O barbeiro e o médico
Cortar o cabelo, quando em Bruxelas, exige-me todo um ritual. O barbeiro é um velho italiano imigrado há décadas. É preciso telefonar, a marcar, pois ele não atende ninguém que apareça no salão sem ter marcação prévia. Já me aconteceu duas vezes, ao princípio, passar pela frente da sua montra, ver que estava livre e entrar, para levar em seguida com um não e com um recado.
Só recebe clientes de meia em meia hora, apesar de demorar menos de 15 minutos a cortar o cabelo mais necessitado. Tem concorrência a 50 metros, um salão com dois ou três barbeiros marroquinos, mas isso não lhe faz mossa. Os marroquinos pedem 10 euros por corte. O meu italiano, para mostrar a diferença e por saber que os belgas e os indivíduos como eu, que gostam de chegar a horas e ser aviados de imediato, sem esperas e bichas, não irão à concorrência, exige 16 euros. Uma importância significativa, se se considerar que não há recibos, e que são apenas uns minutos de trabalho.
Fui lá hoje.
Ontem, fora ao médico de clínica geral, a visita de rotina do semestre. O consultório está situado na rua ao lado do meu barbeiro. É de um jovem médico, flamengo, que vai melhorando o seu conhecimento da outra língua nacional a um bom ritmo. Muito atencioso que é com os pacientes. As consultas da tarde são, como no caso do mestre italiano, por marcação, de meia em meia hora. De manhã, e aqui reside uma diferença, recebe por ordem de chegada, sem aviso prévio. Cada consulta custa 24 euros. Não sei quanto é reembolsado pela segurança social belga, pois não pertenço ao sistema nacional de saúde. Mas aqui há recibo.
Fiquei a pensar que, nos tempos de agora, talvez seja melhor ser barbeiro que médico generalista.