Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Agora, interrompo a escrita até Setembro.
Cito de seguida umas linhas do texto.
"Não é apenas o autocrático Viktor Orbán que alega que as sanções têm um efeito boomerang e que acabam por prejudicar mais as economias da UE que a russa. Temos por aí gente boa que também vê a coisa assim. E alguns até se julgam mais espertos que os dirigentes europeus, que, entretanto, já aprovaram sete rondas de sanções contra o regime de Vladimir Putin."
O Príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, cheira a petróleo por todos os lados. Esse perfume é bem mais intenso que o cheiro a sangue, que tem nas mãos, por ter mandado assassinar o jornalista Jamal Khashoggi. E torna-o um convidado de luxo do Presidente Macron, com quem esteve hoje, em visita oficial à França. Na véspera, o Príncipe tinha estado na Grécia, um país onde a Arábia Saudita tem a intenção de investir à grande.
Em ambos os casos, os líderes europeus perderam credibilidade. E não terão ganho nada que não pudesse ter sido obtido, mantendo Mohamed bin Salman à distância.
Um dos obstáculos logísticos à implementação do acordo sobre a exportação de cereais ucranianos diz respeito aos seguros dos navios e da carga. Hoje, o principal consórcio de companhias seguradoras que opera a partir da praça de Londres anunciou que uma fórmula havia sido encontrada, de modo a permitir a concretização dos seguros. É uma boa notícia, mesmo sabendo que o prémio será mais elevado que o habitual. Assim, será possível, nos próximos dias, testar a validade do acordo, quando os primeiros navios se fizerem ao mar.
Creio ser útil voltar a falar sobre as sanções que a União Europeia e o G7 estão a impor à Rússia. Esse é um debate que não está concluído, apesar da UE já ter aprovado sete rondas de sanções. Os cidadãos que estão de acordo com as sanções são a maioria. Mas os que as criticam merecem ser tratados com atenção. A opinião pública deve ter uma visão clara do que se pretende obter.
A Junta Militar, que se apoderou ilegalmente do poder em Myanmar em fevereiro do ano passado, executou hoje quatro activistas que haviam lutado pela democracia e os direitos humanos. Como muitos outros, haviam sido condenados à morte numa farsa de julgamento à porta fechada. A sua execução quebrou um período de mais de três décadas durante o qual nenhuma pena de morte fora efectivamente levada a acabo. O que agora aconteceu faz prever que outras execuções venham a acontecer nos próximos tempos.
A indignação dos povos de Myanmar e da comunidade internacional é imensa, tão vasta como o choque que a notícia provocou. Myanmar é um país multi-étnico e os seus cidadãos têm mostrado uma coragem exemplar em oposição ao golpe de estado. Mais de dois mil cidadãos perderam a vida, em manifestações de rua, que são sempre brutalmente reprimidas pelas forças armadas e de polícia do regime militar.
O regime militar está praticamente isolado, na cena regional e internacional. Mas é fortemente apoiado pelo Kremlin. Para além dos russos, existe uma significa presença chinesa, já que um dos corredores mais importantes da Nova Rota da Seda – pipelines e caminho de ferro – atravessa o país de alto a baixo. Tive há tempos a oportunidade de o visitar e de ouvir as queixas das populações, que foram expropriadas sem qualquer tipo de indemnização e à revelia dos direitos adquiridos ao longo de gerações. Aqui, mais uma vez, existe uma clara divisão de tarefas: os russos fornecem o apoio militar e os chineses tratam da economia.
Quanto custa ao tesouro russo a agressão contra a Ucrânia? Essa é uma pergunta que deve ser feita, mesmo se a resposta não for totalmente clara. Uma fortuna, é a resposta mais acertada e falando apenas em termos financeiros.
Não creio poder dizer que exista uma estimativa fiável. Mas diria que os quatro mísseis que a Rússia lançou ontem contra o porto de Odessa custaram à volta de 6 milhões de dólares, ou seja, 1,5 milhões cada. Esse custo não inclui o valor da logística necessária para os lançar.
São apesar de tudo mais baratos que os Iskanders, o tipo de míssil mais frequentemente utilizado pelos russos. Esses custam à volta de 10 milhões de dólares por unidade. No total, estamos a falar de várias centenas de milhões de dólares por dia, gastos para agredir a Ucrânia.
Perguntou-me a jornalista que apresentava o jornal das 19:00 horas da SIC Notícias que estaria por detrás do bombardeamento russo do porto de Odessa, que hoje ocorreu. A pergunta era extremamente pertinente, tendo em conta que ainda ontem o Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, havia assinado um acordo em se comprometia a não atacar os três portos ucranianos por onde seriam exportados os cereais. Respondi que a Rússia quis, uma vez mais, lembrar que acredita acima de tudo no uso da força bruta e sistemática. A diplomacia é apenas praticada para enganar o parceiro.
Deveria ter acrescentado que não é fácil ler as intenções que circulam na cabeça de gente como Vladimir Putin. Mas é possível dizer que leitura fazemos do bombardeamento de hoje: que não se pode ter confiança nas promessas de Putin. Essa é, na verdade, a grande conclusão a que podemos chegar, sem grandes dúvidas e infelizmente.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
Cito de seguida duas frases desse meu texto.
"Não deve levar, todavia, à conclusão de que o multilateralismo está condenado à falência. Antes pelo contrário: é altura de aprofundar a reflexão sobre a atualização do sistema multilateral."
Mario Draghi é um patriota e um homem de Estado. Como o é igualmente o Presidente da República, Sergio Mattarella. Outros, como Matteo Salvini, Giuseppe Conte, Giorgia Meloni e o sempre-em-pé Silvio Berlusconi, são meros oportunistas políticos. E, nalguns casos, extremistas de direita. Representam a face pior da política. A Itália está nas mãos desses indivíduos. Lamentavelmente, em péssimas mãos.
Sergei Lavrov, o feroz ministro dos Negócios Estrangeiros de Vladimir Putin, veio hoje confirmar aquilo que já se percebia: a agressão tem objectivos que mudam com os tempos, mas no essencial, trata-se de um projecto de conquista militar para anexar à Rússia o máximo possível de territórios ucranianos. É um claro voltar aos tempos antigos, em que os países se atacavam uns aos outros com objectivos territoriais e de domínio de mais populações. Ou seja, é uma violação descarada e inaceitável da ordem internacional que tem estado em vigor desde 1945. Com a agravante do Estado violador ser um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.