Continuo a repetir que só há uma solução para a crise criada pela Rússia: parar imediatamente a agressão contra a Ucrânia e pagar reparações de guerra. Parece-vos impossível? Difícil, admito que o será. Impossível, não. Sobretudo porque a alternativa poderá ser um alargamento do conflito, com todos os custos e consequências que tal opção possa acarretar.
A deslocação de António Guterres à Ucrânia foi positiva. Permite-lhe espaço para um papel mais interveniente e visível. A visibilidade no mundo de hoje é algo de muito importante. A guerra – e a construção de uma alternativa de paz – passa-se em frente dos nossos olhos. O secretário-geral não pode ignorar esse facto.
Vladimir Putin lançou hoje uns mísseis sobre Kyiv, coisa que não fazia há tempos. Ao fazê-lo no dia em que Guterres estava na cidade quis claramente enviar uma mensagem: quem decide o futuro sou eu! Foi uma mensagem muito negativa, que mostrou sem equívocos que ele, Putin, só reconhece a lei da força.
Fiz vários comentários para a comunicação social sobre a missão de Guterres. Não vou agora aqui repeti-los. Mas irei retomar alguns dos pontos que levantei nos próximos posts.
António Guterres passou o dia em Moscovo, para um encontro de trabalho com Sergey Lavrov e uma audiência com Vladimir Putin. À hora a que escrevo, a reunião com Putin ainda não teve lugar.
Tudo deixava prever que seria um dia difícil para o Secretário-geral da ONU. Mas não havia outra saída, para além desta deslocação. Era preciso fazê-la e iniciar, com a sua realização, um outro tipo de protagonismo para o secretariado-geral das Nações Unidas.
Guterres não parece ter conseguido nenhuma promessa concreta. Os dirigentes russos continuam a apostar na via militar. Por isso, a ideia inicial do Secretário-geral – batalhar por um cessar-fogo – não foi avante. Guterres teve apenas a oportunidade de repetir – e isso foi muito positivo – que a acção russa era uma invasão, aos olhos dos Estados-membros da ONU. E de insistir na prioridade humanitária, a de salvar vidas e evitar o sofrimento humano em larga escala.
Em resumo, continuou a associar o secretariado das Nações Unidas à dimensão humanitária. Parece-me insuficiente. Falta sublinhar a missão política que cabe ao secretariado e ao seu Secretário-geral. No entanto, no conjunto, António Guterres foi corajoso e disse claramente que a Rússia havia violado e continua a violar a Carta das Nações Unidas.
Apesar do resultado obtido por Marine Le Pen ser próximo dos 42% dos votos expressos, seria um erro dizer que que cada um desses votos é da extrema-direita. Uma parte dos que votaram a seu favor fê-lo para marcar a sua oposição a Emmanuel Macron. Uns, por causa do estilo do presidente, outros por não apoiarem a sua proposta de aumentar a idade da reforma para os 65 anos, outros ainda por verem em Macron um defensor da globalização e assim sucessivamente. O voto em Le Pen foi a maneira de mostrar o seu desagrado.
Uma análise dos resultados da primeira volta permite uma conclusão mais acertada sobre o peso da extrema-direita. Somando os resultados obtidos pelos candidatos dessa área, temos 32,53% dos franceses a votar radicalmente à direita. Esse valor é preocupante. Quando um em cada três cidadãos vota dessa maneira, algo está errado nessa nação. É isso que precisa de ser entendido. A começar pelo facto de que uma boa parte desses votantes pertencem ao operariado e às classes com menores rendimentos. Outrora, muitos deles votavam pelos comunistas e pelos socialistas. Mas esses partidos tradicionais desapareceram do leque político nacional. E o partido de Le Pen, que é uma salganhada ideológica, oferece um ponto de ancoragem política a essas pessoas.
Emmanuel Macron não vai ter uma tarefa fácil. O conjunto dos votantes antissistema, todos os extremismos confundidos, representam cerca de 56% da população. É muita gente. E para além de Marine Le Pen, Macron terá de se haver com Jean-Luc Mélenchon, um demagogo da extrema-esquerda. Mélenchon está a preparar uma campanha eleitoral para as legislativas de junho que poderá ter um sucesso relativo importante. A principal tarefa de Macron, até junho, será a de criar um espaço de convergência ao centro, de modo a diminuir as votações em Le Pen e Mélenchon. Não será fácil.
Vista de onde me situo, não sendo francês, considero a vitória de Emmanuel Macron uma excelente notícia para a Europa. Macron sabe que o reforço da União Europeia é um objectivo estratégico essencial e que a contribuição da França é indispensável.
Não foi uma vitória fácil, depois de cinco anos de mandato que conheceram várias crises: os enormes desafios migratórios, o relacionamento conflituoso com a América de Donald Trump, a pandemia, nos últimos dois anos, e o confronto com a Rússia de Vladimir Putin. Tudo isso teve um impacto enorme na política interna francesa, na economia e nas condições de vida, bem como na criação de profundas fracturas sociais e culturais.
Até ao último momento, fiquei na dúvida sobre o que poderia ser o resultado desta eleição. As imensas complexidades que a sociedade francesa – e outras, na Europa – vive preocupam-me. E não sabia que impacto poderiam ter nas escolhas eleitorais.
Vivemos um período de incertezas e de confusão ideológica. Não o reconhecer, parece-me um erro significativo. As lideranças precisam de tratar estas questões com uma coragem e clareza que têm faltado. Veremos que tipo de segundo mandato Emmanuel Macron irá desempenhar.
Entretanto, desejo-lhe os maiores êxitos e a compreensão que este é um tempo que exige a construção de consensos.
O facto do Presidente Volodymyr Zelensky se ter dirigido ao povo português através de uma sessão solene na Assembleia da República honra a democracia portuguesa. E a nossa resposta foi clara: estamos com a Ucrânia e condenamos a agressão decidida pelo ditador Putin. Não pode, aliás, haver uma outra resposta, excepto para quem se alinha com as ditaduras e os criminosos de guerra. Houve um partido com uma expressão reduzida na AR que preferiu essa opção. Ao fazê-lo, mostrou não compreender onde estão os interesses nacionais vitais. Isso levou-o a tomar posição a favor do inimigo – Vladimir Putin. Numa situação de conflito como a que vivemos actualmente, que está a pôr em perigo as democracias europeias, esse posicionamento equivale a uma traição. E assim deve ser tratado.
Assisti às três horas de debate entre Emmanuel Macron e a sua oponente. A senhora esteve muito melhor e mais confiante do que em 2017. Isso só prova que é hoje um perigo bem maior.
A carta que cerca de 250 antigos funcionários superiores das Nações Unidas, incluindo vários ao nível mais elevado da carreira, nos quais me incluo, enviaram a António Guterres resulta da nossa preocupação com o impacto que a crise actual poderá ter sobre a organização, se esta não for mais arrojada em termos políticos. Existe um desafio “existencial”, afirmamos, que pode pôr em causa o futuro da organização, enquanto expoente máximo na defesa da paz e da segurança internacionais. Sem entrar em pormenores, a carta é acima de tudo um apelo para que o Secretário-Geral “apareça” politicamente.