Tempo de abrir as gavetas
Quando a escrita é independente e não procura benefícios próprios, o desafio passa a ser o de escrever coisas inteligentes e pertinentes. E ir para além da crítica, do jocoso e do ligeiro, como tão frequentemente é o caso nestes dias. O país precisa de quem nos ajude a pensar de modo positivo, de ideias e de narrativas que despertem o que de bom existe em nós. Precisamos de imaginar o futuro, para depois o podermos construir.
Infelizmente, assiste-se a uma produção de frases e de pensamentos que são destrutivos, negativos e que não vão além do comentário mordaz. Portugal vive, neste momento, uma crise de confiança em si próprio, a que se acrescenta uma crise institucional, um governo fraco, grandemente impopular, e uma opinião pública que deixou de acreditar nos dirigentes.
Falava deste assunto recentemente com alguém de um grande diário nacional. E da necessidade de mudar, de trazer para a frente toda uma nova série de colunistas e fazedores de opinião mais frescos, arejados, capazes de sair do incesto de ideias negras em que andamos enredados. Disse-me que não havia, nem mesmo no seu jornal, coragem para tocar nos interesses estabelecidos. Sabia perfeitamente que vários dos que regularmente lá escrevem já não têm nada de novo para acrescentar. Continuarão, no entanto, a ter o seu espaço reservado, porque mudar as coisas exige uma capacidade de assumir responsabilidades que nem lá nem noutros sítios existe.
E assim fica tudo na mesma.
E quando surge algo que poderia ter algum potencial vai de imediato para a gaveta.