Sou a favor da morte medicamente assistida, incluindo o suicídio. Por isso, penso que uma sociedade desenvolvida, e com sistemas de controlo eficientes, a eutanásia deve ser legalmente permitida. As regras devem ser claras e combinar um grau elevado de sofrimento com a incurabilidade da doença ou da condição da pessoa. É a conjugação destes dois factores que devem servir de critério: uma doença incurável que provoque um sofrimento intolerável, incluindo um padecimento psíquico insuportável. Nesta maneira de ver, não é preciso estar-se à beira da morte para se poder requerer a eutanásia.
Liderar implica estar atento às preocupações das pessoas. E saber dar voz e sentido a essas preocupações. Ou seja, é preciso manter uma ligação permanente com os cidadãos. O erro de muitos políticos é confundirem elitismo com liderança. As elites tendem a relacionar-se apenas entre elas e a ignorar o resto das pessoas, as gentes comuns. E assim acabam por falar uma linguagem que nada diz à generalidade das pessoas, uma linguagem que não é entendível e que é vista como uma maçada, um aborrecimento, um falar à “político”.
Ainda recentemente um amigo meu escrevia um texto sobre a reforma do Estado, que faria se estivesse no poder. Foi uma escrita enfadonha, cheia de lugares-comuns e de frases feitas, que são frequentemente repetidas, mas que nada dizem de concreto às pessoas. É como a conversa sobre a redução dos impostos, uma bandeira frequente de vários políticos. Juram a pés juntos que os irão baixar, mas não explicam que relação haverá entre essa descida e a modernização e racionalização de certas funções do Estado. Ora, sem uma reorganização de certos serviços – é preciso dizer quais – não é possível poupar nas despesas públicas. E sem isso, não há imposto que diminua. Também deveriam dizer que a alta taxa de imposição tem muito que ver com o mau funcionamento da administração pública. Há muito dinheiro que é gasto em burocracias inúteis e em serviços que poderiam ser agrupados ou reorganizados. Assim se faz noutros países, incluindo em países de desenvolvimento intermédio. Há que enumerar esses serviços, proceder a uma avaliação em profundidade e reestruturar.
Assim se ganharia apoio popular. E se faria política de uma maneira mais séria e mais eficiente
Muito se disse nas últimas 24 horas sobre a vitória de Rui Rio. Uma vitória que para muitos foi uma grande surpresa, já que o seu adversário parecia reunir o apoio de todos os bem-pensantes que constituem a vida pública portuguesa, pelo menos do lado direito da mesma.
A realidade acabou por ser outra. Não irei aqui acrescentar nada ao que já foi dito sobre o fosso que parece existir entre as elites e o povo. Direi apenas que quando se ganha e perde por uma margem tão pequena deve ser porque nenhum dos dois candidatos reúne as características que os militantes gostam de ver num dirigente político. Por isso, tanto faz votar por A como por B.
O curioso foi o que aconteceu depois da votação. O discurso de vitória de Rio foi uma dissertação bem feita e marcadamente política. Mobilizadora. Se o candidato tivesse falado assim nas semanas anteriores, creio que teria tido uma vitória muito mais expressiva. É difícil de compreender porque não o fez. Dir-se-ia que a candidatura do seu adversário e os apoios que iam aparecendo na comunicação social o deixaram meio atordoado. Mas o homem sabe mexer-se ao nível das bases. E acorda quando ganha.
Agora, o desafio que tem pela frente é manter-se acordado até finais de janeiro.
A democracia é um conceito muito elástico. Nenhum ditador reconhece que o seu regime é antidemocrático. Antes pelo contrário. Todos defendem o seu poder dizendo que foram democraticamente eleitos. Assim o afirmam Vladimir Putin, Nicolás Maduro, Bashar al-Assad e muitos outros. Também Robert Mugabe, no seu tempo, dizia que as eleições, que roubava descaradamente, eram perfeitamente legítimas e democráticas. Penso que o único que não tem preocupações desse tipo é Kim Jong-un, o líder bizarro da Coreia do Norte.
Assim, o presidente Joe Biden está a meter-se numa encrenca quando resolve convocar uma cimeira internacional sobre a democracia. A lista dos excluídos dessa reunião vai dar mais que falar do que os temas escolhidos para debate. Para já ficaram de fora Viktor Orban e Recep Tayyip Erdogan.
O link acima abre o meu texto desta semana, hoje publicado no Diário de Notícias.
"Nacionalismos à parte, a verdade é que os povos europeus não têm uma visão integrada das ameaças externas que podem pôr em causa a paz, o bem-estar e a unidade da Europa. E o plano de Borrell não ajuda."
