Neste final de agosto, uma sondagem realizada por encomenda do jornal Le Figaro revela que 8 franceses em cada 10 estão preocupados com a situação sanitária que existe no país e a maneira como está a evoluir. O mesmo número de inquiridos vê com inquietação o comportamento da economia, as dificuldades que as empresas têm pela frente e a crescente deterioração do poder de compra. Estas duas apreensões traduzem uma visão realista dos próximos tempos. Existem, igualmente, noutros países da UE. Na verdade, há que estar preocupado e pensar na política de uma forma diferente, uma política que una o maior número de cidadãos no combate às crises.
Quando todos sabemos que há um novo surto de contágios por vários países da Europa, incluindo nesta nossa parte do Continente, e que a situação de pandemia irá ficar mais grave depois do regresso de férias, do começo das aulas e com a chegada do Outono, eu não compreendo os riscos que o Primeiro-Ministro está pronto para assumir perante a teimosia do Partido Comunista. São riscos de saúde pública. Óbvios, indiscutíveis. E são riscos políticos, pois a falta de coragem de António Costa terá certamente custos em matéria de apoio eleitoral. Que os comunistas insistam na realização da festa, eu entendo. Por essa Europa fora, esses tipos de eventos foram simplesmente adiados. No caso português, os dirigentes do PCP querem mostrar que são capazes de intimidar o governo. E estão a consegui-lo. O PM tem medo deles.
O texto que publico esta semana no Diário de Notícias, na edição deste sábado, analisa o conflito marítimo entre a Grécia e a Turquia, com uma referência especial ao regime do Presidente Erdogan. A Turquia de Erdogan representa um grande desafio para a Europa. Esta tem que falar claro e por Erdogan no seu lugar. Não deve haver espaço para ambiguidades. Os riscos são enormes. Erdogan pode criar problemas existenciais à União Europeia. Já conseguiu paralisar a NATO. Mas o seu grande objectivo é o se mostrar forte e determinante em relação à Europa. Precisa disso para poder continuar a apostar nos projectos megalómanos que tem em curso no seu país. Como também precisa de aparecer perante o eleitor turco mais simples como um nacionalista e um restaurador da grandeza turca.
Continuo sem entender a razão que levou o Conselho de Ministros a anunciar que será declarado um estado de contingência para todo o país a partir de 15 de setembro. A isso acrescentou que ainda não decidiu que medidas estarão incluídas na contingência. Essas medidas só serão decididas uma semana antes.
Temos aqui várias questões.
Primeiro, os dados actuais mostram que há um aceleramento do número de contágios. Conviria que houvesse um apelo público do Primeiro Ministro para lembrar as medidas e os comportamentos que se esperam dos cidadãos. Seria uma chamada de atenção, apresentada como um acto de confiança no sentido cívico dos cidadãos.
Segundo, o anúncio de um futuro regime de contingência é um desencorajamento para potenciais turistas que estariam a planear uma visita a Portugal para a segunda metade de setembro. O impacto disto na economia do turismo é evidente.
Terceiro, estas decisões precisam de ser bem explicadas à população. A senhora ministra não o conseguiu fazer. Não sei qual é a explicação. Mas fica a impressão que a coisa não foi discutida a fundo na reunião do Conselho de Ministros. Ou então, que se trata de uma jogada política e que não se quis abrir o jogo.
O Presidente, entretanto, fez um comentário de alinhamento total com o governo. Não parece bem. Deveria dizer apenas que se o governo decretar a emergência haverá que a cumprir. O Presidente fala demais e sobre matérias que são da exclusiva responsabilidade do governo.
Quem fala pouco ou nada é o chefe do PSD. É um exemplo de uma oposição sem posições.
Observar o que se passa na Convenção Republicana, que hoje confirmará Donald Trump como candidato a um segundo mandato, requer muito autodomínio. Os diferentes oradores inventam uma realidade que não existe, toda cheia de cores brilhantes e depois felicitam o Presidente pelos sucessos que são puras invenções. Os temas são sempre os mesmos: a habilidade na gestão da economia, a manutenção da ordem pública e a capacidade para fazer frente a potências estrangeiras. Depois, inventam um falso programa que dizem ser o que os Democratas defendem, um programa sem sentido, e atacam, com unhas e dentes, essa falsidade como se fosse verdade.
A Convenção está a levar a política americana para novas profundidades. Manhas e mentiras, são os ingredientes da nova política dos republicanos. E os nossos pequenos Trump vão tomando nota, para fazerem igual, aqui por estas bandas.
Terminamos o dia com uma situação muito complicada no Mar Mediterrâneo Oriental. O exercício conjunto, que a Grécia está a levar a cabo, com a participação das forças armadas de Chipre, França e Itália, é uma resposta forte à Turquia, que prolongou a prospeção de gás em águas contestadas pela Grécia. Trata-se, acima de tudo, de uma escalada do conflito que opõe os dois vizinhos, a Grécia e a Turquia.
Os partidos políticos continuam a ignorar o facto de que estamos no meio de uma crise económica e social sem precedentes. Entretêm-se com com assuntos triviais, da lana-caprina, de que nem vale a pena mencionar aqui, e eu fico simplesmente alarmado. Já ultrapassei a fase em que perguntava a mim próprio, mas que espécie de dirigentes são estes? Agora a pergunta é mais séria: será que esta gente do poder e da oposição andam a gozar connosco, para viver à nossa custa, ou são mesmo curtinhos dos miolos? Fica aqui a minha dúvida.
Um dirigente sabe que é observado 24 horas por dia. A liderança ao mais alto nível exige uma dedicação exclusiva e um cuidado extremo com os actos e as palavras. Quando se é chefe, é-se chefe de dia e de noite. Por outro lado, um líder numa posição de poder tem que falar com elegância. A formalidade e o protocolo contam muito, já dizia Mestre Confúcio, como os seus Analectos nos lembram. O líder não pode falar como um carroceiro mal-polido. Quando o faz está a perder força. Quando isso põe uma categoria social contra ele, está a perder poder. É a erosão do poder.
Deixo acima o link para o meu texto de reflexão desta semana, publicado na edição impressa do Diário de Notícias de sábado, 22 de agosto.
Convido à leitura e ao comentário. A parte do comentário é muito impostante para mim. Um dos meus leitores sugere, por exemplo, que escreva da próxima vez sobre a Turquia. Respondo que só de pensar no título da coisa já fico a tremer. É um grande problema.