Ser claro
O uso do Facebook, por personagens do Estado, como meio de comunicação é uma faca de dois gumes. Em situações de crise nacional e de polarização extrema das opiniões deve ser evitado. Não promove o diálogo nem um melhor entendimento dos problemas. Permite, isso sim, baixar ainda mais o nível da discussão pública, dando uma plataforma a quem tem o insulto e os palavrões fáceis.
É isso que está a acontecer na página do primeiro-ministro português. O PM decidiu "ser humano" numa comunicação no Facebook. Foi um abrir da porta a milhares de comentários do mais diverso tipo. Os mais moderados são profundamente negativos. Politicamente, o PM não ganhou nada com a sua escrita. Perdeu, creio, uns pontos mais. Se tivesse havido uma sondagem de opinião, o seu nível de aprovação teria sido muito baixo, talvez perto de um só dígito.
Creio que é tempo de explicar aos cidadãos o que se passa. Mas o Facebook não é o veículo. E declarações "piegas", como a de agora, só envenenam ainda mais o ambiente.
Eu teria começado a narrativa desta maneira: em 2013, vamos gastar X, em termos das contas públicas. Esse X já inclui as seguintes reduções de despesa: A, B, C e D. A previsão de receitas será Y. Para que o défice fique dentro de um patamar aceitável, digamos, 4,5%, precisamos de mobilizar mais recursos: W. Para o conseguir faremos o seguinte: 1,2,3,4 e 5, tocando a todos.
E assim sucessivamente. Também diria que esta ou aquela medida que iremos tomar em 2013 resulta directamente de uma exigência dos nossos credores. E explicava que sem a sua adopção não será possível ter acesso a uma certa tranche de crédito. E mais e mais, tudo muito clarinho. Hoje, governar é saber comunicar.
Na verdade, o fundo da questão é simples: os portugueses precisam de uma política de verdade. É um erro pensar que irão engolir qualquer tolice que lhes seja ministrada.