A data marca o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres. Este é o 25 de Novembro que conta. O dia foi proclamado pela Assembleia geral da ONU em 2000. Para quem quiser ler a Resolução, a referência é A/RES/54/134, datada de 7 de Fevereiro de 2000. É um documento importante no quadro jurídico internacional, em particular na área dos direitos humanos.
Infelizmente, há ainda muito que fazer para eliminar este tipo de violência. Por isso, considero significativo que se faça referência à questão.
Um amigo meu conta hoje na sua página do Facebook que foi multado por ter no carro três bisnagas de aplicação de silicone sem factura. O valor das bisnagas, acrescenta, era de cerca de 6 euros. A multa foi de 340 euros. O absurdo tem um preço elevado, diria eu, como conclusão. O absurdo oficial, claro.
Além disso, trata-se de controlos inúteis, como muitos dos controlos que a GNR e a PSP fazem. Praticam ambas as corporações uma concepção do trabalho de polícia que é a de fazer operações stop à brava, perto das esquadras e dos aquartelamentos. É um policiamento barato, excepto nas multas. E não deixa tempo para um controlo mais rigoroso da segurança nos transportes públicos, nos bairros problemáticos, no patrulhamento das ruas e dos parques, etc. Ou nas estradas, no que respeita à velocidade, às manobras perigosas, à alta de respeito pelas passadeiras de peões, ao estacionamento que corta a visibilidade e traz perigo, etc.
As notícias que nos chegam de África são muito perturbadoras.
Na Etiópia, assiste-se a uma intensificação da guerra civil, com as tropas do Tigray a aproximarem-se da capital, Addis Ababa. A evacuação dos cidadãos de países ocidentais começa amanhã em larga escala. A mediação americana não está a resultar, pois ambos os lados do conflito pensam que a vitória militar é possível. Os etíopes são conhecidos pela sua teimosia e por possuírem um orgulho muito forte, que não aceita derrotas.
No Burkina Faso, a insegurança é cada vez maior. Hoje foram a enterrar 49 gendarmes mortos recentemente por um grupo islamista. Entretanto, houve um outro ataque contra as forças de segurança, que provocou igualmente um número de mortos bastante significativo. A capacidade das forças armadas e de segurança está agora seriamente ameaçada por falta de meios, de organização e, acima de tudo, por uma direcção política mais preocupada com formalismos do que a coordenação dos esforços de segurança. A tendência é para o agravamento das ameaças islamistas e das mortes às mãos dos terroristas.
Na região em que o Burkina Faso se insere, há cada vez mais menores a serem raptados e integrados nos grupos terroristas. Servem como combatentes, mensageiros, cozinheiros, espiões, carregadores, etc. Algumas dessas crianças têm menos de 14 anos de idade.
Entretanto, as manifestações dos cidadãos contra o poder militar no Sudão continuam a um ritmo quotidiano. A coragem dos civis é impressionante.
E assim sucessivamente, na Líbia, na Nigéria, e nos países em conflito, como a República Centro-Africana ou o Congo (Kinshasa).
Duas breves notas políticas, tendo em conta a actualidade que se vive. Primeira: a ironia nem sempre é entendida. Pode mesmo acabar por ser utilizada contra quem a procurou utilizar. Em coisas sérias, como por exemplo em questões de defesa, é melhor ser-se claro e chamar os bois pelos nomes. Segunda: recuar, quando se tem razão, é sinal de fraqueza. Diminui a credibilidade do líder que assim procede. E a credibilidade é um bem precioso
Os movimentos radicais da extrema-direita estão a tentar aproveitar-se das restrições que a nova vaga de coronavírus impõe para organizar manifestações de rua e criar novos segmentos de contestação da ordem democrática.
As manifestações que ocorreram este fim de semana ou nos dias anteriores, nos Países Baixos, Bélgica e Áustria, mostraram que os extremistas de direita têm alguma capacidade de mobilização. São, por isso, um perigo. Agravado ainda, porque essas manifestações oferecem oportunidades aos anarquistas e a outros niilistas para destruir e pilhar bem como para criar situações de mal-estar social, de insegurança colectiva e de descrença na capacidade das instituições democráticas de manter a ordem pública.
O grande desafio para os democratas é conseguir fazer chegar aos cidadãos mensagens de moderação, de tranquilidade e de respeito pelas autoridades, a começar pelas que são responsáveis pela saúde pública.
É importante que se entenda que estão em jogo duas questões fundamentais. Por um lado, a saúde pública e a salvaguarda da vida e do bem-estar das pessoas. Por outro, a protecção da imagem da democracia, das suas instituições e da aceitação da legitimidade das decisões tomadas por quem foi investido em posições autoridade.