Sem optimismo não há futuro, sem imaginação não há optimismo. Esta é a minha divisa preferida, criada por mim próprio e na qual penso frequentemente. Nestes tempos, é muitas vezes necessário não perder de vista o optimismo.
Mencionei esta divisa na entrevista que ontem foi publicada pelo Diário de Notícias. E acabou por ser uma das mensagens que mais atenção atraiu. Mas havia outras mensagens na entrevista: sobre a pobreza estratégica da actual liderança política portuguesa; sobre a falta de civismo de muitos de nós; e sobre a forma caótica como se tem desfigurado o território nacional, sobretudo nalgumas regiões de grande valor e beleza natural. Todas elas chamaram a atenção de muitos milhares de leitores. O texto despertou um interesse enorme, invulgar.
Mostrou também que se pode falar das nossas realidades sem ser preciso fazer longos arrazoados. As pessoas querem ideias novas expressas de modo sintético. O resto é depois construído por elas. Isso lembra-me que o trabalho do líder é o de abrir portas e apontar para os caminhos possíveis.
Este é o link para a página do Diário de Notícias de hoje, onde está publicada a minha resposta ao conhecido questionário Proust. Procurei aproveitar a ocasião para deixar bem claras algumas mensagens políticas.
A cimeira da CPLP, que decorreu em Luanda durante este fim-de-semana, deu alguns sinais positivos de vitalidade. Esta é uma primeira impressão. A verdade é que teve um bom nível de participação, incluindo o Vice-Presidente da República brasileira. O Brasil tem sido um dos países menos interessados na expansão da CPLP. Desta vez, marcou presença.
A questão da mobilidade dos cidadãos, aprovada de um modo genérico durante a cimeira, é complexa. Portugal tem compromissos insuperáveis no quadro do Acordo de Schengen, no que respeita aos vistos a pessoas vindas de fora da União Europeia. A mobilidade dentro da CPLP terá que respeitar Schengen. Por isso, e porque a questão da imigração é muito sensível para os países europeus, espera-se com curiosidade o texto que será proposto para ratificação pela Assembleia da República. Pensar que este assunto não será analisado com atenção por outros Estados-membros da UE seria um erro.
Também foi proposto, por Angola, a criação de um banco de desenvolvimento para os países da CPLP. Teoricamente, a ideia não é má. Mas, em termos pragmáticos, surge a grande questão de saber quem contribuirá para tornar essa ideia uma realidade. Donde virá o dinheiro, que terá que ser muito para que o banco tenha alguma capacidade de intervenção. Não vejo que a proposta tenha asas para voar. Aliás, o problema não é o da falta de capitais e de quem queira investir. O principal obstáculo para que esses investimentos aconteçam e resultem reside na corrupção existente em vários países da CPLP.
Foi eleito um novo Secretário Executivo. É o timorense Zacarias da Costa. Ao mesmo tempo que lhe desejo uma liderança com sucesso, volto a afirmar que um mandato de dois anos é absolutamente insuficiente para permitir a qualquer Secretário Executivo levar a cabo uma agenda de crescimento e de renovação da CPLP. No mínimo, o mandato deveria ser de quatro anos.
Está a decorrer na Cordoaria Nacional, em Lisboa, uma exposição de trabalhos de Ai Weiwei. Vale a pena visitar.
Ai é um artista multifacetado e, ao mesmo tempo, um militante por uma China democrática. Uma boa parte das suas obras tem um profundo significado político. Um segmento da exposição é constituído por caixas totalmente fechadas, que ilustram várias cenas da sua detenção pela polícia chinesa. Cada caixa tem apenas duas pequenas janelas, que permitem visualizar o que acontece a um preso político no regime comunista chinês. O realismo desses trabalhos é absoluto. E a originalidade está garantida.
Alguns dos meus amigos artistas portugueses não conseguem digerir a mensagem política que a criatividade de Ai Weiwei transmite. Apesar de serem artistas plásticos, são acima de tudo umas pessoas obcecadas ideologicamente. E a sua obsessão ideológica fá-los dizer cobras e lagartos sobre o trabalho do colega chinês. Vejo essa atitude como uma burrice intelectual, que seria um perigo, se alguma vez as ideias e as organizações que esses portugueses defendem chegassem ao controlo do poder.
