Aqui em casa, a minha mulher e eu, quando residentes na Bélgica, assinámos um documento oficial, um documento por pessoa, que ficou arquivado na nossa câmara municipal, declarando que optaríamos pela eutanásia, segundo os casos previstos na lei e na hipótese de já não estarmos, nessa altura, em condições de decidir conscientemente. E continuamos a acreditar que essa foi a decisão correcta. E mais ainda, que com o avançar da idade, poderá ser uma decisão necessária. O fim de vida deve acontecer com toda a dignidade que uma vida bem vivida merece.
Como já aqui o disse, sou a favor da eutanásia medicamente assistida. E fico à espera da lei portuguesa que a permita. Entretanto, com todos os vetos e pedidos de esclarecimento do Tribunal Constitucional, no dia em que esse diploma legal for finalmente aprovado vai certamente ser a lei mais bem elaborada do mundo. É verdade que, entretanto, o tempo vai passando. E quem sofre de modo insuportável terá de ter paciência. Felizmente que este é um país de gente paciente. Aprende-se a ser paciente quando a maioria das coisas não funcionam e também quando os poderosos só aprovam coisas destas quando a inspiração divina lhes chega do céu.
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias.
Cito umas linhas de seguida.
"Quem tem uma visão clara, sabe que a resolução da crise actual passa por dois marcos: a restauração das fronteiras da Ucrânia, de acordo com a ordem internacional, e o restabelecimento das relações de cooperação com o povo russo. O Ocidente não quer nem derrotar nem humilhar a Rússia. O que está em jogo é punir os criminosos de guerra e ajudar aquele grande país a construir a sua forma de democracia, que tenha em conta a multiplicidade étnica do seu imenso território e as liberdades fundamentais dos cidadãos."
A decisão da construção e o custo exorbitante do altar papal são dois erros políticos enormes. Carlos Moedas, os vereadores da CM de Lisboa que aprovaram o projecto e a Igreja Católica mostraram uma enorme falta de sensibilidade política e uma total ausência de prudência orçamental. A cidade tem vários recintos que podem ser utilizados para a missa papal, sem custos adicionais ou com ligeiras adaptações, com orçamentos modestos. Por isso, a decisão deve ser anulada e a questão pensada noutros moldes.
A decisão do Chanceler Olaf Scholz sobre os tanques Leopard 2 merece ser reconhecida, apesar da ter demorado algum tempo antes de ter sido tomada. E o facto de fornecer carros de uma geração mais moderna, a A6, tem também muito mérito.
Esta decisão vai libertar muitas outras dádivas que estavam na forja, a começar pela que virá da Polónia. Veremos, agora, qual será o número total de tanques que chegarão à Ucrânia. Esse é um dado importante.
O Kremlin irá reagir, mas penso que será sobretudo uma reação verbal. As forças armadas russas têm muitos problemas por resolver. E estão em disputa com os mercenários da Wagner. Estes, segundo certas fontes de informação, estão com dificuldades logísticas e com problemas humanos, pois perderam uma grande quantidade de combatentes nas últimas semanas, nas campanhas de Soledar e de Bakhmut. Mas, sobretudo, perderam influência junto de Vladimir Putin.
A credibilidade actual do governo é tão baixa que fico com a impressão que o país está a navegar ao sabor do vento, sem ninguém ao leme. É impressionante como António Costa deixou chegar a governação a esse ponto. Serão poucos os que ainda acreditam na sua capacidade de dirigir a equipa governamental.
Para complicar as coisas, do outro lado da barreira passa-se o mesmo. Montenegro não consegue projectar uma imagem de liderança que inspire um mínimo de competência. E a Iniciativa Liberal revelou, durante o fim de semana, na sua convenção nacional, que não passa de um saco de gatos assanhados, que não se entendem entre eles. Devo confessar que o nível de conflito no interior da IL foi uma surpresa. E as rivalidades entre os seus dirigentes não inspiram nenhuma confiança.
Como dizia recentemente um amigo meu, os problemas da democracia em Portugal estão na falta de nível dos dirigentes partidários e na ganância que inspira os militantes a inscreverem-se nos partidos. Isso, depois, leva à falta de empenho patriótico e ao desinteresse pelo desenvolvimento do país.
A fragata NRP Bartolomeu Dias seguiu o navio russo Almirante Gorshkov durante mais de uma semana, no Atlântico Norte, incluindo em zonas de grandes tempestades marítimas. Foi uma missão fundamental, no quadro da NATO e na protecção dos nossos interesses e valores. A fragata Gorshkov transporta os novos mísseis hipersónicos russos, que são altamente perigosos. Estava previsto que seguisse ao longo da costa portuguesa e depois, entrasse no Mediterrâneo. Mas essa informação russa era falsa. Pretendia esconder o verdadeiro destino do navio, que aparentemente era o norte do Atlântico, para estar fora dos radares e pronta para atacar, se fosse decidido pelo Kremlin que o deveria fazer.
A Bartolomeu Dias ainda não regressou ao Continente, pois estava a milhares milhas da sua base no Alfeite. Estava bem para lá dos Açores, onde fez agora escala, no percurso de regresso, tendo concluído a sua missão e entregue a tarefa a outro navio da NATO.
O Presidente da República deveria visitar a tripulação, uma vez de regresso, e agradecer pessoalmente, em nome do país, o esforço que a tripulação fez durante estes muitos dias de vigilância do navio russo, em águas altamente perigosas, por causa do mau tempo. E também perigosas, em virtude da natureza da fragata russa em questão.
Link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
Cito o último parágrafo do meu escrito.
"O que considerei errado foi o alinhamento acrítico da presidente da Comissão Europeia com os EUA nas referências à competição económica com a China. Na realidade, há agora mais rivalidade e entraves vindos dos EUA que do lado chinês. Basta pensar na nova lei de Biden sobre os apoios financeiros aos investimentos tecnológicos que sejam feitos nos EUA, o chamado Inflation Reduction Act de 2022. Von der Leyen e os outros dirigentes europeus não devem transformar mecanismos como o de Davos em plataformas de ataque contra tudo o que não venha da esfera de influência ocidental. Davos pode ter muitos defeitos, mas tem oferecido a vantagem de ser um ponto de encontro e de facilitar o diálogo entre os poderosos provenientes das diferentes partes do mundo. E esse diálogo, num tempo de policrises, para utilizar a expressão de Schwab, faz hoje mais falta que nunca."
A comparação que Sergey Lavrov fez entre o Holocausto e o apoio que certos países estão a fornecer à Ucrânia, para que se possa defender da agressão russa, é simplesmente inaceitável. Ninguém quer destruir a Rússia ou acabar com os russos. Pede-se-lhes, apenas, que se retirem dos territórios que pertencem à Ucrânia e que assumam a responsabilidade dos crimes de guerra entretanto cometidos.