Os meus comentários de hoje, no programa semanal da Rádio Macau "Magazine Europa", têm como focos as tomadas de posição do Parlamento Europeu sobre a reforma das instituições e o futuro da UE, a Áustria, o seu Chanceler e a sua economia, e, por fim, Martin Schulz como competição a sério, que poderá impedir um quarto mandato de Angela Merkel, após as eleições gerais de Setembro.
Vivemos num período de trapalhadas políticas, de lideranças medíocres e de oportunismos descarados. Não será pior do que noutros períodos da história recente, dizem alguns. Não sei se têm razão. Sei apenas que os casos de incompetência e de corrupção se sucedem, aqui e noutros países da Europa. Veja-se o caso Fillon, em França. Ou a enorme rede de abusos de poder na região belga da Valónia, em que certos dirigentes políticos se aproveitaram dos seus cargos para se fazerem nomear – e aos seus acólitos – para a administração de dezenas de empresas públicas, regionais e municipais. Alguns presidentes de câmara ocupavam, em simultâneo, até 30 lugares em diversos conselhos de administração, tudo remunerado mas sem que houvesse uma qualquer prestação efectiva de trabalho.
Em Portugal, as listas de arguidos aumentam todas as semanas. Gente que fora dada como boa está agora com um processo às costas. É verdade que muitos desses processos passam anos a marcar passo. E ficam depois em águas de bacalhau. Mas, entretanto, serviram para desacreditar ainda mais as nossas elites políticas e dos negócios. E isso é meio caminho andado para a germinação do populismo.
Sou dos que advogam que este é o ano do aclaramento no que respeito ao futuro da UE.
As pressões internas e externas são agora imensas. Os riscos maiores do que nunca. O projecto europeu precisa de se focalizar no que é importante e mobilizar as energias das instituições e das organizações da sociedade civil para que se atinjam os objectivos que deveras contam. Esses objectivos passam por um reforço da coesão política, por uma maior integração económica, pela desburocratização e o consequente aliviar das cargas fiscais, pela luta contra o nativismo e a xenofobia, pela solidariedade social inteligente, pela defesa e a segurança comuns. E, acima de tudo, por uma definição muito clara dos valores humanistas que partilhamos, que fazem da nossa parte do mundo um exemplo de liberdade e de respeito pelos direitos das pessoas, e pela construção de uma identidade europeia que possa ser uma bandeira de cidadania.
Nem todos os países membros estarão dispostos a avançar no sentido de uma unidade aprofundada. É, por isso, fundamental que se diga que a construção do futuro europeu se deverá fazer por círculos. Serão círculos concêntricos, na medida em que haverá sempre um conjunto de princípios que será partilhado por todos. Mas, a partir daí, desenhar-se-ão outros círculos, que abrangerão apenas uma parte dos estados membros. Cada estado inserir-se-á no círculo que melhor entender, tendo em conta as suas circunstâncias nacionais.
Não é uma Europa a “duas velocidades”, como por aí se diz. Não vamos todos na mesma direcção. É uma visão diferente de aspectos importantes do projecto. Muitas das dimensões dessas visões nunca serão partilhadas pela totalidade dos estados membros. Por isso, não se trata de avançar a uma velocidade diferente. É, isso sim, um nível de ambição distinto.
Os três temas dos meus comentários desta semana na Rádio Macau estão no título do blog.
O programa foi muito bem recebido. As opiniões expressas são tidas como saindo das linhas usuais de comentários sobre estas coisas, em que os comentadores andam todos a repetir os que outros já disseram.
Ando por aí a dizer que o debate sobre as despesas de defesa da Europa não se pode limitar a um indicador apenas.
É verdade que os estados-membros da NATO, a começar pelos europeus, se comprometeram na Cimeira de 2014 no País de Gales a aumentar os orçamentos públicos destinados à defesa, de modo a atingirem o montante de 2% do PIB nacional. Gradualmente, aliás, tendo como horizonte o ano 2024.
Atenção, porém!
Esta percentagem é um valor indicativo, uma ordem de grandeza que serve de referência política ao nível do secretariado da NATO. Neste momento, apenas os EUA, o Reino Unido, a Grécia, a Estónia e a Polónia atingem esse patamar. Mas a percentagem não chega. É preciso que a estrutura das despesas tenha em conta as necessidades actuais das forças armadas, tendo em conta os novos tipos de ameaças e a ênfase relativa que deve ser dada a cada dimensão da defesa. Gastar dinheiro com estruturas inadequadas, quadros conceptuais errados e meios obsoletos é mero desperdício. Uma parte importante do debate terá que passar por essa análise da estrutura das despesas.
