Sobre as elites
Dizia ontem a um general português que as forças armadas e a igreja são as únicas instituições em Portugal que têm conhecido alguma renovação das elites. Muitos jovens pobres mas inteligentes conseguiram ir longe, por essas vias. Foram as únicas que permitiram estudar sem ser os pais a comportar com o custo da educação.
Mas são vias de promoção de rapazes, apenas. E as elites que criam têm profundas raízes rurais, na maioria dos casos, mentalidades de aldeia. Noutros casos, menos, os quadros de referência dessas pessoas são os ligados à pobreza suburbana, a uma atitude de subserviência perante o poder económico, inspiradas na filosofia de vida "do que é preciso é a gente ir-se safando". São, na verdade, elites viradas para o passado e para a obediência, mais do que para o futuro e a imaginação.
As elites políticas, essas, renovam-se com muito mais dificuldade. Tem havido pouca mobilidade. As elites provenientes da pequeníssima aristocracia rural, habituada a rendas e às ideias conservadoras, continuam no poder. Nalguns casos, através de rebentos mais jovens, mas que são tão paroquiais na sua maneira de entender o mundo como o eram os seus pais.
A universidade já não produz elites. Cria massas de gente mal preparada. E alguns compadrios, aqui e acolá.