Lembrar o Senegal
O taxista que me levou ao aeroporto, em Bruxelas, tem as suas raízes no centro do Senegal, numa cidade – Kaolack - de uma região árida, a meio caminho entre Dakar e Banjul, na Gâmbia.
Passei muitas vezes por Kaolack, mas não me lembro de alguma vez ter parado e saído do carro: quem quer visitar uma terra de pó e de cabras, um centro urbano perdido no meio de um descampado inóspito, uma cidade atacada por todos os lados pela pobreza e a desertificação?
Hoje, disse-me, a situação está ainda pior. Há mais areia e menos esperança. Como em muitos outros sítios do Sahel. As famílias vivem das remessas que os seus filhos lhes enviam do estrangeiro, que há senegaleses emigrados em todos os cantos do mundo.
No caso do meu taxista, 390 euros seguem mensalmente em direcção a Kaolack. Os seus irmãos e outros parentes mais chegados enviam também a sua parte. O destinatário é a irmã mais velha, que ficou e substitui, como chefe da família, a mãe de todos, entretanto falecida. A irmã funciona como o centro de uma família alargada, várias gerações que ficaram para trás. Recebe um total de 2400 euros de remessas mensais e com esse dinheiro cuida e faz viver e estudar mais ou menos sessenta membros da família. A sua casa de Kaolack é como uma aldeia dentro da cidade, onde mora tudo menos o futuro.