A gestão da água e falta de visão política
Passei um par de dias a conduzir pelas zonas fronteiriças que separam o Baixo Alentejo e o Algarve da província espanhola de Huelva. Ambos os lados estão a fazer um uso intensivo das reservas de água disponíveis. Não parece haver regras, nem uma visão sustentável da gestão do recurso. Primam os olivais, os laranjais, os diversos pomares, as vinhas e outras culturas, bem como uma utilização desenfreada da água para alimentar uma proliferação de piscinas e de jardins privados. As reservas freáticas e os lençóis em profundidade, que se formaram ao longo de milhões de anos, estão sob pressão frenética, por motivos comerciais e porque os novos-ricos querem que as suas residências secundárias se assemelhem às vivendas das estrelas de Hollywood. O próprio Alqueva está a ser chupado a toda a velocidade, para regar centenas de milhares de pés de oliveiras, campos de milho a perder de vista – sim, em pleno Verão, milho nas securas do Baixo Alentejo, mas que aberração – e uvas e mais uvas. A floresta tradicional, menos exigente em água, mais adaptada ao clima e às condições do solo, só sobrevive nas zonas de serra e onde se cria o porco ibérico.
A água será, nestas regiões, e noutras da Península, uma das grandes questões do futuro. E poderá vir a ser, à volta do Guadiana, uma fonte de tensão entre os dois países vizinhos. É um tema essencialmente político, que é totalmente ignorado pelos anões políticos que por aí andam.