Os corredores do poder
Copyright V. Ângelo
Não há motivos para surpresas.
Pedir a um partido, que só existe porque congrega os votos do protesto com os da frustração, a que se juntam mais uns pós de simplismo moralizador, que tenha, na Assembleia da República ou fora dela, uma política madura e responsável, é como pedir a um alcoólico que se mantenha sóbrio.
Como também não é surpresa que os mestres do governo aproveitem a ocasião para, tal como donzela manchada, atacar aqueles que são, de facto, sem mais, com todas as suas fraquezas, uma alternativa de poder. Nenhum maroto gosta que lhe chamem maroto em público. Mas, se é um maroto esperto, sabe bem onde focalizar a sua indignação de patife ofendido.
Ver a principal oposição a vacilar, também não tem nada de novo. Faz parte da falta de liderança política, da fragmentação que caracteriza o agrupamento.
Não será igualmente surpresa ver os profissionais do comentário político, gente de muitas palavras e pouco crédito, passar horas, nas televisões e nos jornais, a interpretar uma irresponsabilidade. Na aldeia que nós somos, os compadres falam do que sabem, das coisas pequenas, do que passa pelo adro da igreja.
Dizer que, lá fora, a nossa imagem fica pior com um anúncio de uma jogada parlamentar sem pés nem cabeça, é um exagero. Quem segue a situação, nas principais praças, sabe o que vale uma bagatela desse género.
Os corredores do poder deveriam convidar à serenidade. E à reflexão.