Tempos de pânico
Hoje, a pandemia deixou-me novamente em pânico. Já havia acontecido o mesmo na semana passada. Estava numa das esplanadas do Centro Comercial dos Olivais, bem no coração do edifício mas ao ar livre, a tomar um café com um jornalista sénior de uma das rádios nacionais. Havia um vento forte. E quando me preparava para me ir embora, através dos corredores do Centro, descobri que a minha máscara tinha voado com o vento, para parte desconhecida. Fiquei fora de jogo, sem saber como sair dali. Senti-me completamente desestabilizado. Depois de muito reflectir, o jornalista amigo descobriu na sua mochila uma máscara nova. Eu sempre achei que as mochilas dos jornalistas são uma caixa de surpresas. Estava safo.
O pânico de hoje foi semelhante. Saí do carro, entreguei as chaves a quem entrava em casa e fui a pé ao supermercado do quarteirão. Comprei duas ou três urgências e dirigi-me para a fila da caixa. A fila estava demorada, a ficar cada vez mais longa, com gente à frente e atrás de mim. De repente, notei que não tinha trazido máscara. Que andara por ali, a descoberto. Entrei em parafuso, com a sensação de estar nu. A jovem da caixa iria reagir e chamar o segurança, o mesmo segurança que estava a brincar com o telefone quando eu entrei na loja. Só tinha uma solução. Deixar as compras no lugar e ir à procura da prateleira das máscaras. Descobri uma difícil de colocar, com uns atilhos complicados. Mas serviu. Lá fui para a caixa, com a máscara metade atada. Expliquei à empregada que era uma compra que tinha que ser incluída na conta. Ela olhou para mim, com um ar estranho e disse-me, tenha calma e acabe de colocar a máscara como deve ser.
Isto das máscaras dá-nos a volta à cabeça.