Anda à prata, mas com a corda na garganta
Sem que se fale nisso, pela calada, Portugal entrou, nestes últimos dias num patamar de alto risco. O custo de financiamento da divida pública a longo prazo passou a ser muito alto - da ordem dos 19%, a cinco anos de maturidade. O risco do nosso incumprimento é agora estimado em 65%, também a cinco anos. Ou seja, é um risco demasiado elevado, com um grau de probabilidade muito sério, que não permite aos grandes investidores institucionais internacionais comprar obrigações do tesouro portuguesas.
Quando se entra numa situação dessas, na espiral da morte, estamos perante uma catástrofe nacional. Só uma mudança radical de política, acompanhada por uma mobilização nacional, pode salvar a loiça e a mobília.
Quem tem medo de falar nisso?
Entretanto, a curto prazo, a três meses, ou a onze, é possível encontrar muitos compradores para as emissões que iremos fazendo, como hoje foi feito. Os compradores são sobretudo os bancos nacionais, que irão beneficiar de um juro à volta dos 4,5%, a pagar pelo tesouro português. Com esse papel, os nossos bancos vão a Frankfurt, dão-no como garantia ao Banco Central Europeu, recebem dinheiro fresco do BCE ao custo de 1%, que vão voltar a aplicar em mais papel de curto prazo ou em empréstimos leoninos às empresas, e ganhar algum. Tudo no curto prazo. Tudo para ganhar algum, rápido, ou enriquecer depressa, insustentável, porém, para a economia nacional.
Ou seja, a longo prazo estamos arrumados, mas a curto prazo há quem vá ganhando muita prata.