De Fátima a George Soros
Disse recentemente que somos um país mais perto de Fátima do que da capital, Lisboa. Assim o penso. Boa gente, não tenhamos dúvida, mas que acredita mais nuns pastorinhos de um Portugal antigo do que nos valores que nos podem abrir as portas do futuro e do mundo.
Hoje, no meu voo para a Europa, viajavam mais de quarenta peregrinos, em trânsito por Bruxelas para a Terra Santa. Vinham de uma paróquia perto de Lisboa, na linha de Cascais. A idade média deste grupo devia rondar os setenta. Os indicadores exteriores de riqueza pareciam revelar poder de compra, sem grandes preocupações. Não entendiam as instruções do pessoal de cabine, nem em francês nem em inglês. Mesmo num trajecto tão simples, estavam perdidos. Perguntei ao organizador, um homem na casa dos quarenta, com toda a aparência de ser um português de raízes judaicas, que iria acontecer a esta gente, quando fossem entrevistados pelos serviços de segurança em Tel Aviv. O aeroporto dessa cidade é dos mais rigorosos do mundo. Talvez, mesmo, o mais exigente. Sorriu, levantou os olhos para o céu, como que para dizer que uma boa mistura de fé e de ingenuidade acaba por produzir milagres.
George Soros não é homem de milagres, embora tenha ganho, no início dos anos 90, cerca de mil milhões de dólares numa especulação monetária contra o valor da libra inglesa. Quem tem os olhos abertos pode dispensar um milagrezinho. Soros acaba de criar, depois de muitas outras iniciativas de grande sucesso, como a fundação Open Society, uma nova instituição, um centro de reflexão de muito alto nível, sobre as novas maneiras de pensar a economia mundial. Chamou-lhe Institute for New Economic Thinking. A cerimónia de lançamento deste think tank, na Europa, teve lugar este fim-de-semana, em Cambridge. A famosa universidade. Vale a pena ficar com um olho apontado para esta matéria. É assunto de grande actualidade. Fica, no entanto, muito longe de todas as outras peregrinações, de Fátima ao Monte das Oliveiras.