Maneiras de olhar a vida
Em todas as sociedades há quem empurre para baixo e quem puxe para cima.
O meu amigo Beto pertence ao primeiro grupo. Tem um prisma especial para ver o que se passa à sua volta. Um prisma que combina insucesso com inveja. É um apologista sistemático da igualdade pela mó de baixo, um crítico combativo, persistente e azedo, de quem vai além da cepa torta. Beto viveu a sua vida como quadro mais ou menos superior, sem mais, numa repartição do Estado. Sempre com razões de queixa. Sobretudo, dos políticos. Agora, recém reformado, encontra consolação na sua luta pela mediocridade generalizada.
Almocei ontem com ele.
E do outro lado da mesa estava a Isabel. Um caso completamente diferente. Isabel, mais jovem de quase vinte anos, trabalha numa empresa conhecida na nossa praça. Olha para o futuro pela lente das oportunidades. Para ela, o sucesso dos outros, quando honesto, é uma fonte de satisfação, de esperança e, mesmo, um motivo de inspiração. Isabel nunca baixa os braços, mantêm uma atitude positiva perante a vida. Acredita no futuro e luta por ele.
E ali estava eu, preso na teia estranha das amizades, a ouvir um e o outro, e a acreditar que com a sobremesa, ou já na altura do café, me seria dada a oportunidade de dizer que mais vale um bom café amargo que uma aguardente para esquecer.