Estão a dar gás ao fulano. E ele e os seus aproveitam-se dessa estupidez. Pouco a pouco, irão tentar ser a personificação de tudo o que é oposição da velha direita ao Partido Socialista, da raiva que sempre existe contra quem parece não querer largar o poleiro político. Procurarão ser vistos, por uma parte dos eleitores, como a única réplica corajosa e ousada a António Costa e aos seus. Tentarão marcar a agenda mediática. Não são tolos. Antes pelo contrário, estão a crescer e a marcar pontos.
Assim crescem os movimentos políticos desse género.
Na altura em que se tenta concluir a conferência da ONU sobre o clima, que está a decorrer em Madrid há duas semanas, convém lembrar que os três bancos gigantes japoneses – Mizuho, Mitsubishi UFJ Financial Group e o Sumitomo Mitsui Banking Corporation – ocupam os primeiros lugares no que respeita ao financiamento de novas centrais a carvão. Sim, a carvão. Em quarto lugar, está o banco americano Citigroup. O muito europeu e certinho BNP Paribas ocupa a quinta posição.
Boris Johnson ganhou as eleições legislativas britânicas. De uma maneira clara, seja qual for o prisma de análise dos resultados. Tem o poder nas mãos, de modo absoluto. É ele quem manda, no governo e no Parlamento. E isso poderá continuar assim, nos próximos quatro ou cinco anos de mandato. O que mostra que um líder forte, na chamada democracia britânica, usufrui de um nível incontestável de autoridade. Os outros poderão dizer o que entenderem, fazer o barulho que quiserem, no Parlamento ou fora dele. Mas quem manda é o Primeiro-Ministro, quando esse lugar é ocupado por uma personalidade como Johnson e, por outro lado, quando dispõe de uma maioria muito folgada, em Westminster.
Para além do Brexit, Boris Johnson irá propor uma série de medidas, incluindo uma que reduza o poder do Tribunal Supremo, que limite a sua capacidade de controlar os abusos de poder vindos da Primatura ou do Parlamento. Também aqui fica claro que a democracia de que se fala é mais cosmética do que uma beleza política de facto.
Boris Johnson ganhou porque soube mostrar determinação, clareza, foco e repetir constantemente as mesmas três ou quatro mensagens-chave. Prometeu a Lua e mais um ilusão, mas evitou prometer um catálogo sem fim de medidas, que por serem muito diversas, perdem-se na cabeça dos eleitores e arruínam a sua credibilidade. Mas ganhou, acima de tudo, por ter sabido bater a tecla do Brexit. A opinião pública estava farta do tema, das divisões que acarretava. Votar em Johnson significaria fechar esse capítulo.
Agora que tem o poder nas mãos, Boris Johnson poderá tentar a via da moderação. Sabe que essa é a única maneira de manter o reino unido. Terá, nomeadamente, que mostrar resultados na Escócia. Mas, não será fácil. O processo de desintegração do Reino Unido – agora com maiusculas – aprofundou-se com as eleições de ontem.
Do lado europeu, há que manter uma posição que mostre interesse na continuação de uma relação privilegiada com Londres e Boris Johnson. Creio que assim acontecerá.
Aquele fulano que foi acusado de tentar furtar um perfurme numa das lojas francas do aeroporto de Lisboa e o deputado venturoso não serão certamente as personalidades do ano português. Mas que as suas peripécias animam um certo tipo de jornalismo, disso não tenhamos dúvidas. Lembram-nos, ainda, que nem tudo o que é público deve ser levado a sério.
Depois fiquei a pensar que talvez o perfume fosse para tirar o mau cheiro ao deputado.
Esta é a altura do calendário em que a famosa revista Time anuncia a “Pessoa do Ano”. Uma escolha deste tipo é quase sempre polémica. Nestas coisas, agradar a gregos e a troianos seria simplesmente impossível. Uma escolha é uma decisão, que recai sobre um e exclui muitos outros. Mas o veredicto anual da Time é notícia grande e tem muito significado. A pessoa escolhida é sempre alguém que teve ao longo do ano um grande impacto, quer positivo quer negativo, ou ainda, um impacto que não deixou ninguém indiferente. Há, quase sempre, muito espaço para controvérsia. Este ano a Time optou por Greta Thunberg. Em termos de influência, Greta mostrou claramente que a tem. Ela, mais do ninguém, marcou a agenda ambiental ao longo dos últimos 12 meses. E fê-lo com clareza e persistência, numa altura da vida – aos 16 anos de idade – em que as preocupações são, em regra geral, de outro tipo, como é aliás normal em pessoas tão jovens. Greta transformou a sua tenra idade numa alavanca. Também, num sinal que nos faz pensar que as novas gerações vão produzir líderes muito determinados. Numa outra perspectiva, que me parece igualmente importante, Greta Thunberg permitiu a todos os curtinhos da mioleira, reacionários e outras bestas ideologicamente puras, de direita e de esquerda, que por aí andam, sair da toca. Tem sido um revelar quotidiano, quer na comunicação social quer nas redes da internet, de todos os broncos que temos entre nós, incluindo nas nossas listas de “amigos virtuais”. Gente que olha para a jovem com olhos de demolir. Gente que se acha esperta demais para poder aceitar o fenómeno de massas que Greta representa. Pessoas que fazem do sarcasmo a sua maneira de estar na vida. Não sei se a Time teve este aspecto em linha de conta, se pensou no que Greta provocou junto desses boçais. Eu tenho. Também por isso, acho a escolha feliz.
