Uma posse sem posses
O discurso de tomada de posse de Cavaco Silva tem umas partes técnicas, que talvez não fossem necessárias numa intervenção deste género, sobretudo as referências às variáveis macroeconómicas, mas também tem uma série de verdades políticas. No conjunto, faz um bom diagnóstico da situação, dramática, no meu entender, em que se encontra o país.
Só razões de mero partidarismo, que não são razões ideológicas, mas sim de clubismo, podem levar a que não se aceite o que o Presidente disse esta tarde. Os eternos optimistas, que na realidade o não são, fingem, apenas, pois sabem bem em que ponto se encontra Portugal, juntam-se assim aos estreitos de ideias e aos psicopatas do radicalismo pouco inteligente e dizem que não gostaram.
Entretanto, os mercados mostraram, hoje, que não acreditam em economias falidas e em governos manhosos ou incompetentes. Os juros que exigem a Portugal, à Irlanda e à Grécia revelam o que muita gente, influente nos negócios internacionais e na política global, pensa desses países.
A Espanha e a Itália têm uma imagem apenas um pouco melhor.
Nestas circunstâncias, a cimeira do euro, nesta Sexta-feira e a de toda a UE, mais perto do final do mês, não vão conseguir chegar a um acordo sólido e credível. É que os problemas dos países europeus em crise são bem mais profundos do que as medidas de austeridade parecem fazer crer. São problemas estruturais que só poderão ser resolvidos com base em grandes reviravoltas em cada um dos países em causa.