Isto de andar a pôr a culpa nos outros é uma velha artimanha política. Trata-se da táctica do bode expiatório. Também é uma solução de facilidade para o comum dos mortais, a condição a que pertencemos. Simplifica-nos a alma, é uma terapia barata.
Um dos exemplos actuais, aqui pelas nossas santas terrinhas, passa por culpar os alemães de tudo o que nos acontece de mal, de todas as nossas dificuldades. E pomos à cabeça a Chanceler. Logo a seguir o seu pouco diplomático Ministro das Finanças. A nossa economia não cresce, as culpas encontram-se nas políticas alemãs. Temos um Estado insuficiente e ineficaz, inutilmente burocrático e pesado nos seus custos, endividado por isso até ao tutano, incrimina-se os germânicos. As taxas de juro da dívida pública são as segundas mais elevadas da zona euro, e a falta é deles, dos do lado de lá.
E já agora também será por causa dessa mesma gente de fora que o PIB da Lituânia, um país minúsculo e recuado, está este ano a ultrapassar o de Portugal.
Por vezes tento convencer os meus amigos que é preciso olhar para a deficiente qualidade dos nossos dirigentes políticos, para a pequenez dos nossos empresários, para a mediocridade da nossa elite social que se habituou a viver de rendas e de cunhas. E para outras gentes que por aí andam, incluindo as redes secretas que dão o primado à confraria em vez do mérito.
Fico, então, com a impressão que estou a perder o meu latim…
Mesmo assim, vou insistindo de vez em quando, com cuidado, que isto é terreno fértil em mal-entendidos. Mas não irei falar com os alemães. Esta conversa é uma discussão que tem que ser, acima de tudo, nacional, entre nós.
O deputado é um insensato radical. Felizmente, a direcção do seu partido, o PS, veio pô-lo nos eixos. E o rapaz teve que dar o dito por não dito. E ele tem muito jeito para trocar os pés pelas mãos.
Para já, tudo bem.
Ou quase, pois esse radical do verbo continua a participar activamente e de modo regular em debates televisivos. Ou seja, tem uma plataforma adicional, para além da Assembleia da República. Quem o convida e lhe paga para que apareça todas as semanas num programa emitido por um canal de cabo, pratica uma política editorial com a qual não concordo.
Não há problema em dar tempo de antena a esse tipo de tresloucados políticos. Mas há, sim, quando isso é feito com o vedetismo que um programa semanal de debates lhes proporciona.
A minha colaboração com o Geneva Centre for Security Policy aparece finalmente em linha, culminando assim mais de dois anos de ligação com esse Centro altamente reputado:
Aqui vos deixo o link para o programa desta semana na Rádio TDM de Macau, em que falo do Brexit, da Grécia e das manifestações de rua na Roménia. Como sempre, um gosto trabalhar com os profissionais baseados em Macau, Rui Flores e Sofia Jesus.
Ontem decidi lavar o carro. Não por ser véspera do Dia dos Namorados, mas porque a viatura estava mesmo a precisar, sobretudo depois de uma viagem ao campo, numa tarde de mau tempo.
Dei várias voltas às zonas da grande cidade que me são vizinhas. Estava tudo cheio e com filas de espera. Farto de tentar arranjar vaga nas estações de trabalho manual, acabei por ir direito à lavagem mecânica. Também aí havia bicha, mas a coisa andava mais depressa.
Fiquei à espera e a lembrar-me que se diz por aí que os homens de uma certa idade prestam mais atenção às suas viaturas do que às suas esposas. Acabei por me convencer que talvez assim fosse. Mesmo numa véspera como a de ontem. Mas ao chegar a minha vez, o empregado da geringonça lavadoura deixou-me na dúvida. Dúvidas, sempre dúvidas. Segundo ele, quando o sol aparece em Bruxelas, é mesmo assim. As pessoas lembram-se que é altura de ir à lavagem. E entopem o mercado, que já por si tem pouca oferta, que isto de esfregar chapa é coisa de imigrantes, no fim da escala.
E fica tudo a brilhar, por uns dias, enquanto se espera pela chuva e pelos traços da poluição ambiente.