O exagero é mau remédio
Ao chegar esta manhã a Addis Ababa tive tempo para ver o que se escreveu nos jornais portugueses, como comentário e opinião, sobre Paris e os crimes brutais e cegos de sexta-feira. E tempo também para concluir que a opinião de certas figuras públicas portuguesas está cada vez mais a percorrer as ruas da amargura. Num dos exemplos, o opinante, autor de uma extensa página, achava que era altura de convocar uma reunião da NATO sobre os atentados, a pedido da França e com base no Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte.
Um exagero.
O Artigo 5º só se aplica no caso de uma ameaça exterior, de natureza militar, contra um Estado membro da Aliança. Em princípio, destina-se a preparar uma resposta de defesa colectiva quando a soberania nacional de um dos Estados está ameaçada.
Certos países da Aliança Atlântica já desempenham um papel na Síria e no Iraque. Em coligação com Estados da região. Isso deve continuar, sem que seja necessário dramatizar com o recurso incorrecto ao dito Artigo.
O que se passou em Paris e o seguimento desses dramáticos acontecimentos exigem, isso sim, respostas que pertencem às polícias e às autoridades judiciais, bem como soluções políticas. E tudo isto deve ser feito em coordenação com as autoridades dos países vizinhos e de outros, segundo as necessidades das investigações e as conclusões políticas que venham a ser tiradas. Mas, como dizia ontem aqui mesmo, o que tiver que ser feito deve ser feito num quadro que combine o nacional com o europeu, com serenidade, para não dar lugar a histerias políticas, a medos colectivos, para que o nosso espaço de direito e de tolerância possa ser salvaguardado.