos, no país moderno que Portugal pretende ser.
Tinha uma viagem programada com a TAP para hoje à tarde. Porém, logo após o anúncio da longa greve de dez dias, pedi um voucher de reembolso e reservei o voo numa outra companhia.
Ainda tenho o regresso marcado para um voo da TAP, tendo em conta que essa etapa terá lugar já fora do período de greve. Depois, qualquer nova viagem com a transportadora nacional exigirá muita ponderação, muito cuidado na tomada de decisão. Não digo que deixarei de viajar com a TAP. Mas só o farei em reservas de última hora, quando haja um mínimo de certeza no que respeita à realização do voo e quando a diferença de preço e a conveniência de horário o justificarem.
Viajar com a TAP não é uma questão de patriotismo. É uma questão comercial e de pertinência dos horários. A ideia de companhias de bandeira já não existe. A TAP é uma companhia como qualquer outra. Deve ser medida por critérios de fiabilidade e de custos. Está inserida num sector extremamente competitivo, com margens de lucro cada vez mais apertadas. Por isso, tem que ter um comportamento que inspire confiança aos potenciais clientes. O que não é o caso com esta longa greve. E sem confiança não há futuro.