Um pouco de clareza
Os comentários da directora executiva do FMI sobre a Grécia e o pagamento de impostos tornaram-se "virais", deram a volta ao mundo, nos últimos dias. As reacções que provocaram incluíram repetidas referências ao facto de Christine Lagarde não pagar impostos sobre o salário que recebe do Fundo.
Sei que o FMI sempre foi muito generoso com a remuneração dos seus quadros. Nos países em que servi, as regalias do representante residente do FMI eram, de longe, superiores às dos outros funcionários internacionais. A razão que sempre me foi dada tinha a seguinte base: os salários e as outras vantagens provinham dos lucros obtidos com os empréstimos do Fundo, não eram o resultado das contribuições individuais de cada estado. Sem esquecer que os economistas do FMI eram muito cobiçados pela finança internacional, que estaria disposta a pagar-lhes vencimentos muito mais elevados. Era, por isso, importante oferecer-lhes uma remuneração aliciante.
Sei também, ao contrário do que se tem dito, que os funcionários internacionais deduzem - perdem - cerca de 20 a 23% do seu vencimento, retirados à cabeça pela ONU, como se se tratasse de um imposto sobre a remuneração. A maior parte dessa dedução é utilizada pelas Nações Unidas para compensar o Estado da nacionalidade do funcionário. Assim, cada vez que a ONU tirava um dólar, em sentido figurado, da minha remuneração mensal isso significava que a quota anual a pagar por Portugal, enquanto membro da ONU, baixava de um dólar. Independentemente do nome dado a essa retenção, para o funcionário a coisa assemelhava-se muito a um imposto que beneficiava o seu país de origem.