Bashar al-Assad aprendeu com os seus amigos russos que a solução é esmagar o adversário. Foi isso que aconteceu há anos, na Chechénia, uma república do Cáucaso que pertence à Federação Russa. É isso que está agora a ocorrer em Idlib, na fronteira da Síria com o Sudeste da Turquia.
Aprendeu também que uma vitória militar tem custos humanos terríveis, mas que isso é o preço a pagar. É uma atitude profundamente bárbara, que não se importa com o sofrimento das populações civis. Mas Assad é assim, não tem coração, tem armas, aliados e interesses a defender.
O sofrimento das populações de Idlib é imenso. Cerca de 900 000 pessoas estão deslocadas, a tentar fugir aos bombardeamentos de Assad e dos russos, mas não têm para onde ir. Estão encurraladas, à mercê do frio e da neve e à mão de semear dos ataques das tropas governamentais.
A ONU pediu uma trégua limitada, para poder dar ajuda humanitária aos deslocados. O Conselho de Segurança discutiu a questão hoje e não chegou a um acordo. A ofensiva militar vai continuar.
Para além do aspecto humanitário, existe igualmente um risco de confrontação entre as tropas de Assad e as de Erdogan. Já estivemos mais longe desse perigo.
Nunca assisti a um jogo de futebol que contasse para um qualquer campeonato. Num estádio, claro, que na televisão vi vários. Lembrei-me disso, hoje, e fiquei com a impressão que as minhas origens devem estar num outro planeta. Depois, recordei que há muitos anos, quando me perguntavam qual era o meu clube, respondia não ser adepto de nenhum. As pessoas ficavam, então, a olhar para mim. Não sei se era apenas surpresa ou também um misto de estranheza, como quem encara um bicho bizarro.
A verdade é que o mundo da bola é um universo à parte.
Apoio sem reservas a decisão que o futebolista Moussa Marega tomou. Não pode haver qualquer tipo de tibieza na resposta a comportamentos racistas. Também não podemos continuar a viver a fantasia de que por estas terras não há racismo. Também temos a nossa dose de atitudes racistas e xenofóbicas. Vários conhecidos meus, com raízes noutras partes do mundo, já passaram por maus momentos, no quotidiano da sua vivência entre nós.
A educação cívica é o melhor remédio contra o racismo. Infelizmente, essa é uma área onde há pouco investimento. Por isso, um abanão psicológico como o que ficámos a dever a Marega é muito útil.
O dia esteve de tempestade. Chamaram-lhe Dennis. Há dias tinha sido a Ciara. São nomes bonitos, mas dias feios e perigosos. Com a Ciara, uma árvore do meu vizinho caiu no meu jardim. No dia seguinte, já estava tudo tratado, a árvore cortada e o jardim pronto para a tempestade de agora.
Por outro lado, tivemos um mês de Janeiro seco e com temperaturas acima do que é normal. O mesmo está a acontecer com Fevereiro. Os arbustos aqui de casa já estão a desabrochar, coisa que normalmente só acontece na segunda quinzena de Março.
Tudo isto nos lembra que o clima está a mudar e que é preciso responder a esse desafio sem demoras. António Guterres lembrou hoje, a partir de Islamabad, que esse é o desafio mais importante que temos pela frente. Ao dizer isso, referia-se às consequências que resultarão do aquecimento global, da subida das águas dos oceanos, das intempéries de grande dimensão e frequentes, bem como à perda da diversidade natural.
É certamente um desafio maior. O problema é que os discursos dos dirigentes políticos não são seguidos por factos, por mudanças profundas e estruturantes. É verdade que não é fácil alterar todo um modo de produção e de vida. Mas tratando-se de uma questão global, é essencial que as medidas sejam tomadas em concerto, que haja uma resposta global e harmonizada.
E já agora, como Guterres se encontra no Paquistão, quero lembrar que outro problema maior é do poder político ser usurpado, em várias partes do mundo, por elites entranhadamente corruptas.
Pompeo é um orador com muita presença. Mas a verdade é que o seu discurso não convenceu os europeus. A Europa olha para a América de Trump, Pompeo e dos outros da mesma série, com uma perplexidade enorme. E o que se passou hoje em Munique, a recepção bem-educada mas fria que a assistência deu às palavras vindas do outro lado do Atlântico, mostrou que as linhas que já foram paralelas estão agora em divergência.
