Infelizes os pobres de espírito...
Portugal transformou-se, nas últimas semanas, num país de revoltados. Do tipo miudinho, de trazer por casa, de espreitar por detrás da cortina da janela.
Há muito tempo que não se via um Portugal tão consensual. Pode ler-se a imprensa à direita ou à esquerda, todos dizem o mesmo, quando se trata da crise. Já não é preciso pegar no Avante, basta ler o Expresso, os ataques às medidas orçamentais do governo são mais ou menos idênticos. Todos falam de roubos, de direitos adquiridos, de ir buscar o dinheiro onde ele parece estar, toda a gente comenta o que os outros recebem, a política tornou-se num exercício de imaginação, que vai buscar uns cobres ali e outros acolá. Imaginem. Ninguém vai ao fundo da matéria e propõe um orçamento diferente, que certamente haverá.
Sofremos de uma mentalidade de funcionários e de empregados, quando poderíamos ser empreendedores e criativos.
Todos parecem saber subtrair e dividir, ninguém pensa como será possível adicionar e multiplicar a pouca economia que existe.
Ora, é preciso pensar no futuro. Ultrapassar a pobreza social e a pobreza de ideias, ver quais são os caminhos do crescimento económico. Não podemos aceitar uma pobreza melhor repartida como solução. Justiça social na miséria é política de falhados, apenas conduz ao sofrimento generalizado. Temos que lutar por uma economia de ponta, nas engenharias ou na agricultura, na indústrias criativas ou na pesca, na pequena empresa ou no investimento estrangeiro, por um serviço público que dinamize e abra oportunidades, que seja justo no crescimento, inventivo e motivado, patriota na relação com o exterior.
Na verdade, continuamos a ser dirigidos por rurais de outros tempos, regedores de freguesia, nobres da aldeia da serra, que ora passavam o tempo a pensar nas mordomias ou se entretinham a invejar a galinha do vizinho.
Não será altura de se passar a ter uma visão mais ampla das coisas?