Eles andam convencidos que são mais espertos que o cidadão comum. Percorrem as autoestradas a alta velocidade, confundem a bola do futebol com a esfera armilar e o patriotismo, dizem coisas sem jeito e desculpas que não convencem ninguém, fazem chacota em vez de assumir as responsabilidades. Estão desconectados e incapazes de entender o julgamento popular. Mas continuam no poder. Estamos longe da inteligência artificial e próximos da estupidez e da boçalidade ferrenha.
Não pode haver uma lei para o povo e outra para os governantes. Não pode, mas cada vez mais se tem a impressão que de facto há. E isso acontece quando a oposição é fraca e desfocada. Como estamos a ver, cada vez mais frequentemente, os que estão no poder aproveitam-se dessa fraqueza. Fazem o que querem, dizem o que lhes passa pela cabeça e desculpam-se despejando as culpas nos mais fracos.
Tudo isto mostra uma classe política pouco recomendável, por uma razão ou por outra – abuso do poder ou falta de unhas para tocar a guitarra da mudança
A administração Biden percebeu que não se pode ir para a guerra se as balas são fabricadas no país adversário. E é isso que se passa com sectores estratégicos da economia americana: a produção é feita além-fronteiras, na China e não só. Por isso, Biden está a preparar uma Política Industrial – um conceito que havia desaparecido do debate económico há décadas.
Um dos elementos mais importantes do plano diz respeito à produção nos Estados Unidos de semicondutores (chips). Cerca de 50 mil milhões de dólares serão investidos nessa área. Actualmente, a fabricação de chips está concentrada em Taiwan. A China, entretanto, começou a investir forte e feio nesse mesmo sector.
Com a automatização em ritmo acelerado, os chips serão um produto estratégico. Mas atenção. O avanço que Taiwan ganhou é imenso. E montar essa indústria nos EUA – ou mesmo na China, demora cerca de dez anos. Ao ritmo a que as coisas vão e o agravamento da competição entre os EUA e a China fazem-me dizer que dez anos é uma eternidade. Controlar Taiwan talvez seja mais fácil. Quem irá ganhar esse controlo?
O acidente que ocorreu na A6, com o carro oficial do ministro, não é assunto arrumado. Tem de ser tratado pelo chefe do governo de modo responsável. Não há nada a esperar do ministro. Mas do seu superior, sim. Não pode ignorar as dimensões humanas e políticas do que aconteceu. A família da vítima precisa de apoio. E do ponto de vista político, a inacção governativa acabará por ter um custo. O primeiro-ministro deve entender isso, imagino. Mas tem de agir, de aparecer.
O mesmo se deve dizer do Presidente da República. Essa personalidade tem apostado imenso na dimensão popular e humanista de sua função. Não pode agora ficar calado, para proteger um ministro que não vale grande coisa. Ou, para poupar um primeiro-ministro que tarda e que encobre os seus fiéis servidores. O PR tem de mostrar que não tem medo de uma situação como esta. E que não anda a disfarçar, para que não haja a confrontação que a muitos parece inevitável.
Estamos numa espécie de pântano político. Este sim, perigoso, capaz de fazer surgir um ou outro monstro político, que saiba aproveitar-se das águas turvas.
Deixo-vos acima o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. E agradeço a todos os que reencaminharam este texto para outros leitores, que convidaram outros a adquirir o DN e que me enviaram comentários. Não tive ainda a oportunidade de responder a esses comentários.
Há um parágrafo que nos toca directamente. Cito, de seguida.
"Menos falado, mas igualmente importante para a vitalidade da democracia, é ter-se um sistema de administração de justiça capaz e independente dos políticos. Os cidadãos precisam de ter confiança no funcionamento célere e eficiente dos tribunais, como meios de defesa dos seus direitos e de correção das injustiças. Na era do “totalitarismo digital” isso é ainda mais essencial. Nos Estados-membros onde a justiça é lenta, mal apetrechada e ineficiente, temos um problema quase tão grave como o autoritarismo que existe noutros horizontes. Esses Estados têm uma democracia coxa. Deveriam igualmente ser tema de crítica no Conselho Europeu. Sem justiça eficaz, a democracia é uma ilusão. E os cidadãos, como o mostraram agora os franceses, já não se deixam iludir tão facilmente."
