De olhos fechados
Comprei uns bens de primeira necessidade no supermercado, nada de excepcional nem nenhum luxo, e fiquei com a conta atravessada na garganta. Não queria acreditar que o total fosse o que estava na factura, mais de 160 Euros. Ao chegar a casa, tive a paciência de adicionar cada linha, continuava a não aceitar a evidência do total. Cheguei ao mesmo valor. A máquina do supermercado estava correcta.
O que não está certo é a relação entre o custo de vida e os rendimentos médios das famílias portuguesas. Comparei os preços com aquilo que pago na Bélgica, e digo-vos, são idênticos. A qualidade será, nalguns casos, inferior ao que se encontra em Bruxelas. Mas a grande diferença está nos salários.
Entretanto, com a crise grega a agravar-se para além das fronteiras do razoável, com as estatísticas oficiais a mostrar que os dados anteriores tinham sido trabalhados pelas autoridades de Atenas, para esconder a gravidade da situação, o risco de contágio está a ficar vez mais elevado. O primeiro elemento desse contágio é a falta de credibilidade dos governos em causa. O nome de Portugal aparece com maior frequência nas declarações públicas dos que falam sobre a Europa e a crise.
Estamos a entrar num período de alto risco.
A economia é uma questão de imagem e de confiança. A erosão dessas duas dimensões, como poderá vir a acontecer, vai acabar por fragilizar ainda mais a nossa situação. Temos consciência disso?