O movimento “Convergência”, que agrega bloquistas descontentes com a maneira de actuar da direcção do Bloco de Esquerda, esteve reunido hoje em Lisboa. As intervenções ao longo do dia e as declarações partilhadas com a comunicação social, mostraram que existe uma enorme falta de democracia interna no seio desse partido. Ficámos a saber, coisa grave, que o programa eleitoral do Bloco não foi discutido pelos militantes. Foi apenas um trabalho de cúpula. O autoritarismo no interior dos partidos políticos é uma das fraquezas do nosso sistema político. É, em grande medida, um mal geral. Também não entendo a razão que leva os dirigentes dos partidos a não ter consciência de que uma maior participação interna é mobilizadora, dá outra dinâmica aos militantes e acaba por se traduzir num acréscimo de votos. Na realidade, quando estamos no poleiro, por mais modesto que esse seja, temos tendência para copiar o que se passou aqui durante décadas, o quero, posso e mando.
Ontem, a paisagem dos 70 anos de idade abriu-se à minha frente. À partida, o horizonte oferece os tons próprios desta estação da vida, com cores que são hoje mais vivas do que aquelas encontradas pelas gerações que nos precederam.
Recebi muitas mensagens, por todos os meios, de muitas pessoas amigas e conhecidas. A todos agradeço. Como agradeço muito especialmente ao casal de amigos que se deslocou propositadamente a Bruxelas, para poder passar umas horas comigo. E, claro, à família mais chegada.
Um dos meus “afilhados”, gente mais jovem que trabalhou em determinado momento da minha vida internacional comigo, mandou-me uma mensagem de Bujumbura, a capital do Burundi, o seu país de nacionalidade. Foi uma mensagem diferente, de um Africano jovem, com uma família ainda a crescer. A mensagem desejava-me, com todas as letras, “uma velhice feliz”. É o tradicional respeito pelos velhotes.
Fora isso, a luta continua, como diziam lá para os lados de Luanda.
Acima vos deixo o link para o texto de opinião que publico no Diário de Notícias. Nessa escrita, levanto algumas questões menos ortodoxas, no seguimento da celebração dos 70 anos da NATO.
Faço-o num estilo diferente do que me é habitual. Que acham dessa maneira de escrever? A preocupação foi a de não chover no molhado, de fugir ao que muitos dos outros dizem e repetem.
Como vários dos meus amigos já sabem, 70 anos pesam. E num ou noutro caso, deixam-nos cheios de incertezas e ambiguidades. Por isso, senti uma certa simpatia pela maneira um pouco confusa como decorreram as celebrações do aniversário da NATO.
Ao reler notas passadas, a minha empatia com a confusão de agora aprofundou-se. Vejamos o caso da Turquia. As minhas notas lembram-me que em finais de 2015, numa reunião de altos comandos, os representantes do governo do Presidente Erdogan insistiam que a Rússia era um perigo maior. Parte dessa insistência explicava-se pela rivalidade que existia então entre a Turquia e a Rússia no Médio Oriente, nos países da região do Cáucaso e na Ásia Central. Ambos procuravam ganhar terreno e influência e viam o outro lado como o obstáculo maior. Hoje, nesta data de aniversário, a Turquia e a Rússia aparecem como parceiros, o que deixa muitos outros países da Aliança um pouco mais do que pasmados.
Mas estas coisas das Alianças são assim. Fazem-se, definem-se e evoluem ao sabor dos interesses de cada país influente. São fluídas, como o é a interpretação dos interesses nacionais de cada Estado. A única coisa que não muda é a ambição desmesurada pelo poder, que certos actores políticos escondem nas suas entranhas.
Neste dia em que Greta Thunberg desembarcou em Lisboa, quero uma vez mais sublinhar o papel fundamental que esta jovem muito jovem tem desempenhado em termos de activismo sobre a crise climática. A sua mensagem é clara: senhores políticos, homens e mulheres, oiçam o que dizem os cientistas, assumam a urgência da questão e tomem medidas concretas, que estão ao alcance do vosso poder, enquanto governantes.
Saloios de vários tipos, e outros brincalhões com falta de senso, têm atacado a pessoa e a mensagem. Isso voltou a acontecer hoje, na ocasião da sua passagem por Lisboa. É gente que não está a perceber a dinâmica do mundo de hoje.