Cimeiras e ansiedades
O dia começou, como sempre, do outro lado do mundo. Só que desta vez, foi com a Cimeira do G20, em Seul. Uma reunião sem muito ânimo, o que não impediu a aprovação de um comunicado final, com vinte e três páginas. O trabalho dos "Sherpas", os assessores que preparam estas coisas, foi mais produtivo do que o dos seus chefes. Mesmo assim, ainda houve espaço para tentar convencer os participantes a dar um segundo mandato a Ban Ki-moon. 2011, lá para Outubro, vai ser o momento de eleger um novo SG para a ONU. Os Coreanos procuraram aproveitar a estada de gente tão influente na sua capital para dar a entender, de modo claro, que continuam a apostar no seu homem.
Depois, soube-se em Moscovo que um Coronel, patrão da secção americana da espionagem exterior, o Departamento S, como é conhecida a secção, no Serviço Federal de Segurança, se tinha passado para o lado americano. Foi ele quem revelou os nomes dos onze espias que haviam sido presos em finais de Junho, nos EUA. Ainda bem que o fez, pois permitiu à indústria da imagem e da coscuvilhice descobrir a bela Anna Chapman. O problema é que os dirigentes russos não acharam graça a essa transparência do Coronel. Agora anunciaram que Vladimir Putin já encomendou a execução, se o apanharem, desta personagem estranha, de nome impronunciável e em paradeiro incerto.
Este anúncio de que cá se fazem cá se pagam surge num momento muito oportuno. Dentro de dois dias, os Presidentes Obama e Medvedev têm uma cimeira bilateral em Yokohama, no Japão. E estarão de novo juntos em Lisboa, falta uma semana. Nada melhor do que anunciar-se uma expedição punitiva, a ser executada talvez em solo americano, para tornar a agenda destes encontros mais atractiva.
Também houve uma reunião de urgência dos ministros das finanças da Alemanha, França e Reino Unido, para ver como vão responder ao agravamento acentuado da crise financeira irlandesa. Enquanto as atenções se fixam na Irlanda, folgam as costas do nosso Santos nacional.
Mas o mais interessante acontecimento do dia terá sido a venda em leilão de um vaso chinês do século XVIII. Londres continua a ser a capital dos leilões e o vasinho lá foi, por 43 milhões de libras. Comprado por um homem vindo de Beijing. Ou seja, o dia acabou como havia começado. No Oriente. Agora já não se pode falar do perigo amarelo. Mas de um mundo de olhos em bico, creio que sim.