Para além das lições que mencionam no meu texto em inglês, ficou bem claro que a Europa tem que definir uma posição clara e autónoma perante as grandes questões da paz e da segurança. No passado, isso significava uma aliança muito estreita com os Estados Unidos. A linha de orientação para o futuro terá que assentar num processo crescente de autonomia. Uma ligação demasiado estreita poderá significar, num futuro que se prevê de grandes tensões globais, um arrastamento para tomar parte num conflito que não será no nosso interesse.
Ontem passei uma parte da tarde a discutir a situação explosiva que se vive no Sahel e que alastra agora a outras partes da África Ocidental e Central. O objectivo era o de procurar novas pistas de intervenção, para além das respostas de segurança e de desenvolvimento. Estas duas áreas já provaram que não são suficientes para tratar da crise. Continuam, no entanto, a ser as principais apostas, quer dos governos locais quer ainda dos actores exteriores, como por exemplo a União Europeia. Por razões que têm muito mais que ver com os interesses das elites locais e com a predominância da visão securitária que prevalece em França e em certos círculos europeus.
Hoje, ao percorrer o programa da Conferência de Munique sobre a Segurança, cuja versão anual decorre até domingo, notei que o Sahel e a África em geral não estão na agenda. Apenas a Líbia fará parte das discussões. Como a agenda reflecte as preocupações dos dirigentes alemães, fiquei a pensar que Berlim ainda não entendeu o que se passa na metade de África que fica mais vizinha da Europa. Se assim for, temos aqui uma grande falha de apreciação.
Hoje expliquei a um amigo que não ando por aqui para ganhar batalhas. A escrita é um compromisso que tenho comigo, por razões que não são para aqui chamadas. Mas é igualmente uma oportunidade para ir além do meu espaço pessoal e partilhar algumas ideias com que tem a bondade de me ler. Vistas largas, abertura de espírito e coragem opinativa são as linhas orientadoras. E, que na minha opinião, são matérias raras no mercado de opinião que são as redes sociais
Foi eleito, mesmo sem ter a maioria dos votos, mas foi, porque o sistema no seu país é assim. Agora, sobretudo agora, que tem o seu partido inteiramente subjugado, como se viu durante o processo de “impeachment”, acha que pode fazer tudo o que lhe der na real gana. Considera que a eleição lhe conferiu um poder absoluto.
Hoje, ultrapassou mais uma linha vermelha, com toda a ousadia de quem sabe que é intocável. Fez pressão para que um amigo seu, que está a ser julgado, seja condenado ao de leve. A independência da justiça é coisa que não o preocupa.
É uma nova forma de ditadura, democrática na forma, implacável, na substância. Fica-se com os cabelos em pé. Sobretudo, porque o homem é capaz de muita coisa.
Uma das falácias mais repetidas em Portugal é a de dizer que o país é um dos mais seguros do mundo. Quando comparo as notícias quotidianas de Portugal com as de outros países europeus, não é essa a impressão que me fica. Mais ainda. Estou convencido que estamos a assistir a uma deterioração da segurança interna.
A falácia serve, no entanto, vários objectivos. Mostra a eficácia do governo e da manutenção da ordem pública. Retira urgência à questão do reforço e da reorganização das forças de segurança. Justifica que não se atribuam mais recursos ao sistema de justiça. Projecta uma imagem de paz e de tranquilidade, que depois é vendida no exterior, de modo a atrair turistas e investimentos.
Começou a Cimeira da União Africana, um encontro anual que não deve ser ignorado. O Presidente da Comissão Africana, Moussa Faki, um Chadiano de grande valor, de quem sou amigo e por quem tenho um grande respeito, fez um excelente diagnóstico dos principais problemas que o Continente enfrenta. Referiu-se, nomeadamente, às acções terroristas no Sahel, na Bacia do Lago Chade e no Corno de África. Lamentou, igualmente, que se tenha estado a assistir a uma proliferação dos conflitos entre comunidades. E pôs a acento tónico na procura da paz e na criação de oportunidades para a juventude africana.
A União Europeia esteve bem representada neste dia de abertura. Foi importante ver Charles Michel e Ursula von der Leyen em Addis Ababa. Espero que os seus conselheiros lhes tenham dito que vale a pena trabalhar em cooperação com Moussa Faki. Este é o último ano do mandato de Moussa Faki e o primeiro dos dirigentes europeus. Há que aproveitar o tempo disponível.