Não entendo bem como é possível que um funcionário superior de uma organização intergovernamental, um português, é verdade, possa escrever artigos de opinião sobre questões partidárias que fazem parte da actualidade nacional. Há aqui, na minha maneira de ver, baseada na velha escola ética de antigo quadro da função pública internacional, um pisar do risco que só pode ter de ver com a ambição pessoal e os planos de carreira política desse “comentador”. E os media da nossa terrinha ajudam a pisar o risco, sem fazerem qualquer tipo de observação.
Falei há pouco com a jornalista Ana Jordão da Antena 1 sobre a situação de conflito no norte da Etiópia, na região de Tigray. Faz agora duas semanas que o governo central entrou em guerra com as autoridades do Tigray e o seu braço armado, a Frente de Libertação do Povo do Tigray. O que está em causa é a autonomia da região. Na verdade, o Tigray foi-se transformando, com o tempo, num quase-estado, em confrontação aberta com o governo nacional. A verdade é que o país está muito fracturado, segundo as etnias que dominam cada uma das 10 regiões. O nacionalismo étnico é o principal desafio político. O que se passa agora no Tigray poderá amanhã acontecer noutras regiões. A Etiópia é um barril de pólvora, com 110 milhões de habitantes, e uma área 12 vezes maior do que a de Portugal.
O primeiro-ministro Abyi Ahmed, que ganhou o prémio Nobel da Paz em 2019, que atenuar as divisões étnicas. Mas, ao escolher a via militar, está a lançar achas para a fogueira.