A minha contribuição para a exaltação nacional
Nos últimos dois dias, paira no ar uma onda de patrioteirismo. A malta que escreve na comunicação social ou que prega nas televisões virou toda patrioteira e lírica. Falam do mar, das centenas de milhões que partilham a língua – vi há dias uma reportagem da televisão de Cabo Verde e o chefe dos bombeiros de uma das ilhas mais importantes era incapaz, ele e os outros, de dizer três frases de seguida em português –, das cidadanias CPLP, dos Cabos do Bojador e assim por diante. Andamos com a pátria aos pulos nos lábios. É um tempo de exaltação.
Ora, eu sou dos que pensam – não seremos muitos, creio – que o patrioteiro é um português bacoco que procura refúgio na ilha que é povoada pela sua própria ignorância e incompetência. É a resposta geral ao facto de não conseguirmos sair da cepa torta. Vive-se numa glória passada, que nos foi contada pelos nacionalistas do fascismo, e acreditamos nisso, como compensação, por não termos garras para construir um futuro melhor para todos nós.
Somos, na verdade, um povo de marinheiros em naufrágio permanente.