Conduzir no deserto das SCUTs
Vilar Formoso. Nada indica, à entrada, que é preciso comprar uma senha de pagamento das portagens automáticas da ex-SCUT, a única via possível para quem se dirige para o Norte, Centro ou Sul de Portugal.
Eu, como sabia, parei na rotunda, à procura do local de pagamento. Lá estava a máquina, com três ou quatro espanhóis, ninguém mais, os outros estrangeiros nem pararam, à volta dela. Disseram-me que não havia maneira de pagar, pois a coisa estava avariada. Um dos espanhóis acrescentou, não se preocupe, eu venho regularmente a Portugal, nunca pago e não me acontece nada por isso. Os portugueses são boa gente...
Perguntei a um habitante local qual poderia ser a solução. O homem disse-me, bem amável, cinco quilómetros mais à frente, na bomba da BP, pode pagar. Muito bem. Lá fui, passei o primeiro conjunto de pórticos sem pagar, parei na estacão de serviço. Dirigi-me à loja: fechada, "temporariamente"...
Continuei a minha viagem, passei mais uns pórticos electrónicos, e já na área da Guarda, voltei a parar na bomba local, para tentar cumprir o meu dever, ou pelo menos, obter alguma indicação. A estacão de serviço estava vazia, aliás, como a auto-estrada, de Norte a Sul, um vazio que dava dó, sem actividade económica nem vida. A menina de serviço, entenda-se bem o que quero dizer, disse-me, como vai para Lisboa pode pagar em Abrantes, duzentos e tal quilómetros mais abaixo...
E assim foi. Fui passando pórticos, diria de cinco em cinco quilómetros, sem pagar. Em Abrantes, na área de serviço, devo ter sido o único a parar para pagar. 10,62 euros.
Pensei muitas coisas sobre tudo isto. O investimento feito com dezenas de pórticos e de câmaras, a falta de informação, a ausência de tráfego na ex-SCUT, completamente às moscas, o impacto de tudo isto sobre o turismo, e assim por diante. Mas, o mais confrangedor, não foi ver a imbecilidade do sistema, já estamos habituados a decisões bacocas, mas sim o facto de toda a Beira Interior parecer estar parada, sem actividade, os campos meio abandonados e a vida à espera da boa vontade de quem vem de fora.