Na minha visão, um dos papéis da arte é ser um desafio. Ai Weiwei é certamente um desafio para os líderes chineses e para os nossos ditadorezinhos de ideias fechadas.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. No que respeita à China, a Europa deve ter a sua própria política. Não pode ir a reboque dos Estados Unidos. A posição americana aposta no confronto. A europeia tem de se basear na reciprocidade de tratamento e no diálogo inteligente e estratégico com a China.
Cito um extracto do meu texto.
"Qualquer importador europeu que necessite de bens ou componentes made-in-China para manter as suas atividades produtivas poderá bem explicar a importância de um relacionamento comercial sem entraves desnecessários. Os mais informados sublinharão ainda a necessidade de se evitar um agravamento das tensões em Taiwan e no Mar do Sul da China. Isto também se aplica ao lado chinês, que não deve continuar a apostar numa escalada de ações ofensivas nessas zonas tão sensíveis."
O meu amigo engoliu um pau de vassoura. Fala todo empertigado. Mesmo quando não tem informação sobre o assunto, inventa, com o ar altaneiro que o pau lhe dá. E impressiona. Há muita gente que gosta de opiniões definitivas e certezas que o não são.
É verdade que o bloqueio americano contra Cuba, que foi seriamente agravado durante o mandato de Donald Trump, tem um impacto enorme na economia do país. A pandemia veio agravar ainda mais a situação, ao reduzir a zero, ou quase, o turismo vindo de fora, que fazia viver alguns sectores da população. A tudo isso acrescentam-se mais duas dimensões negativas: uma burocracia muito pesada, com um número excessivo, injustificado e dispendioso de funcionários; e o erro ideológico de não querer abrir o campo de acção da iniciativa privada, que, por causa das limitações impostas, não consegue crescer.
O resultado não poderia ser outro: agravamento da pobreza, privações de toda a espécie, lojas estatais vazias, sem os alimentos básicos em número suficiente, e crescimento exponencial dos mercados clandestinos, a preços inabordáveis. Sem esquecer as repercussões sobre o sistema de saúde, numa altura em que a pandemia está em força.
Por tudo isto, muitos cidadãos, nos mais variados pontos do país, vieram para as ruas este fim-de-semana, para manifestar o mal-estar existente e a oposição aos líderes actuais. Também clamaram pela liberdade política, que é um bem ainda mais raro do que a carne de frango, que só está disponível duas vezes por mês, um frango por família, nos armazéns oficiais.
O chefe do Estado reagiu como sempre viu fazer e foi aprendendo ao longo dos anos de militância no partido dos Castros – opondo aos cidadãos as milícias do partido e as polícias, e insultando as pessoas. Mostrou não estar à altura. O pouco prestígio que ainda tinha levou um grande abanão.
Felizmente para ele, os americanos continuam a implementar o embargo e a dar-lhe uma desculpa e um inimigo a quem atribuir as culpas.
O analista que conta, que acrescenta valor, é o que consegue ver a árvore para além dos ramos e das folhas e, depois, procede à inserção da árvore na paisagem. Quem não compreende a árvore e a paisagem, incluindo a que está para além do horizonte, não acrescenta nada de útil. Está apenas a discorrer sobre o que parece óbvio, mas que não é necessariamente a essência da matéria. Em política, a intenção esconde-se muitas vezes na ramagem dos factos e na repetição de narrativas que tocam apenas na superfície das coisas.
O europeu de futebol terminou agora. O campeonato mistura desporto com nacionalismo. E mostra claramente que a Europa é um espaço geopolítico de nações. Acentua, aliás, esse sentimento de pertença nacional. Assim, qualquer avanço que se vá conseguindo na consolidação da União Europeia é uma vitória. Mas é igualmente claro que é um processo que exige muita habilidade política, para que se possam identificar claramente as razões que justificam a transferência de partes do nacionalismo e da soberania para uma construção política supranacional. O grande desafio é conseguir-se avançar com a união apesar das diferenças. Por isso, o discurso político europeu tem que se basear nas vantagens que resultarão da conjugação de esforços. E também deve saber explicar os riscos da fragmentação, tendo em conta os outros grandes poderes que existem em distintas partes do mundo.