Este é o link para a crónica que hoje publico no Diário de Notícias.
"A extrema-direita está a ganhar terreno no espaço europeu. Surge, assim, uma questão muito direta: o que leva os eleitores a votarem por Meloni ou pelos seus aparentados, nestes diferentes países? Personalizo e digo Meloni, como diria Orbán ou Le Pen, ou mesmo Ventura, porque estes partidos são, de um modo geral, construídos à volta de uma personagem política, que encabeça a agremiação e procura fazer coincidir a imagem do partido com a do líder. Ainda agora, Fratelli d"Italia nos mostrou este facto: o nome da dirigente aparece primeiro e é escrito em letras mais gordas do que o nome do partido. O partido é uma mera câmara de eco, que existe apenas para repetir e amplificar a mensagem do chefe. Nestes partidos extremistas não existe um diretório político. O líder é o pastor de um aglomerado de carneirinhos, ao qual se misturam alguns lobos esfomeados de poder."
António Guterres afirmou hoje, com toda a clareza e muita coragem, que a anexação dos territórios ucranianos pela Rússia de Putin é ilegal e deve ser condenada. Cria igualmente um nível de perigo bem mais elevado para a paz internacional.
Partilho inteiramente a sua posição. Esta nova situação pode levar a um novo patamar de violência e ao alastramento da guerra. Putin é um criminoso sem limites e não hesitará, se achar que é preciso passar a um conflito generalizado, com armas de destruição maciça.
Amanhã estaremos mais próximo de uma guerra entre a Rússia de Putin e uma parte do Ocidente. Se continuarmos assim, estaremos a caminhar para uma confrontação muito séria. Infelizmente, parece-me que assim continuaremos.
A escalada das tensões com a Rússia continua. Prevê-se agora uma nova vaga de ataques cibernéticos. Essa é uma área que exige uma vigilância muito séria, muito atenta.
Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram sabotados. As explosões só podem ter sido organizadas por comandos especiais, ligados às forças armadas de um país. Não se sabe ainda qual terá sido esse país. Mas a sabotagem aconteceu na altura em que estava a ser inaugurado o pipeline entre a Noruega e a Polónia, que permitirá aumentar substancialmente as importações de gás norueguês, em alternativa ao russo. Estas coisas não acontecem por acaso. A escolha do momento, das datas, faz parte do impacto que se pretende obter. Como também a escolha do local visado. Os ataques contra esses dois gasodutos ocorreram na mesma zona por onde passa a conduta vinda da Noruega. Dir-se-ia que a mensagem é: vejam bem, temos capacidade operacional para fazer saltar o pipeline.
Os russos dizem que não foram os autores destas sabotagens. Uma análise dos possíveis impactos e mensagens políticas que uma acção destas provoca, ou tem a intenção de provocar, faz-me pensar, no entanto, que a possibilidade russa é a mais forte. É um aviso aos europeus e além disso, mais um factor de perturbação dos mercados do gás, que, entretanto, subiu de preço – 20% mais caro. A arma económica é um dos instrumentos da nova maneira de criar e gerir conflitos.
Hoje um velho lobo da política portuguesa, que também foi deputado no Parlamento Europeu, disse numa entrevista a um programa de rádio que só agora ouviu falar de Giorgia Meloni. Achei estranho, eu que já aqui escrevi sobre ela em tempos passados, e fiquei a pensar qual poderia ser a razão desse desconhecimento, por parte de alguém que está sempre pronto para dar uma opinião.
Meloni, que deverá ser a próxima primeira-ministra de Itália, tem vindo a crescer politicamente desde 2018. Representa uma parte da opinião pública italiana – um em cada quatro eleitores italianos – que é ultranacionalista e de inspiração extremista de direita. Mas representa, acima de tudo, um eleitorado confuso, radicalizado, uma pequena burguesia incapaz de aceitar que a Itália vive sobretudo à custa de uma enorme dívida pública, a que se junta um certo nível de corrupção, baseada nos favores políticos. A Itália vive, em certa medida, numa fantasia económica e social.
Não terminar o dia sem deixar uma palavra de homenagem às mulheres do Irão que lutam contra a ditadura dos aiatolas primários. A interpretação da religião que estes indivíduos tentam impor não diz respeito apenas ao controlo do poder político. É isso e uma leitura da vida em sociedade absolutamente retrógrada. É também uma forma de nacionalismo idiota, que tenta fazer a diferença entre o conservadorismo que se pratica na Arábia Saudita e no Irão. Tudo isso é simplesmente inaceitável.
As imagens que nos chegam dos chamados referendos organizados pelos ocupantes russos e os seus acólitos nas quatro regiões da Ucrânia mostram claramente que se trata de farsas, sem qualquer valor legal nem democrático. Os objectivos de Vladimir Putin são pelo menos três: poder destacar para essas regiões os reservistas agora recrutados à força; aumentar a cartada quando um dia as negociações de paz tiverem lugar; intimidar os países ocidentais, para que deixem de fornecer armas às forças armadas ucranianas. Tudo o que Putin faz tem sempre várias dimensões. Não pode ser visto com olhos de amador.
Este é o link para o meu texto de hoje/desta semana no Diário de Notícias.
Cito umas linhas, como já é habitual: "Este segmento da Assembleia Geral (AG) trouxe a Nova Iorque um grande número de chefes de Estado, de governo e de ministros dos negócios estrangeiros. Não vieram apenas por esta ser a primeira assembleia inteiramente presencial, depois das restrições impostas pela pandemia do coronavírus nos dois anos anteriores. Vejo na grande afluência deste ano, e na azáfama diplomática que decorre em simultâneo com o plenário, indicadores claros da importância que muitos países continuam a atribuir ao pilar político das Nações Unidas."
A Assembleia Geral da ONU deste ano tem estado a despertar uma atenção mediática muito superior ao que é habitual. Será por estarmos no meio de uma crise bem complexa, ao nível internacional, e assim, de repente, as pessoas apercebem-se de que o sistema das Nações Unidas é um ponto de encontro que poderá abrir vias de saída para a crise? Não sei. Mas a verdade é que existe uma inquietação muito séria sobre o futuro imediato. Aquilo a que António Guterres chamou “um inverno de descontentamento”.
Vladimir Putin resolveu agravar a situação: uma escalada muito clara e muito perigosa. Seria um erro não o levar a sério. Ou seja, é preciso encontrar maneira de o travar, para que não continue num percurso que leve a um desastre ainda maior. Nenhum país pode ficar indiferente quando existe uma ameaça bélica deste tipo. Ontem o Presidente Erdogan disse que era preciso, para se resolver a crise, que as tropas russas saíssem do território ucraniano ocupado. Outros já o haviam dito antes. Mas ter Erdogan a dizê-lo também é muito significativo. Os indianos já haviam dito algo semelhante. A pergunta é agora dirigida aos chineses: quando tencionam ser claros, evitar a ambiguidade em que têm saltitado? Este não é tempo para esse tipo de ambiguidades.