É difícil de entender a razão que levou, na véspera da reunião do Conselho Europeu, Angela Merkel e Emmanuel Macron a sugerir a hipótese de uma cimeira entre a Europa e Vladimir Putin. A sugestão foi feita de modo inesperado, sem qualquer consulta com os outros líderes europeus. Contribui para novas divisões entre os europeus, com a Polónia e os Países Bálticos a dirigirem a oposição à proposta e a reforçar a sua posição de porta-vozes de Washington em Bruxelas.
O relacionamento com a Rússia é um assunto muito delicado. Exige muita coordenação entre os aliados europeus. É verdade que há muita matéria que precisa de ser discutida com Vladimir Putin. Mas também é um facto que este não está muito disposto a entendimentos sobre aquilo que é essencial para um melhor entendimento entre as partes.
No mesmo dia em que surgiu a ideia duma cimeira aconteceu um incidente militar grave no Mar Negro entre um navio britânico e as forças armadas russas. A embarcação britânica foi alvo de ameaças e forçada a alterar a sua rota, apesar de navegar num corredor que é reconhecido como internacional. Este incidente aconteceu na pior altura, no que respeita a Merkel e Macron.
Mas acredito que o assunto irá ser aprofundado e que os canais apropriados de consulta acabarão por ser seguidos. A questão é importante para ambos os lados. Mas é preciso encontrar as razões e os temas que levam as partes a um diálogo útil.
Portugal voltou a aparecer nos radares europeus da pandemia. Vários amigos, residentes em diferentes países, têm estado em contacto comigo, para saber se estou bem e mostrar a sua preocupação perante as notícias vindas daqui. O cerco sanitário de Lisboa, aos fins-de-semana, tem sido notícia em muito sítio. Não sei se servirá para conter a onda actual. Mas tem servido para que se fale de Portugal. É uma notícia negativa. Terá certamente impacto no volume de turistas que nos visitarão estas férias. Será azar nosso ou má gestão?
Aposto com quem queira apostar que as regras orçamentais do Tratado de Maastricht – dívida pública abaixo dos 60% do PIB nacional e défice orçamental anual inferior a 3% − voltarão a estar em cima da mesa das discussões. E que a austeridade será um tema que os países apelidados de “frugais” irão de novo inscrever na agenda económica europeia. A chamada “bazuca” é uma oportunidade única para diminuir a distância entre os níveis de vida dos diferentes países europeus. Quem não a souber aproveitar terá perdido uma oportunidade que não voltará a surgir, a não ser que apareça uma crise tão profunda como a da pandemia.
Os indícios que começam a aparecer mostram que, em matéria económica, entraremos, depois da pandemia, numa fase nacionalista.
A A6, a autoestrada que vai da zona do Montijo em direcção a Évora e à fronteira com Badajoz, tem pouco movimento. Mais ainda, os veículos pesados são raros. Preferem encher a Nacional 4, que segue a autoestrada, para não ter que pagar o elevadíssimo custo da portagem até Caia-Elvas. Assim, alguns motoristas dos carros ligeiros usam e abusam do excesso de velocidade quando circulam pela A6. Quem viaja a 130 km/hora já está fora do limite. Mas é constantemente ultrapassado por veículos a circular acima dos 150 ou mesmo dos 160. Os controlos de velocidade são raros. A GNR concentra-se sobretudo no trânsito que percorre a N4.
Foi nessa autoestrada que o carro do ministro da Administração Interna matou um operário que trabalhava na berma da via. O inquérito de que se fala e que foi prometido deverá elucidar-nos sobre a velocidade a que ia essa viatura oficial. Esse é um dado fundamental. Houve morte de homem, um homicídio involuntário. Há que apurar as causas e as responsabilidades de cada um.
Veremos se a GNR consegue produzir um relatório que se veja.