A terceira tese sobre segurança nacional
3. Existe uma lacuna no entendimento entre as elites políticas e as de segurança.
A minha experiência dos últimos anos permite-me verificar que um fosso similar existe noutros países da UE, não sendo esse pois um fenómeno unicamente português. No nosso caso, constato que a partir da segunda metade da década de 80 a liderança política de Portugal mostrou falta de sensibilidade para as questões militares e de inteligência. O diálogo dos responsáveis políticos com as forças de defesa e segurança passou a ser num só sentido e mais pobre de conteúdo. Deixou, mais exactamente, de haver diálogo, para passar a haver um monólogo, da responsabilidade de políticos que pouco ou nada conheciam sobre o assunto e a quem as forças não reconheciam subliminarmente autoridade substantiva na matéria. Alguns dos ministros e altos dirigentes civis do Ministério da Defesa nesses anos revelaram uma por vezes total desconexão com as chefias militares, escondendo mal muitas vezes a incompetência por detrás de um biombo erudito, mas revelador de soberba intelectual.
Hoje, analisando o processo à volta da elaboração do Conceito Estratégico de Defesa Nacional, podemos chegar, com agrado, à conclusão que há mais diálogo. Esse novo tipo de relacionamento precisa, no entanto, de ser institucionalizado. Noutros países, e o caso da Grã-Bretanha é um bom exemplo, os principais responsáveis políticos do governo, a começar pelo primeiro-ministro, sentam-se regularmente à mesa – nalguns casos, uma vez por semana - com as chefias militares, de inteligência e de polícia, no quadro de um Conselho Nacional de Segurança, para debater os riscos que vão surgindo e tomar medidas e acertar respostas, coerentes e coordenadas.
Portugal deveria seguir uma via semelhante, reforçando e elevando significativamente o que é hoje uma prática sem periodicidade fixa, ao nível apenas do ministro da Defesa Nacional e das chefias militares. Esta prática ad hoc precisa de passar a um escalão de responsabilidade diferente, tornar-se regular, amiúde e abrangente.