Sempre pensei que certos políticos têm espelhada na cara a imbecilidade que lhes mina o cérebro. Só enganam quem não quer ver. E não estou a pensar apenas numa ou noutra figura pública portuguesa. Desta vez, trata-se de Janez Janša, o primeiro-ministro esloveno, um ultra das direitas que, como Viktor Orbán e outros, se esconde na família política conservadora, o Partido Popular Europeu (PPE). O fulano vai ficar na história do nosso anedotário por ter sido o único dirigente europeu que felicitou Donald Trump, poucas horas após o fecho das urnas.
A vitória eleitoral de Joe Biden e Kamala Harris traz uma certa dose de optimismo à União Europeia. É evidente que o relacionamento entre os Estados Unidos e a Europa será muito mais positivo do que tem sido até agora, durante o mandato de Donald Trump. Estou de acordo com essa maneira de ver. O que me parece errado é voltar a insistir numa relação de subordinação, com a Europa a desempenhar o papel de fraco. Ora, várias reacções europeias têm ido nesse sentido, a insistir numa postura política em que um lado protege e o outro se sente mais seguro. Está errado. A Europa tem de tratar da sua defesa e segurança de modo mais autónoma. Sabendo o que se sabe sobre o funcionamento actual da NATO, é evidente que a defesa europeia, da responsabilidade dos europeus, deve ser uma prioridade.
Este é o link para o texto que hoje publico no Diário de Notícias, edição em papel.
Foi um texto difícil de escrever, pois na altura da escrita ainda não era claro o que iria acontecer. Agora, com Joe Biden declarado vencedor, o texto torna-se mais actual. O debate sobre o futuro das relações entre os Estados Unidos e a Europa não se deve resumir a declarações ocas de amizade mútua. Tem que ser visto numa perspectiva de longo prazo e não esquecer que os Estados Unidos estão cada vez mais afastados da realidade europeia.
No meu texto no Diário de Notícias de hoje, procuro reflectir sobre os grandes temas das campanhas dos dois candidatos bem como sobre o futuro do relacionamento da União Europeia com os Estados Unidos. Esta segunda parte de o meu texto será certamente uma tema de grande actualidade nos tempos mais próximos. É um debate que precisará de ser aprofundado. O que hoje publico é apenas uma abertura da discussão. É uma posição voluntarista, virada para aquilo que penso dever ser o caminho que a UE deverá procurar seguir. Mais do que uma análise, é uma proposta de agenda.
Entretanto, uma lição sobre a qual convirá igualmente reflectir diz respeito à enorme radicalização da vida política americana. As posições dos dois campos não são apenas diferentes. Para muitos, de um lado e do outro, são tomadas de posição marcadamente hostis. Esse parece ser um dos legados de Donald Trump, a radicalização da sociedade, da opinião pública americana.
O contrário, um certo desanuviamento, poderá ser a imagem de marca de Joe Biden. Será que o conseguirá? Espero que sim. Entretanto, o meu conselho seria o de tentar prosseguir essa via da reconciliação da sociedade americana. Uma sociedade desenvolvida precisa de ser um exemplo de respeito pelas divergências políticas.
A comunicação ao país, feita este serão pelo Presidente da República, não foi incisiva. Foi uma intervenção vaga, impessoal, cansada. Não frisou suficientemente a gravidade da situação, não apelou ao civismo e ao comportamento responsável que se espera dos cidadãos, não mencionou os custos económicos e psicológicos que as famílias têm de suportar, como também não referiu se haverá ou não um conjunto de medidas compensatórias e de apoio. Achei que perdeu a oportunidade de contribuir, dentro dos limites que são os do seu cargo, para uma melhor compreensão da crise e para um acender da esperança, se todos derem uma achega, a começar pelo governo mas não só.
O meu amigo Ray adora discorrer sobre as várias teorias conspirativas que conhece. E, na verdade, sabe de muitas. Só que eu não tenho paciência para o ouvir. Hoje, ligou-me novamente, por videoconferência, para me falar do último enredo que a malta de Davos – WEF, World Economic Forum – estaria a planear para tomar conta do mundo pós-pandémico. Eu tinha uma boa desculpa – estava a escrever a minha coluna semanal para o Diário de Notícias, com o prazo de entrega a aproximar-se e a inspiração paralisada pela confusão eleitoral americana. Disse-lhe que não tinha tempo para o ouvir em pormenor. Como ele não sabia que o encontro de Davos 2021 havia sido adiado sine die – não terá lugar em finais de janeiro como de costume, que o coronavírus não deixa – partilhei essa informação com ele. Viu logo aí uma confirmação mais da teoria que me queria explicar. E explicou-me que Mark Zuckerberg, o homem do Facebook, era um dos mestres dessa conspiração. Lembrei-lhe então que a aplicação que estava a utilizar também estava ligada a Zuckerberg e que, por isso, talvez fosse melhor que ele passasse a fazer uso de uma outra, da concorrência. Talvez a WeChat, da China. Não percebeu a ironia da minha sugestão e deixou-me voltar à escrita da minha coluna.
No que respeita às eleições presidenciais, o processo eleitoral norte-americano é muito diferente do que por aqui vigora. Não existe uma Comissão Nacional de Eleições que declare o vencedor. Depois dos apuramentos estado a estado, é essencial que o candidato perdedor reconheça que perdeu as eleições. Isso tem de ser feito através de uma declaração pública. Só depois se passará à etapa seguinte, que é a de reunir os grande eleitores, que são 538, e proceder à formalidade da votação final. Sem o discurso de aceitação dos resultados por parte do candidato derrotado, o sistema emperra.
Este ano, se o vencido for Donald Trump, tenho muitas dúvidas sobre a sua aceitação dos resultados. Daí resultará uma grande encrenca.
Este é o link para o texto que hoje publico na Visão, sobre a eleição presidencial americana. Fiquei muito grato à Directora da Visão, Mafalda Anjos, pelo convite para que fizesse uma refleão pré-eleitoral e pelo grande destaque que lhe dá.
Trata-se de reflectir sobre um cenário possível. Espero que seja apenas um cenário e que, na realidade, não aconteça.
A nova vaga de covid está a paralisar os serviços de saúde de vários países europeus. O pessoal dos serviços nacionais de saúde começa a estar exausto e as unidades de cuidados intensivos saturadas. Uma boa parte do problema reside no comportamento das pessoas. Continuo a ouvir muitas histórias que mostram que as pessoas não respeitam as regras mínimas de precaução. Ainda hoje vi várias fotografias dos estudantes universitários de Évora que se concentravam, aos magotes e sem protecção, nas principais praças da cidade. Assim é difícil conter a coisa. E esse é apenas um exemplo do que por aí há.